Ultimamente tornou-se moda a glorificação mediática de pessoas que resistem ao cancro. Nada a apontar a quem tem e luta contra essa e outras doenças, mas não é especiamente meritório sobreviver *. É para isso que cá estamos. Uma explicação para o desvario pode residir na urbanidade bem composta. Exceptuando algumas ilhas, nas terras ricas os media não têm guerras nem tragédias de curral para relatar. O herói passa a ser alguém a quem o fatum destinou um golpe. Ainda que bem ajudado pela medicina, pelos amigos e pelos familiares, uma pessoa comum veste a capa de Super-Homem apenas porque vive. Coisa que não depende dela.
* aviso aos especialistas em argumentos ad hominem: fui operado a um cancro no mês passado.
mas há outras dimensões, por exemplo, portugal tem o maior registo da europa de dadores de medula ossea para transplantes, em casos de leucemia, graças ao mediatismo que figuras públicas, como duarte lima, deram à debelação da doença
Por vezes, esses depoimentos podem ajudar bastante quem se encontra fragilizado.
Espero que melhore, mas terá de compreender que nem todos temos a mesma força, por isso, prefiro ouvir essas histórias de sobrevivência e luta, a outras sobre plásticas, ou actividades mais lúdicas de artistas e gente pequena da sociedade fútil das revistas côr-de-rosa, ou mesas-redondas sobre a última 'gaffe' do político da esquina, ou a história da resistência de uma qualquer corporação, que pontualmente paga aos seus colaboradores.
Caro Teófilo, Nada tenho contra as "histórias de sobrevivência e luta".Até tenciono escrever sobre elas, porque conheço bastantes e gostaria de dar a conhecer outros aspectos pouco falados. Falo de outra coisa que julgo estar explícita no post.
Concordo. Mas isso., é talvez semelhante a outros "grupos" de cidadãos que se sentiram, em tempos, olhados de esguelha, devido às suas circunstâncias. Explico: Quando era criança dizia o povo: "F. tem, salvo-seja, um cancro". Baixava-se a voz, e depois passou a falar-se de "doença prolongada" e outros eufemismos.
Por um mecanismo de copmpensação os "discriminados" passam a "fora-de-série". Casos da women liberation.Das lutas do proletariado. Das causas gay e lesbian, da "negritude" de Senghor.O que é exorcisado e rechachado, regressa quase sempre mais forte.Há quem lhe chame equilíbrio cósmico.
Resumindo: nesses "grupos" (como em todos) há uma maioria de gente banalíssima e até grandes trastes; mas o tal mecanismo social(?) compensatório recobre-os com uma espécie de manto de heroicidade.
Saudações. I.
PS- A propóisito do "salvo-seja" e dos eufemismos, ainda me rio relembrando os de um picheleiro (vulgo canalizador) que se referia às louças sanitárias da casa-de-banho,como: a "com-licença-retrete" e o "com-licença-vidé".
Um pouco isso, sim, mas também uma dulcificação do processo. Quando a vida é muito dura- por exemplo na gente do campo - não há muito tempo para a introspecção ou para a auto-comiseração. É sobre isto que tenciono escrever.
Caro FNv, Dsde que li o seu texto que tenho a tentação de escrver algo ou de não dizer nada. Apeteceu-me, hoje, dizer-lhe que continue a escrever como nos promete no seu último comentário. Um abraço
Claro, António, obrigado; a minha situação é relativamente boa, muito melhor do que a de muita gente ( por enquanto, que nestas coisas não se deve lançar foguetes).
Oh meu caro,são favores seus !!! Agradeço tamanha amabilidade mas não terei arcaboiço para tanto.Espero é que continue com vontade de manter este mar a mexer bem !! Abraço e resto de bom Domingo,eu daqui a bocado vou aturar os !****! dos aviões !!
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