Tenho acompanhado, aqui, no Mar Salgado, e desde o início, a aventura comunicacional de Manuel Ferreira Leite. Uma coisa deslocada possui um encanto especial: ilude a ordem e ilude quem (nos) ordena. Os san- ch'u devem a sua beleza literária a essa indefinição. 2009 vai ser produtivo para os que se interessam pelas representações que o público faz das mensagens políticas. E vai ser particularmente produtivo por causa da ansiedade que a crise económica evoca: os comportamentos, as atitudes e os efeitos estarão sob outro olhar.
Os psicólogos sociais granjearam prestígio no primeiro quartel do século XX com as histórias das massas. Le Bon até começou antes ( 1900, se não me falha a memória), Freud aproveitou-o, Reich também ( com o Psicologia de Massas do Fascismo) e depois os behaviouristas deram uma ajuda: as multidões ( as foules de Le Bon) são um organismo com comportamentos programados. Gramsci , o cirurgião dos grupos dominantes, criou a figura do intelectual orgânico - o "dirigente" ( permanent persuader nas traduções inglesas): uma produção automática de influência, uma espécie de computador central cuja função é programar as "massas" e reprogramar-se a si mesmo. Lenine, Hitler e Mussolini esculpiram uma estética que Benjamim resumiu a propósito da Revolução Francesa : na tarde do primeiro dia de combate verificou-se que em vários locais de Paris , independentemente e no mesmo momento, se tinha disparado contra os relógios murais. Depreende-se que tenham ficado todos com a mesma hora, tão evidente foi a suposta sincronização. Este insignificante vol d'oiseau teve por alvo ilustrar uma convicção antiga da psicologia social: a identidade das multidões, das "massas". Era bom mas acabou-se, e é hoje ridículo ouvir caboucos definir a política como " comunicação de massas". Nunca foi - é a arte de governar a cidade - e já não há "massas". O que há hoje? Uma miríade de pequenos grupos que pontualmente exibem interesses comuns. A torrente informativa impede a formação reticular das antigas "massas" - Gramsci não conseguiria escrever hoje o seu código de influência. A genética da politeia sucumbiu, naturalmente, à luta inter-grupal. Mas tempos difíceis acordam memórias distantes. 2009 vai opor uma encenação para o poder ( Sócrates e Passos Coelho) a uma conquista da cidade ( MFL). Vamos ver. (cont.)
Qual "polis"? Ve-se bem que a pobre senhora, é pouco entendida nessas teorias. Não tem qualquer ideia verdadeiramente prospectiva, para um país, na sua multívoca complexidade.. Nem carisma que o encene. Ora, ora...Você mete Benjamim e outras "iguarias" para depois desaguar na mercearia de bairro. Quando iniciei a leitura do post, esperava outra coisa.
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