Desenganem-se os que julgam que um período de vacas magras reduz o problema da droga numa lógica de que "quem não tem dinheiro não tem vícios". Antes pelo contrário: em cidades empobrecidas e sobrelotadas, o narco-mercado paralelo ganha asas. Como o red-bull. Em Portugal, no início dos anos 80, a crise que obrigou (em 1983) o governo de Soares e Mota Pinto a apertar o cinto incluiu a reintegração dos chamados retornados. Desemprego, tensão social, redução do poder de compra: foi o primeiro grande período de explosão de consumo de drogas . Tanto assim que o Decreto-Lei no 365/82, de 8 de Setembro cria o GPCB, um organismo destinado a tutelar o Centro de Estudos da Profilaxia da Droga. Era necessária acçãopara combater a passividade, como disse no parlamento o então deputado do PS Armando Lopes, em Setembro de 1981 *. É relativamente consensual que em períodos de recessão as pessoas afluem às cidades. Os centros demográficos europeus irão receber cada vez mais gente mais desesperada. O narco-mercado parasitará esta mobilização. Décadas de propaganda não conseguiram esconder uma realidade ácida: a droga é uma necessidade para a vida moderna. Freud, num ensaio velhinho ( O Mal Estar na Cultura) , já explicava que de todos os paliativos para miséria actual do homem comum, os narcóticos são os mais perigosos: tornam-nos insensíveis à miséria e à dor. E se conseguem isso, imaginem o que não conseguem mais.
* Lúcia Nunes Dias, As Drogas em Portugal - O Fenómeno e os Factos Jurídico-Políticos ,de 1970 a 2004 , Pé de Página, 2007 (tese de mestrado que tive o prazer de co-orientar).
De acordo. Mas, não será, de há muito, também a toxico dependência alcoólica? Aí sempre estivemos em "crise". Conheci (todos conhecemos) histórias tenebrosas de dependência alcoólica.Evidente, sem "dealers" e sem mafias controleiras, porque essa droga é de venda livre.Não é preciso roubar os próprios pais, para a poder comprar, nem arriscar uma série de perigos graves.
"Living Las Vegas", um filme inesquecível acerca de uma pulsão de morte, pelo álcool.
Legal, aparente cocktail "natural" de plantas, mas vendido como pot-pourri numa embalagem clean, no bom género experimentalista/ amador/ ambientalista neo-zen, mas que no fim de contas não passa de um entranhado de canabinoides sintéticos de patentes hipercaducadas "made in China". Espertos!
Helena
PS: Não me espanto se já houver receitas disto para a Bimby.
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