E, NO FUNDO, A RAZÃO É EXTRAORDINARIAMENTE SIMPLES:
Os dirigentes desportivos das equipas portuguesas derrotadas invariavelmente culpam terceiros pelo sucedido. Ora são forças ocultas, ora favores nunca confirmados, um deles criou até o hábito de chamar semanalmente a polícia. Mas a culpa dos insucessos nunca é dos dirigentes, nem dos jogadores, nem da equipa como um todo. Quando muito, chuta-se um treinador borda fora e não se fala mais nisso. Certa e determinada comunicação social também não ajuda, não só porque embandeira em arco à primeira exibição positiva como, principalmente, porque quando o assunto merece festa não a sabe terminar a tempo.
Isso é mau para os adeptos, que acreditam na coisa, embriagam-se com ela e não se orientam no essencial, que seria exigir dos dirigentes e dos jogadores profissionalismo. Mas, pior que tudo, é mau para os jogadores, que esfuziantes com o excesso de confiança, as palmadinhas nas costas em demasia, entram em campo como se fosse apenas para serem festejados e receberem ovações, como se a vitória já cá cantasse, e não para jogar e conquistá-la.
Isso já aconteceu este ano com o Benfica, quando ainda andava na Taça UEFA, e aconteceu agora na Champions com o Sporting, com quem até simpatizo. Teve, no fim-de-semana passado, uma belíssima exibição (embora o adversário já tivesse conhecido melhores dias - dizem-me, eu não sou assim tão velho...). O adversário derrotado chamou, como é useiro e vezeiro, a polícia para cuidar do roupeiro ou lá quem era (pelo menos desta vez não fez cenas no túnel, como é costume).
Ora, nos dias seguintes, a comunicação social lisboeta clamava que Liedson (que à força quer pôr na selecção) e Derlei iriam desfazer os alemães (soube agora, com enorme espanto, que o Sporting nunca tinha ganho a nenhuma equipa alemã, na Champions). Andou-se nisto três ou quatro dias, com primeiras páginas fenomenais. Os jogadores devem ter posto os pés em campo com o ego na lua: jogar assim é difícil, mas a culpa da derrota por cinco atirou-se ao metro e noventa de um jogador, ao fora de jogo de outro (acontece) e a mais não sei o quê.
Se abrissem bem os olhos, perceberiam que a Champions não é a feijões e que a carreira do Futebol Clube do Porto na Champions não é por acaso. Em Portugal, só o Futebol Clube do Porto tem demonstrado traquejo, experiência e qualidade para jogar na Champions sem envergonhar (para dizer o mínimo e não embaraçar as outras equipas). Com sucesso e regularidade. E, para quem joga assim na Champions, é natural que domine anualmente o campeonato nacional: tudo o resto é foguetório de quem convive mal com a derrota anual.
Mas muitos, cegos, preferem continuar a ouvir as desculpas esfarrapadas dos seus dirigentes para as derrotas nacionais. Por mim tudo bem: enquanto assim for não corrigem os erros e a caravana passa.
Adenda: Como é evidente, não quero com este texto defender que, face à categoria exibida anualmente pelo FCP na Champions, seja completamente impossível que outras equipas portuguesas consigam obter do FCP, no campeonato português, algum sucesso. Não me esqueço de que o Leixões já lhe ganhou, que o Sporting lhe pode ganhar no próximo sábado, que até o Benfica conseguiu este ano dois brilhantes empates pouco esperados: todos sabemos que qualquer equipa se tenta agigantar e aparecer quando defronta o FCP. Mas é raro suceder, isso é um facto.
Eu não teria dito melhor, caríssimo vlx. A simplicidade, clareza e clarividência do seu post, sem mais considerações, apenas me permitem agardecer-lhe por existir e partilhar os seus, aliás doutos, textos com os restantes mortais.
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