SALVÉ: O Médio Oriente será seguramente a área do Mundo em que as novas ambições de Obama serão mais testadas e desafiadas. Hoje surgiu publicada a primeira crítica de esquerda sobre o assunto a Obama - bem estruturada e vinda de um dos jornalistas que mais sabe sobre a região, Robert Fisk. É de saudar esta recusa ao unanimismo. Apesar de Fisk deixar trespassar nas entrelinhas do artigo, e é uma pena, que parte da sua crítica resulta de despeito geracional (a ironiazinha sobre o young speech-writer vai directa para a galeria dos argumentos primários de idade). De qualquer modo, não deixa de ser sintomático e uma pista para o que aí vem que se trate de uma crítica vinda de uma voz de esquerda com enorme experiência em assuntos do Médio Oriente. A América de Obama a começar a ser acusada por ter cão e por não ter (afinal, esse é o destino de todos os grandes poderes - serem acusados pelo que se passa e pelo que não se passa).
E nós a falarmos do Fisk no outro dia ( bem acompanhados de um estranho escocês)... O gajo está cada vez pior. Ignora o facto de o Hamas não fazer a ponta de um corno pelas pessoas etc.
Lapidar, quando diz que "A América de Obama a começar a ser acusada por ter cão e por não ter". A meu ver, as acusações de "não ter cão" vão ser cada vez mais frequentes. Isto, por duas razões:
1- Obama, usando uma expressão menos poética, já tem "sarna que chegue para se coçar" à conta das crises financeiras, bail outs tão impossíveis como impotentes, das taxas de desemprego jamais vistas (mais do que nunca os EUA olham para fora, para novos mercados, na expatriação, na aprendizagem de línguas...), uma economia toxicodependente e que tem recaídas imediatas ao desmame do último estímulo. Nunca ninguém viu os EUA assim. Obama está na frente da batalha, de improviso, sem escudos e armas previamente testadas. Intervir num conflito internacional? Só se for para melhorar o panorama interno. É tempo de criar alianças e não de fortalecer posições de conflito. (eg: resolver Guantánamo = lifting da imagem externa dos EUA perante os olhos de "novos" parceiros estratégicos, IRAQ = acabar com um poço sem fundo de despesas militares e internamente fazer face às expectativas dos eleitores que levaram Obama ao poder).
2- Não querendo comparar os EUA com a Europa onde por razões ex-colonialistas ou por maiorias migrantes, o apoio pró-arabe está mais exacerbado face ao apoio pró-sionista. Mas lá, tal como cá, existe um crescendo de opiniões apologistas de que este conflito está exageradamente mediatizado e por conseguinte, tem aumentado o cansaço e desprezo destas causas, face a outras bem mais prementes. Remember Georgia? Preparem-se para ver os Sarkosys de serviço a apagar os fogos (Lá se vai o protagonismo de Clinton).
Daí achar que este artigo é puro "teasing" de Fisk, e não um teste. O conflito Israelo-árabe, tal como está, com excesso de protagonismo global e parca (e distante) iniciativa dos intervenientes, não é prioridade. Ele apercebeu-se disto. Realça que Obama não refere as palavras "Israel" e "Palestina", aflora ao de leve o 9/11, incide maioritariamente nas questões "latas" mas internas (não era suposto?) e nas questões raciais (after all, that was a special day...), relegando para um plano menor o conflito Israelo-árabe. Para Fisk (que vive do conflito) trata-se de uma falha imperdoável, e ornamenta o prurido da questão com insinuações (algumas com fundamento) aos membros da equipa de Obama e ao referido discurso.
Mas Fisk, apesar da crítica infundada aos destinatários dos telefonemas, convence-me num ponto: se Obama vier a intervir "à séria" na questão, deveria incluir membros do Hamas e outros menos consensuais nas conversações. Fidel Catro ficaria rendido à sua Honestidade
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