Zita Seabra votou, hoje, ao lado de PS, PCP e BE, um protesto contra a inauguração da Praça Salazar, em Santa Comba, no passado dia 25 de Abril. Se eu lá estivesse também votaria com ela ( e com os outros). A memória social é um ser frágil porque está sujeita ao esquecimento - como todas as memórias - e porque se submete à cultura da preservação exercida pelo Estado. Os símbolos só têm valor se se exprimirem enquanto tal ( poupo a teoria), ou seja, se puderem ser entendidos como intemporais e independentes de uma avaliação racional. Uma figura histórica que só o é porque efectivamente calou e perseguiu os que a quiseram apear da História, pode figurar em muitos lados. Tal figura não deve dar um nome a uma praça ( ou a um quiosque) inaugurada num dia que simboliza tudo o que essa figura não representou. Isso é relativismo barato travestido de racionalismo. O respeito, no que concerne à vida da cidade ( e não à de uma confissão religiosa ou à de um clube de fãs) , não pode estar sujeito a pormenores de escala.
Coloco a questão doutro modo: Salazar, porque perseguiu, calou, oprimiu, não deve ser homenageado, nem com o nome do largo na terra onde nasceu. Isso é que me parece central. Ora, Afonso Costa, pese embora o seu branqueamento por toda a esquerda (quer a que vê nele um pai fundador, quer a que lhe admira os métodos), perseguiu, calou, prendeu, violentou grande parte do país. Usou, como poucos fizeram entre nós no século passado, do terror popular como arma. Merece algum tipo de reconhecimento, ou é simplesmente "politicamente correcto" esquecer todo o resto sem o ver à luz crua do que era e do que fez?
O meu ponto, se ler o texto, é o da inauguração da praça ( que já se chama Salazar há muito tempo) no dia 25 de Abril. Também há o resto. Pelo relativismo - é tudo igual - Colombo ou Gama não poderiam dar o nome a espaços públicos.
Eu percebo o seu ponto. Simplesmente alarguei o comentário ao que me pareceu, ainda assim, ser o mais relevante do acontecimento que comenta. E isso não é tanto o dia da inauguração - que evidentemente se destina a obter, com sucesso, aliás, alguma publicidade gratuita para a terra -, mas ao protesto generalizado ao nome da Rua em si (como antes tinha havido a uma espécie de museu). O que critico, e, de facto, vou além do seu post, é a eleição de Salazar como a única bête noire da História portuguesa do Século XX, enquanto alegremente se branqueiam outras criaturas que nesse século e de forma generalizada também calaram, perseguiram, brutalizaram (e repare que são estes os elementos da comparação). Quanto a Colombo e Gama, desculpe, mas não há comparação possível: são homens do século XV/XVI, com quadro mentais e culturais muito diversos dos do Século XX.
Sim, forcei a nota de propósito.Você tem razão na exclusividade bestial, mas também me parece que Salazar operou num quadro mental muito diferente do de Afonso Costa ( já havia computadores, descolonização, democracia alargada, etc)
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