Viegas Ferreira notava, num estudo feito sobre a realidade portuguesa ( Ed. Celta, 1998), que as pessoas que cumpriram pena efectiva de prisão tenderam a não reincidir nos crimes contra o património ( 84% em 1989 e 75% em 1994, por exemplo). O estudo versou sobre o final da década de 80 e boa parte da década de 90, e Viegas sublinhava o facto de os dados recolhidos desmentirem, pelo menos aparentemente, a conhecida tese da pena de prisão como factor criminógeno. É, de facto, um dado surpreendente que obriga a autopsiar certas vacas sagradas, mas também potencialmente perigoso. Mal aproveitado - aplicado à delinquência juvenil - poderia servir de argumento para fechar à chave uma percentagem significativa de cada geração portuguesa. Viegas também recordava as teses da Escola de Chicago - agora digo eu, convenientemente esquecidas - segundo as quais as diferentes incidências territoriais da criminalidade não estão directamente relacionadas com com factores como a pobreza, o desemprego a densidade ou a degradação do espaço edificado, mas, pelo contrário, com a inexistência de mecanismos de controlo institucional eficazes: familiares, comunitários e escolares. As coisas não mudaram desde a altura em que Viegas fez o seu estudo. A droga deu a machadada final nos já de si débeis sistemas de controlo institucional e os territórios porcos e pobres foram-se tornando progressivamente desarticulados do ponto de vista afectivo e comunitário. Famílias pulverizadas ( é difícil o controlo familiar quando a criança não tem, por norma, um pai em casa), sistemas escolares condescendentes com o desleixo e, cereja no topo do bolo, repressão penal como único meio de combate. O resultado não podia ser famoso.
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