Ainda a propósito dos títulos ocorre-me também o gravíssimo problema dos 6.300.000 portugueses com a falta dos mesmos para os seus queridos. Esses portugueses não imputam essa sua pobreza actual (actual de quase trinta anos, é certo...) e fomeca faminta à falta de inspiração, qualidade ou jeito: preferem justificá-la com recurso a forças ocultas, misteriosas, como na Idade Média. E assim, vivendo na obscuridade, não se apercebem da realidade das coisas: imaginam que são iguais entre iguais e que apenas o acaso e a sorte mudam o destino. Não é assim, é preciso trabalhar.
O motivo pelo qual alguns são postos fora dos grandes salões, logo no início (quando não são mesmo impedidos de entrar pelo porteiro ou até chutados a pontapé da secretaria), e pelo qual alguns outros, melhores e mais civilizados, são gentilmente convidados a sair mais tarde com doze croquetes no papo a duas mãos quando as coisas se tornam verdadeiramente sérias tem a sua razão de ser. Há uma diferençazinha: uns são, outros não; uns podem, outros não; uns conseguem, outros não; uns sabem estar, outros não; uns jogam, outros não – não é igual.
E por isso alguns uns ficam cá em baixo, ao frio, a olhar para cima, para os janelões iluminados, a imaginar como serão os talheres de prata, os guardanapos debruados, a música da orquestra, os penteados das senhoras, as gravatas dos senhores. E até pode ser que alguns dos senhores saiam cedo, mais cedo, tenham de se vir embora – acontece, pode acontecer, mas não é certamente por serem escorraçados e enxovalhados!
Mas como aqueles que pelo seu esforço desgraçadamente não conseguem lá chegar pretendem justificar as suas fraquezas com o oculto, como não conseguem perceber que há diferenças e atacam, atiram pedras, vociferam, mexericam ignobilmente sobre a vida pessoal das pessoas, nunca esses coitados poderão lá chegar nem compreender verdadeiramente a razão pela qual também são invariavelmente derrotados nas suas terras e são anualmente desprovidos de títulos.
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