Os amigos são para as ocasiões? Não, não são. É obsceno este entendimento da amizade como uma reserva de gasolina no depósito (ou como um estojo de primeiro socorros). Ó meus amigos, não há nenhum amigo!, gritava Aristóteles e repetia Montaigne. Derrida tem um ensaio divertido sobre os problemas da familiariedade ( a oikeiótes), mas não vos quero maçar com citações. Fiquemo-nos pela negativa: os amigos não são para as ocasiões. Os amigos são raríssimos e preciosos. Não lembra ao mafarrico que estejam presentes apenas nas ocasiões. Uma bengala, uma ambulância, um telemóvel, um táxi, talvez. Os amigos não. O valor de um amigo não é medido pela prestação em caso de necessidade ( nossa). O valor de um amigo é precisamente o da eternidade: está lá sempre, mesmo quando não precisamos dele. Os amigos têm o direito de nos abandonar e isso pode acontecer numa situação difícil ( para nós). Um bem precisoso e único reflecte uma obrigatória incerteza. É o preço.
Se o valor do amigo raríssimo e precioso é o da eternidade (o sempre) então ele estará lá: tanto nos momentos em que não precisamos como, garanto, quando precisamos - as ditas "ocasiões". Ou talvez deva sublinhar: Aristóteles e Montaigne eram homens, e eu também não pensava nos amigos.
2Os amigos têm o direito de nos abandonar e isso pode acontecer numa situação difícil ( para nós). Um bem precisoso e único reflecte uma obrigatória incerteza. É o preço."
Era o que faltava. Amigo que me abandone numa situação difícil deixa de ser amigo. Vocês, os psicólogos, deviam debruçar-se um pouco sobre a natureza humana.
Assim de repente, penso que a amizade de um canino pelo dono é muito subvalorizada. Bem vistas as coisas, é a única puramente desinteressada, ou melhor é à única que não contabiliza ganhos e perdas. É assim porque sim e não carece de justificação.
O amigo é como o Deus da Parábola, que nos explica o par de pegadas nas areias da Praia. Leva-nos nos braços, e nós, sem pressentirmos o nosso cansaço (ou pior, que precisamos de ajuda), pensavamos que as pegadas eram as nossas. As ocasiões são pois conceito relativo!
Ó Horácio: puramenet desinteressada, não sei... Tenho cães desde miúdo. Já tive um cão-gato ( queria era cama e mesa)e agora tenho uma cadela boxer que pensa que eu sou o pai dela...
Não resisto a citar ... «L'amitié c'est le faux témoignage qui te sauve dans un tribunal»... Assim cantava herbert pagani, um herói das cantigas francesas dos meus anos 80. Talvez por jamais me passar pela cabeça ousar pedir tal coisa a um amigo, ainda hoje acho esta metáfora eloquente e certeira.
Magnífico!!! Ainda bem que há gente no mundo inconformada com o "toma lá, dá cá", as cobranças e as "chulices" em nome da amizade.
Pessoas de inegável mérito são postergadas de concursos, oportunidades, reconhecimento, valorização, porque o amiguismo de uns imbecis com bons "air-bags" se interpôs!
Para além de que a verdadeira amizade é essa disponibilidade am-ável de nos esbanjarmos, sem Deve nem Haver.
Assim vale a pena vir aqui, ler estas coisas que cospem no senso-comum videirinho.Boa!
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