É obrigatório cancelar o progresso. Ando pelas ruas a falar para a minha mão e as pessoas não me prendem. Deduzem que tenho um telemóvel da última geração. O polegar envia mensagens ao indicador. No supermercado há muita crise e saem mais congelados. É preciso verificar os prazos e reclamar com os americanos. Quanto mais crise mais gelo a minha vizinha não acredita vai passar férias ao Brasil. Cuidado com o bobó ao camarão.
Por questões de preservação mental e controle da angústia (e calculo que isto faça parte das suas investigações), as pessoas não querem sofrer por antecipação. Acreditam que "não é desta". O maravilhoso optimismo é, ao que dizem os livrinhos de auto-ajuda (e não só), um poderoso tónico vital.
Li, há anos, num depoimento de alguém que escapou a Treblinka, Auschwitz ou Dachau - não me recordo bem, pois a minha geração leu numerosos livros e viu numerosos filmes e séries sobre esse tema - que as mães que se encontravam com filhos ao colo, em fila ordenada, para entrar para as câmaras de gás, não se acreditavam que iam morrer: imaginavam que era uma mera sessão ou formalidade de "desinfecção" parasitária. A autora do depoimento, uma mulher, que tinha sido poupada provisoriamente, para funções de fachineira, tentou avisá-las,uma certa vez, para se prepararem interiormente. Mas, sobretudo as mães,insultaram-na, chamaram-lhe louca e coisas piores.
Será que certas "preparações para", são possíveis?
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