Falo apenas de representações, de percepções, de atribuições. Já sei que não possuo a doce certa do cinismo dos contactos nem a tarimba da carne assada. Os portugueses não acreditam que as coisas possam piorar dramaticamente. Isto deve-se à naturalização que fazemos do pessimismo. O nosso pessimismo é sobretudo conformista e por isso é tão pouco adaptável às novas circunstâncias. O governo funciona como uma Empresa de Eventos S.A, com muitos protocolos, lágrimas ao canto do olho e miragens ferroviárias. Não nos muda e isso é o que queremos. Claro que não se esquece de distribuir dinheiro pelas autarquias socialistas ( esta semana foi pelas escolas) e isso ajuda. Faz parte do jogo, mas não é o essencial. MFL aposta na memória do bom senso: dizer a verdade e receitar prudência. Os portugueses ouvem-na, ao contrário do que fez crer a Empresa de Eventos S.A. ( MFL referia-se ao conjunto PS-governo). O problema é que o nosso conformismo, a nossa indolência, faz com que a ouçamos como um estroina ouve um pai : ainda não é tempo de seguir os conselhos. As águas estão cada vez mais claras porque MFL conseguiu contrapor ao brilho e à superfície o que está debaixo: o fundo. Resta saber se o nosso conformismo, atópico e permanente, suporta a visão. Não me parece.
O pior é que a Empresa de Eventos S.A guarda sempre uma boa mesa para os cronistas do reino e nunca lhes deixa faltar o Veuve Clicquot, o Barca Velha ou o Bushmills 30 anos. Logo, bem pode MFL falar, ou mesmo não falar, que eles não deixam passar o discurso ou sequer a insinuação do verdadeiro"fundo". Quem quer olhar para as escuras profundezas quando o catering é excepcional, ou, como se dizia 'no meu tempo', a festa está tão bem servida? Que corte! Depois se verá.
O que aprecio na dr. MFL é o facto de ela ser por natureza precisamente o contrário de um "actor" político. Diz o que pensa, não faz grandes dramas nem grande espectáculo. Não acrescenta nem abrilhanta quando não é necessário. E por isso é difícil a Comunicação Social gostar dela porque, porque não entra tão bem no jogo mediático. Sabe, eu pergunto-me o que se passa com as pessoas para colocaram Sócrates à frente das sondagens: eu, sinceramente, estou tão farto de ver o Governo resumido ao seu líder, estou farto que as notícias sejam repetidamente sobre a mesma pessoa: Sócrates porque apresentou medida; ou Sócrates porque sobre ele recaem suspeitas. Aliás, quando a este último ponto, com TANTA suspeita sobre o PM, provada ou não provada, mas não devia ele ser mais sancionado pela população? É que uma coisa é ser corrupto ou culpado de alguma coisa; outra coisa é sobre ele recaírem suspeitas. O problema é que as suspeitas são muitas (licencidatura, casas na Guarda, agora o Freeport que renasceu).. isto não seria suficiente para as pessoas pensarem que não devem confiar em alguém assim? Ou, isto é, é possível estar metido em tanta confusão e não haver danos colaterais? Porque, não só a nível pessoal (que só me interessa quando se reflecte a nível político), mas no Executivo Sócrates já deu muitas mostras de nos querer fazer passar por parvos: casos recentes OCDE, Magalhães (que grande fantochada, ninguém assume responsabilidades), os 5 000 anúncios que faz por dia, quando os fez há um mês atrás... enfim Cumprimentos
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