Tenho medo de desperdiçar a vida. É um medo atlético, este. Existe a modalidade plana: estudar, casar, ter filhos, comprar o carro de prestígio, trabalhar, ir à Disneylândia, divorciar, diabetes, envelhecer, amaldiçoar estes tempos dissolutos. Ou a modalidade de barreiras: escrever furiosamente mal, arruinar as sinapses, dormir debaixo da cama, pedir desculpa, morrer cedo. Podemos jantar e esperar pela conta para avaliar o artista, ou podemos rapar cada prato como se não tivéssemos dinheiro para o seguinte. É escolher.
Lá me trama você: estudei menos do que devia(ainda quero "lá" voltar),casei e tive filhos e aqui sinto-me muito bem,mas nunca fui a Disneylândia nenhuma!! Carro de prestígio ?? Meu querido Fiat!! Vou trabalhando,não tenho diabetes e já não multiplico a minha idade por dois!! Quanto à escrita,uummhh,sinapses que sei eu,já pedi muitas desculpas e sei lá qual é o dia de "reformar esta letra". Socorroooooo!!
Estudei, não casei, não tenho filhos, comprei um carro de prestigio (eu mereço!), trabalho(até de mais), já fui a Disneylandia mas só para aproveitar uma viagem de trabalho que eu paguei caro a Orlando, nunca me vou divorciar (porque não penso casar-me), costumo dizer que tenho muitos defeitos mas "coitada" não é um deles porque é uma impossibilidade técnica, diabetes não sei mas estou a tentar não ter, envelhecer não me importo mas tenho medo de um dia olhar para tras e pensar que perdi oportunidades, mas importo-me, e muito, de perder capacidades intelectuais e combinei com um colega dar-me uma dose letal de potassio se eu virar vegetal, amaldiçoar estes tempos dissolutos nada, mesmo nada, sou mais aberta agora do que já fui. Já pedi desculpa porque julgo que fiz mal a uma pessoa, mas sou eu que tenho dificuldade de me perdoar por ter sido pela primeira vez má pessoa. Mas é a quem eu fui má pessoa que me acha boa pessoa,... então os outros deviam-me achar excelente.
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