OS PROBLEMAS DE OBAMA (II): Mas o maior problema que Obama teve em Julho e Agosto foi uma espécie de Obama fatigue que se instalou. A campanha de Obama é poderosa e bem organizada, o candidato carismático mas, a certa altura, logo após a vitória o discurso esvaziou-se. O objectivo da campanha de Obama parecia não ser eleger um Presidente mas produzir um "momento histórico" por semana. O tema foi durante semanas não os problemas e desafios dos americamos, mas o movimento Obama em si próprio - o auto-contentamento era óbvio e difícil de resistir. Pressentindo isto, Obama tenta agora emendar a mão e optou por um discurso na Convenção mais tradicional. Foi mais pragmático e menos idealista. A coisa começou a levantar voo quando Hillary declarou a sua desistência em Julho. No discurso de vitória, Obama jurou que gerações futuras olhariam para este dia como o dia em que o ataque sério e consequente ao aquecimento global tinha começado, veriam este dia como o dia em que os oceanos pararam de subir (!?). Culminou num périplo à Europa que, visto da América, foi completamente pretensioso e desproporcionado - um candidato ainda não indigitado comportou-se como um Presidente já eleito (admito que, dado as simpatias que Obama goza na Europa, a visão europeia tenha sido outra). Em Denver, Obama optou por um discurso mais típico de um candidato democrata. Fez propostas mais específicas (se bem que nem todas quantificadas ou quantificáveis). Acalmou o seu registo abstracto e idelista. Foi um discurso brilhante perante este pano de fundo. O desafio para Obama é pois manter a chama do seu idealismo sem parecer pretensioso nem se tornar cansativo e lunático. O perigo que corre é que este novo Obama mais pragmático soe mais ensaiado, condicionado e menos natural. As eleições ainda ainda são um referendo sobre ele. A maioria dos americanos quer votar em Obama e irá escrutiná-lo para superar ou reforçar as suas dúvidas. Mas de uma coisa estou certo: como a nomeação de Sarah Palin demonstrou, os republicanos e McCain estão dispostos a actos políticos ousados e pouco ortodoxos para ganhar esta eleição. Obama ainda terá de pedalar muito para ganhar esta pugna eleitoral.
A série sobre as eleicoes presidenciais está interessante, embora enviesada. Algumas consideracoes:
- Obama criou a sua campanha à volta do conceito de mudanca - changing the broken politics of Washington - mensagem aliás que é a marca política de McCain... embora com 20 anos de Senado e com a sua idade seja difícil passar a msg de mudanca do q quer q seja...
- McCain teve dificuldades em se impor como candidato do seu partido - o seu track record mais afastado dos core values conservadores faziam/fazem McCain uma persona non grata entre parte do partido mais à direita. O facto de os seus opositores nas primárias terem sido mto fracos - Giuliani foi um desastre e Romney cometeu muitos erros - fez com que fosse um passeio para McCain, mesmo com a oposicao dos tais círculos conservadores.
- A escolha de Sarah Palin vem colmatar essa lacuna, tentando unir o partido numa fase em que os Democratas poderiam seguir embalados pela sua convencao. Foi um bom golpe de McCain escolher uma pessoa com quem apenas se encontrou um par de vezes, foi Mayor de um sítio com 7.000 habitantes, e Governadora 2 anos... bonita, mae de 5 filhos, membro da NRA (armas), a favor do ensino do criacionismo nas escolas, a favor da pena de morte, pró-vida full style, a favor da abertura das reservas naturais do Alasca às companhias petrolíferas, nao fazendo ideia do significa o conflito do Iraque, entre outros pormenores deliciosos... a escolha excitou os círculos evangélicos e conservadores. E ofuscou o dia seguinte do discurso "38 milhoes" de Obama.
- McCain teve muitas dificuldades em conseguir arranjar fundos suficientes que lhe permitissem estar taco-a-taco com Obama, nos gastos de campanha. Obama continua a ter uma vantagem significativa.
- É reconhecido por todos os analistas que Obama tem montado uma das melhores máquinas eleitorais de sempre, com praticamente todos os Estados com uma organizacao de voluntários impressionante, fazendo porta-a-porta, recolhendo fundos, e espalhando as msgs da campanha, como nunca se tinha visto antes. O facto de ter captado mtos jovens explica parte da quantidade enorme de voluntários. Há um grande entusiasmo por Obama. É um facto.
- Barack Obama teve igualmente dificuldade em unir o partido nas últimas semanas. Nao creio que o eleitorado democrata seja mais imprevisível, como o autor escreveu, creio sim que Hillary Clinton foi uma formidável candidata, e dava tb uma excelente Presidente (opiniao pessoal) - tendo despertado mtas paixoes entre o eleitorado feminino e blue-collar, dado a efectividade das suas msgs. Prejudicou um pouco a imagem de Obama (falta de experiência, falta de ideias concretas), mas a convencao democrata veio corrigir o tiro. Teve-se um Obama combativo, crítico a Bush/McCain, e propondo medidas concretas dentro do possível, com o casal Clinton a fazer fabulosos discursos, e mostrando o seu apoio, para americano ver, a Obama.
- Joe Biden nao traz mais votos a Obama - facto - mas segura o eleitorado liberal, traz consistência à candidatura com a sua expeirência no senado e política externa, além de ser uma pessoa que já é conhecida do grande público, tem tb uma formidáve história familiar, e nao haverá espaco a que alguém lance boatos sobre a sua vida - como é o caso de Sarah Palin, que pelos vistos iniciou um festival...
- Bottom line, para concluir - as sondagens dao os candidatos empatados, como bom reflexo da sociedade americana, polarizada entre os 2 partidos. Basta ir ver o mapa eleitoral no NY Times ou no Wash Post, e ver que a cor dos Estados se mantém na mesma. Desta vez a Flórida nao é incógnita, vai para os Republicanos, mas Obama irá com alto grau de probabilidade ganhar New Mexico e Nevada, podendo ser uma surpresa em Montana ou Colorado (onde se realizou a convencao), Virginia, North Carolina ou Lousiana, onde o eleitorado afro-americano tem bastante peso, e onde ganhou as primárias. No fundo, onde se vai resolver a questao é no Michigan e Ohio. O resto do País está dividido por igual. Quem ganhar estes ganha as eleicoes.
- Sinceramente nao vejo na comunicacao social main-stream americana críticas às propostas de Obama, nem creio que a questao do off-shore drilling tenha sido um precalco, já que os Democratas no Senado/Congresso se manifestaram ferozmente contra tal medida. Nao sei em que é a posicao o irá afectar no eleitorado democrata.
- Por fim - com a escolha de Palin vejo mais fragilidades no ticket republicano até às eleicoes. A chuva de ataques, insinuacoes, boatos vai afectar McCain - tal como afectou Obama nas primárias há mtos meses atrás...
Obrigado pelas palavras amáveis e pelas informações complementares. Algus scomentários: - o assunto do "Drilling" fo muito dominante em Julho. E teve sobretudo impacto nos etsados que o meu amigo refere. Esqueci-me de outra matéria que beneficiou McCainfoia crise da Georgia e a sua reacção. - quanto ao enviesamento, esta série ainda nãoa cabou. Só ainda não falei dos republicanos e dos seus problemas gigantescos porque estou À espera que decorra a convenção para ver oq ueisto vai dar. Mas é óbvio que o Partido Republicano está em pior situação que os democratas. - Como vivo nos USA (Washington) tento com estes posts acalmar os espíritos que do outro lado do Atlântico julgam que a campanha é apenas um a caminhada triunfal do Obama.Estamos muito longe disso e diz-me a experi~encia de eleições aqui que a situação do Obama é mais dificil do que os media gostam de fazer passar. Mas isto é apenas uma opinião (que nem sequer está dependente da admiração inequívoca que tenho por Obama).
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.