OS PROBLEMAS DE OBAMA (I): Em Julho e Agosto Obama não viu o seu apoio consolidar-se. As sondagens mantêm-no abaixo dos 50 por cento. Em eleições anteriores (a maior parte ganhas por republicanos), por esta altura, o candidato democrata tinha vantagens bem maiores que a de Obama (a convenção democrata é normalmente antes da republicana e os candidatos tradicionalmente ganham apoio a seguir às suas convenções, dada a exposição mediática que estas reuniões permitem). Obama começou por tomar algumas medidas que alienaram apoio junto dos jovens. Depois de ter prometido aceitar fazer a campanha apenas com dinheiro público recuou e recusou quaisquer fundos públicos que limitariam o montante total das suas despesas de campanha (um facto inédito nas eleições americanas). Fê-lo porque entretanto tinha montado a maior máquina de levantamento de fundos (sobretudo através da Internet) da história eleitoral americana. Esta decisão vinda de quem tinha, durante as primárias, fustigado a influência indevida do dinheiro e dos lobbistas na política não caiu bem em muitos jovens idealistas que tinham abraçado o discurso de regeneração política de Obama. Em seguida, os republicanos, de forma oportunista mas eficaz, lançaram para a campanha a necessidade de exploração de petróleo nas costas ocidental e oriental americanas bem como no Alaska como forma de ajudara reduzir o preço da gasolina. Obama opôs-se incialmente mas foi forçado a ter de moderar esta posição - num país totalmente dependente do automóvel, esta posição de intransigência (ainda que motivada por uma nobre e genuína intenção de forçar o desenvolvimento de energias alternativas) apareceu aos olhos do público como uma manifestação de fundamentalismo ambiental e de insensibilidade pelas dificuldades quotidianas da Middle America. Na escolha do Vice-Presidente, na minha opinião, Obama cometeu um erro estratégico que lhe pode vir a custar a eleição. É óbvio que depois de ter ganho as primárias por pouco mais de 50% dos votos, o candidato democrata a Vice-Presidente natural seria Hillary Clinton. Se apenas considerados os votos em eleições em urnas, descontando os resultados dos caucus (um método de mais do que discutível democraticidade e que favorece os mais organizados e militantes), Hillary teve mais votos nas primárias que Obama. Acresce que Clinton tinha apoio em importantes segmentos do eleitorado que nunca se deixaram encantar pelos dotes oratórios de Obama - católicos, latinos, operários brancos e mulheres. O senso comum e a verdade estabelecida nos media e pelos comentadores era que Obama não poderia escolher Clinton porque seria impossível governar eficientemente como Presidente com um casal de tão forte personalidade e importância na Vice-Presidência. Obama sucumbiu a estes argumentos. A sua escolha de Joe Biden sabe a pouco - acalma os falcões, o Petágono e a comunidade de relações internacionais mas é eleitoralmente irrelevante. E é sobretudo muito pior do que a possibilidade de ter Hillary como sua companheira de Campanha. Obama fez uma escolha por fraqueza - por reconhecer que as questões de segurança e internacionais eram um ponto fraco do seu CV, por confessar implicitamente a sua incapacidade em dominar o casal Clinton, mesmo sendo Presidente. Há quem argumente que a inclusão de Hillary retiraria força ao argumento de mudança (ela é a ultimate insider). Não concordo - não haveria mudança maior do que o primeiro Presidente negro e primeira Vice-Presidente mulher. Assim, Obama permitiu que os republicanos, com a sua escolha, reclamassem uma pequena parte do argumento "mudança histórica". Numa eleição em que a vontade de mudança é avassaladoramente dominante, abrir mão desta vantagem poderá custar caro a Obama.
Excelente série. Uma nota: fraqueza ( receio do ticket Clinton) ou receio de mudança excessiva ( um negro + uma mulher)? Inclino-me mais, por puro instinto, para a segunda possibilidade, mas tu é que sabes.
E HillaryRC, teria querido ficar em segundo plano? Ou preferido capitalizar mais tarde os ganhos desta campanha? São precisos dois para dançar o tango (ou a valsa, ou o que for). Também estou a gostar da série. Pequena observação mordaz quanto à Vice de McCain: quem diz prezar os valores familiares acima de tudo e conhece os media americanos e, ainda assim, aceita fazer parte do ticket sabendo que acim vai expor ao máximo a filha de 17 anos que atravessa uma situação delicada, está a sobrepor a tudo, afinal, a sua ambição pessoal. Atenção: acho perfeitamente legítima a ambição pessoal. Só não gosto de políticos que acenam bandeiras "hollier than thou" e depois agem manifestamente inspirados por outras (humanas) motivações. Aliás, concorrer à VP com um filho bébé com Down e outros quatro a reclamar (maior ou menor) atenção já era bastante esclarecedor. Será que, ao contrário de nós, simples mortais, a senhora se consegue sentar em duas cadeiras?
(ops! não é acim, é assim, mas como acima estava acima e o princípio é o mesmo, escorregou-me a mão no teclado. as minhas desculpas a quem leu pelo equivalente ortográfico do ranger de esferovite)
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