E o desenvolvimento Francês não só não eliminou o desemprego Português, porque o governo de então colocou muitos entraves à ida de compatriotas nossos para França.
Belo filme Le Sault, embora tivesse pouco a ver com a teoria do Luís Bonifácio. E era tão empolgante ouvirmos um francês dizer que conhecia uma concièrge ou um maçon, nossos compatriotas, é claro. Eu regressava daqueles cursos de férias com o ego em alta. E o FNV?
Se calhar a Maloud preferia ir à Clínica Mayo ouvir um americano dizer que conhecia um cardiologista Português… As coisas são o que são, é uma maçada mas é assim.
Claro que não preferia, Horácio. Os cursos de férias eram muito mais divertidos que uma estadia na clínica Mayo. O problema é que ainda hoje o português em França só come sardinhas, a portuguesa não se depila, etc. etc., porque o preconceito ou a xenofobia estão lá e foram alimentados, não só mas também, pela Valise de Carton, esse desastre para a comunidade franco-portuguesa.
Não é assim. Vivi em França dois anos ( 89 e 90) e esses estereótipos já estavam a mudar. Eu não era trolha nem a minha jovem ( na altura) mulher era porteira. Continuei a ir a França ao longo destes anos ( conheço-a quase toda e conheço particularmente bem o sudoeste) e pude constatar a transformação. Os trolhas agora são outros. É um facto. Ah!, já me esquecia: não é um facto, é xenofobia.
Cara Maloud, as coisas são o que são e os factos não devem ser confundidos com xenofobia. Uma evidência não é racismo a não ser que seja adepta do bloco de esquerda o que altera, em definitivo, a minha razão…
Ora, ora cara Maloud! Essas idas a França na adolescência-quase adulta só nos faziam bem, levavam-nos a perceber "na carne" porque é que o (nosso) regime tinha tudo a ver com esse retrato-robot do emigrante, o cromo do vachement portugais... E depois, sabe bem que havia outra coisa, o desprezo do francês médio pela ditadura (tipo como se, "à mínima" desprezásemos o povo russo). Concordo 100% que isso são representações que já não correspondem ao que se passa actualmente. Por causa, ou não, da UE, o português está em perfeita paridade e às vezes mesmo (lamento)... "por cima" (ate porque, ao menos na minha e sua geração, somos seguramente os últimos francófonos da UE, facto que lhes desperta um agradecimento infinito, sem qualquer paternalismo, pelo menos naquelas reuniões de trabalho em que só se ouve inglês macarrónico e os ateliers de língua francesa estão quase, quase vazios...) Quanto às axilas e outros detalhes, receio bem que a média do povo francês, com fama e proveito de très soigné, nunca foi exactamente... très propre:):)
Cruzes, credo! Tudo a saltar-me em cima. Já tinha perdido o hábito.
BE?! Não, caro Horácio, nunca andei por aí. Nem perto.
As minhas idas anuais ao SW, resumem-se a uma semana passada em hotel, onde os Amex não têm pátria. Eu frequento mais o arrière pays do SE em turismo chez le propriétaire. Três semanas de enfiada quase todos os anos dão para perceber que somos uma espécie de bichos exóticos que fala francês e inglês, quando se justifica, que sabe manejar os talheres, que conhece alguma literatura...Foi numa dessas estadias que percebi o desastre da Valise de Carton. Um detalhe que se colou à pele de todos os nossos emigrantes. E já que estamos nisto, o FNV não pode, ou talvez possa, imaginar a alegria de um voiturier luso-francês de um palace, onde por extravagância comemorei o meio século. Finalmente tinha clientes portugueses que passavam lá uma semanita sem ser a expensas de empresas. Se não o tivessemos travado, exibir-nos-ia como um troféu, mesmo à custa do emprego.
O desprezo por um povo que aceitava a ditadura, Laura, só o senti uma vez. Veio da boquinha de uma jovem da RFA. A coitada esqueceu que os papás tinham convivido alegremente com o Hitler. Eu lembrei-lhe esse detalhe. A minha cara amiga esteve e está em paridade, como eu também estou e sempre estive. Nunca atravessámos os Pirineus com uma mão à frente e outra atrás. Os emigrantes e a sua descendência duvido. A nossa vingançazinha vem desse estereótipo da falta de propreté, veiculada pelos americanos, mal desembarcaram. Agora que já há água e sabão com fartura, não há douches que cheguem para lavar essa mancha.
FNV Perdoe ter ocupado tanto espaço, mas isto do três em um tem que se lhe diga. Prometo que não volto :}
Maloud: (Então? Trocou-me o nome) - Mas eu não lhe estava " a saltar em cima"! Mera troca de ideias, asseguro-lhe. Se há coisa que respeito profundamente e lamento (por esta ordem) é o esforço e o destino dos que foram forçados ao êxodo além Pirenéus. Quanto à paridade, por favor, não é nenhuma afirmação de status. É simplesmente isto, p.ex.: - um português que vá hoje a França não sente as pequenas humilhações/desconfortos que o seu equivalente sentia nos anos 70, mesmo que ficase alojado no XVI.ème ou desse aulas na Sorbonne. Mas se o "migras" buscar o trabalho braçal "só" lhe acontece passar mal :(, porque no resto pertencerá a uma comunidade inclusiva, estável e muito mais grata aos franceses do que outras que por lá medraram. (Se fosse nos EUA, onde só o "ter" manda, mas onde paradoxalemnte subir a pulso é valorizado socialmente sem estigma de maior, isto nem era um problema)
Não faz mal, Maloud;) Eu não me importo e ela tb não:) (só lhe digo que o FNV, que entre outras coisas admiro por ser um insuperável mestre da síntese, qualquer dia cobra-nos mesmo o espaço ao m2;);)
Cara maloud, senti que ficou algo incomodada com a hipótese de ser “bloquista”.Não era minha intenção ofende-la com tal rótulo. As minhas sinceras desculpas.
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