Dizia eu que, admitindo embora que os portugueses não gostem que os tentem distrair dos assuntos sérios e que realmente os preocupam, sempre se daria uma mãozinha a Sócrates no denso nevoeiro que ele pretende criar. Será uma vez sem exemplo.
Anunciou Vitalino Canas, sobre este assunto, que o PS "ponderou todos os aspectos de justiça" de forma a "cobrir" o "défice de igualdade" existente em Portugal. Não tenho a certeza de que tenha ponderado tudo. E, vindo de um sector que sempre pretendeu desvalorizar a instituição do casamento, a ele quis equiparar a união de facto, e simplificou a sua dissolução a um simples aceno de adeus, duvido mesmo muito.
Por exemplo: existem alguns impedimentos ao casamento (arts. 1602º e 1604º do Código Civil) que deixam de ter razão de ser admitindo-se o casamento homossexual. Por que razão não poderão casar dois primos direitos? Ora essa! Ou primas direitas? Será porque só as de esquerda poderão casar? Não faz sentido! A razão da proibição do casamento entre certas pessoas prende-se com problemas de consanguinidade que, no casamento homossexual, estão por definição afastados. Assim, seria um enorme "défice de igualdade" proibir o casamento de dois queridos primos ou de duas fabulosas primas. Ou da tia com a sobrinha ou do tio com o sobrinho. Ou mesmo tio com tio ou tia com tia.
Mas, sendo assim, inexiste também motivo para impedir o casamento homossexual entre irmãos. Ou irmãs (só se lixam os filhos únicos, que ficam a um canto de mãos a abanar). Na verdade, importando apenas os afectos e não se verificando qualquer problema de consanguinidade, é, ao abrigo do princípio de cobrir o défice de igualdade promovido pelos socialistas e afins, imperativo que se conceda aos irmãos e irmãs homossexuais o direito de casarem entre si. E, contra isto, não me venham cá com moralidades, que a ética republicana não as permite (o que, no limite, poderá ainda possibilitar o casamento homossexual entre pai e filho. Para avô e neto, defendo que só se este for maior de 21, pelo menos, e unicamente se o avô não tiver pêlos no nariz).
Imagino que a causa fracturante seguinte seja conseguir o casamento heterossexual entre irmão e irmã, mas apenas desde que esta proceda à laqueação das trompas de Falópio ou aquele se sujeite a uma vasectomia, de modo a nunca se verificarem problemas de consanguinidade. De resto, havendo afectos, 'bora lá casar pelo homossexual.
Admito que tudo isto possa trazer maiores problemas às reuniões familiares mas, bem vistas as coisas, acaba-se com os cunhados e as cunhadas e cabem todos à mesa. E oferece-se aos guionistas e argumentistas de meia-tigela um mar de possibilidades: antecipo já uma mini-série, imensamente badalada nos media, recriando Os Maias numa adaptação muito própria e com final feliz. Com efeito, tudo seria diferente se o amor de Carlos da Maia se chamasse Mário Eduardo. Afonso morria na mesma, mas acabaria tudo num belo casamento homossexual mano-a-mano...
2 - a baralhada pseudo-espirituosa que faz, entre consanguinidade e interditos sócio-culturais do incesto é de tasquinha analfabeta.
3 - Por que fado havemos nós de ser sempre maus parolos e atrasados que os espanhóis?
4 -é bom que se olhe para certos líderes conservadores...cuidado, que eles vão dando a mão e muito mais. Isto para não falar de certas "dinastias".
5 - prefiro ver esses cidadãos abrangidos por direitos civis e não segregados, do que ouvir falar de
"orgulhos gay", "paradas gay" e outros carnavais algo tristes.
6 - a admissão dessas leis acontecerá mais tarde ou mais cedo.Como aconteceu com a IVG, como acontecerá com a "morte assistida".Não são os pinóquios ultra-montanos e abstrúsios,da rectaguarda civilizacional, que o vão impedir.
Mais importante... porque a lei proíbe a poligamia? Poque é que os casais poligamicos não têm os mesmos direitos legais? Poque não podem deduzir "em família" para o IRS, porque não têm direito a visitas de presidiários privadas "em grupo"? Porque não têm direitos sucessórios iguais aos monogâmicos? Não entendo este visão ulta-conservadora da sociedade ;-)
Caro Logros, É fantástico como, em 8 parágrafos, não consegue dar uma para a caixa. Em primeiro lugar, e se aceita conselhos, talvez fosse melhor não falar em pinóquios. O seu chefe não gosta e você ainda fica com os ingleses à perna, que procuram um. Em segundo, recupere desse seu complexo de inferioridade face aos espanhóis. Em terceiro, organize as ideias. O aborto, a homossexualidade e a eutanásia são coisas completamente diferentes (por muito estranho que lhe pareça, um homossexual pode ser visceralmente contra o aborto e a eutanásia. E há muitos assim). Quarto: que é essa história de interditos sócio-culturais? Que porcaria é essa? A que vem com isso? O interdito sócio-cultural só serve para o incesto? Homessa! O incesto é proibido por causa da consanguinidade; inexistindo esse problema (no casamento homossexual), deixa de haver justificação para proibir o incesto.
Por fim: o que o devia preocupar verdadeiramente é que o Primeiro-Ministro utilize a comunidade homossexual como arma de arremesso no jogo político para distrair as pessoas do Freeport e da crise. Isso é que é indigno e demonstra a baixa política que se faz.
Tem de haver de tudo no mundo, também pessoas como o senhor, que na sua intolerância, só sabe reduzir a diversidade àos seus modelos. Onde é que leu, no meu comentário, que ivg, eutanásia e direitos civis para homossexuais são a mesma coisa? Deve ser nas suas esquadrias monolíticas. Pois, claro, eu nem sei que há homos. que são contra a ivg e a "morte assistida". Sei, sr. vlx; há muitos na Direita e na Santa Madre Igreja.
Quanto ao antiquíssimo interdito do incesto, aconselho-o a consultar Lévy-Strauss e a ler alguma coisinha de Antropologia Cultural.Verá que ele existia, em primitivas comunidades humanas, muito antes da noção de consanguinidade.
Não voltarei a gastar tecla, a responder-lhe.Não vale a pena.
Este frenesi de "desmascaramento" socrático, deve-se apenas ao receio de que os compinchas do PC e do BE, que têm arranchado com a Direita no bota-abaixismo, às vezes, não se comovam...
Mais o informo que não tenho Partido nem patrões. Nem sequer um tal Deus de barbas e voz de trovão.
JÁ AGORA, HOMEM COM O SEU CÃO E MULHER COM A SUA CADELA... CASAMENTOS GAYS ENTRE ANIMAIS... AND SO ON, AND SO ON... RÍDICULO, MAS ENTRA NA LÓGICA SOCRATIANA... E DIZ ELE QUE SE INSPIROU NO MILK... POIS... É MAS É PARA DAQUI A UNS ANOS HAVER ENLACE COM O DIOGUINHO E A CÂNCIO SER A DAMA DE HONOR..
Logros, não perca a compostura, não lhe fica bem. Olhe, eu, ao contrário de si, tenho teclas em barda para gastar.
Logros escreveu: «a admissão dessas leis acontecerá mais tarde ou mais cedo. Como aconteceu com a IVG, como acontecerá com a "morte assistida".» - a mim parece-me que estava a meter tudo no mesmo saco.
No mais, acho imensa graça (e confirma o que penso) que me acuse de intolerante e de só saber reduzir a diversidade aos meus modelos. Recordo alguns dos epítetos que gentilmente me ofereceu, em meia dúzia de linhas: esquadrias monolíticas, triste palermice, (indirectamente) parolo e atrasado (mais até do que os espanhóis), “pinóquio ultra-montano e abstrúsio, da rectaguarda” (sic) civilizacional. E tudo isto porquê? Porque não reduzo a diversidade aos SEUS modelos. Não me venha com lições de tolerância, aprenda-a primeiro, antes de a discutirmos.
Gosto também que venha com o argumentos histórico-sócio-culturais. Mas pensei que eles estavam afastados da discussão. Se não estão, podem oferecer-se nas diversas posições sobre o assunto.
Aprecio imenso da sua independência (recordo embora que o Dr Charrua também se julgava assim) e a voz de Manuel Alegre.
VLX não quero meter-me em conversa já velha, mas isso do incesto ser assunto devido à consanguinidade não cola. Está muito discutido, é falso. Basta, aliás, ver a história das proibições do incesto na nossa sociedade [e, num plano mais geral, inquirir a surpreendente sabedoria universal histórica sobre as leis da hereditariedade e afins - aliás, cruzadas com enormes diferenças nas codificações das relações chamadas incestuosas] cumprimentos
(eu continuo na minha, até prova em contrário: desde que um homem possa casar com um homem e uma mulher com uma mulher não vejo nenhuma razão lógica ou social para proibir qualquer tipo de casamento entre "adultos" que o consintam. Não que eu esteja contra, só me chateiam os pseudo-libertários que reprimem as outras opções]
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