O discurso de Cavaco Silva esqueceu uma parte importante do esforço de guerra. Não basta escolher bem os investimentos, ser competente no trabalho e solidário com os que têm dificuldades. Será necessário que a mole imensa de gente que viveu até agora bem acima das sua possibilidades deixe de se endividar para ter um plasma melhor do que o do vizinho ou para ir de férias para Cancun.
Há uma questão no seio da sociedade portuguesa, que passa por aí, mas que me parece ainda mais grave. A minha geração, que é filha da sua basicamente, criou expectativas elevadíssimas sobre o seu futuro. Aquilo que os pais com esforço conquistaram, desde o património às responsabilidades, passou a ser um direito adquirido e não questionável. Hoje, quando sai de casa dos pais, a minha geração quer manter o nível de vida que tinha então e não pode. O problema é que tenta. Claro que nem tem o património para sustentar isso nem detém as responsabilidades que geraram o sacrifício de criar e manter o património. O grande efeito da febre do consumismo está aqui, não em apenas um mês de compras de Natal. Está em toda uma geração que recebeu informação acelerada, que nasceu em democracia e viu o capitalismo garantir-lhe todo o género de bugigangas que hoje não consegue dispensar. Desde o plasma à Nespresso, a minha geração pouca noção tem de essencialidade dos bens e dos meios. A médio prazo isto será um problema gravíssimo, porque grave já é.
o bloguer deve ver o mundo do sossego da quinta das lágrimas, é que eu tenho um televisor que me custou 250 euros no lidl e passo férias em casa a tomar conta das crianças
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