Regressemos - vamos saltando - ao início do século passado. Trackl morre na noite de 3 de Novembro de 1914. Nesse ano, Pessoa publica o Opiário onde decreta: Eu vou buscar ao ópio que consola/ Um Oriente a oriente do Oriente. Trackl não chegou a beneficiar da oferta de Wittgenstein aos artistas e poetas da Der Brenner, a revista editada por Von Fischer em Insbruck. Se a anáfora de Pessoa não pode por mim ser explicada ( ainda que a tentação seja muito grande) , o contexto pode. É o tal oriente misterioso, a tal representação que tanto irritou ( é o termo exacto) Edward Said. É o Oriente do Divan de Goethe ( "colecção"em farsi) , ou o Egypto de Eça ( mais realista): distante, misterioso, perigoso , sedutor. Pese o exagero de Said, que no fundo peca pelo mesmo essencialismo ( o "ocidentalismo")que critica no orientalismo, existe um fundo de verdade nisto. Nesta altura ( transição do século XIX para o XX) , as drogas, sobretudo o haxixe o ópio, são consideradas um produto da mente degenerada dos orientais. Que não haja dúvidas; e isto é muito importante. O que vinha do Oriente ( ou dos orientes) , tudo o que vinha, era considerado produto de civilizações inferiores, bárbaras ou decadentes. Esta é outra das razões que levou aos esforços dos control advocates, partidários da regulamentação e , mais tarde, da proibição. De resto, também nos EUA, a Temperança e a Prohibition bebiam na cultura WASP ( branca, anglo-saxónica e protestante) o ataque ao álcool. Os alvos eram os imigrantes irlandeses, polacos, checos e alemães, grande bebedores e católicos vindos de longe.
Bibliografia: caótica, incluindo João Barrento ( (1996), Vicente ( 2006), Jay ( 2002).
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