É o número de imigrantes que os italianos interceptaram este ano. Prenderam-nos e, calculo, recambiaram-nos. A Espanha continuam a tentar chegar barcaças de africanos. Também são presos e recambiados. Isto é novo, isto é estranho. A Europa sempre se debateu com problemas de imigração. Entre 1750 e 1850, a Rússia ocidental ganhou cerca de 80 milhões de novos habitantes. O eixo Inglaterra-França-Alemanha recebeu milhões de imigrantes durante o século XIX. O mercado de trabalho ditava as rotas. Braudel relembra a descrição pavorosa que Stendhal fazia das hordas de famélicos que cruzavam as estradas da Mittleuropa. Homens novos, viúvos e mulheres solteiras compunham a horda. No Vale do Ruhr, Duisburg cresceu de 7000 habitantes em 1831 para 92,500 em 1900. Esta é a nossa História (*). Este movimento ocorreu porque a Europa tinha trabalho para oferecer, agora ocorre porque ainda tem algum trabalho - que os europeus desdenham - e por causa de um factor novo: uma ideia de sociedade. Um maliano prefere ser desempregado em Bruxelas do que na sua aldeia. Por muito que se critique cá o modelo social europeu, ele é considerado um paraíso lá. Ao recusarmos os imigrantes estamos a desenhar uma relação nova da Europa com os outros espaços, sobretudo o africano. De certa forma, estamos a criar uma Europa artificial e asfixiada. Ratzinger já o reconheceu. O Papa está particularmente interessado na abertura pois sabe que de outra forma a asfixia atingirá também a Igreja.
* com a ajuda de A.Lees e L. Lees, Cities and the Making of Modern Europe,1750-1914, Cambridge2007
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