"O que fiz eu para merecer isto?", ou, na versão (musical) dos Pet Shop Boys, "What have I done to deserve this?". Não é só uma queixa ou um lamento, é também um protesto oficial que pressupõe um encanto: não estávamos na lista. Por falar em suposições, suponho que não adianta dizer que o fatum é implacável e não recebe reclamações. Restam então o encanto e a surpresa. Nós não merecemos. Esta ideia lardeia a convicção inabalável de que o mundo nos deve uma vida feliz, ou seja, que só merecemos as coisas boas. Nunca dizemos ao receber o prémio da lotaria: o que fiz eu para merecer tanta sorte? Na prática, o lamento serve para nos consolarmos e para salvarmos, no meio da desgraça, a nossa imagem. O corpo apodreceu, o Cardozo falhou mais um golo, o pneu furou no meio do deserto? Sim, mas nós não merecíamos; fomos sempre bons rapazes ( e raparigas).
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