As pessoas não perceberam - ou não querem perceber - a gravidade do que se passou com o caso Lopes da Mota, mais um sub-caso do Freeport. E que de entre todas as embrulhadas que têm vindo a público e que, directa ou indirectamente, afectam Sócrates, esta é a mais grave e a que mais põe em causa o Estado de Direito. Ao lado desta, as assinaturas de projectos de outros, as aprovações de processos de licenciamento em poucos dias, a original licenciatura, as inconcebíveis intervenções dos familiares, os preços das casas e até o desaparecimento de documentos dos notários e o próprio caso Freeport, em todas as suas latitudes, são peanuts.
Aqui deu-se a intervenção de um político, nas horas vagas magistrado do Ministério Público (ou o contrário, pouco interessa), que, a pedido ou por sua própria iniciativa (também não releva), pretendeu interferir num inquérito que, directa ou indirectamente (já não vale a pena discutir o tema), atinge o líder do Partido Socialista.
O homem, que invariavelmente tem preferido cargos públicos à profissão que tinha, resolveu descer ao terreno onde os antigos colegas se esfalfam com esforço e dedicação e dar-lhes umas quantas dicas (estou a ser comedido) favoráveis aos seus amigos. Não importa que alguém acredite que ele estava lá, sossegadinho, no remanso do Eurojust, e por não ter nada que fazer se tenha lembrado de vir a Portugal, de motu próprio, dar uma ajudinha à investigação por forma a que ela se orientasse num determinado sentido. Ou que na conversa se tenha armado com outros Ministros, um deles Primeiro, apenas "indevidamente". Ou que tudo tenha sido feito desinteressadamente. E em privado. O homem tentou interferir num processo de inquérito, não como magistrado (o que já era gravíssimo), hierarquicamente superior (hiper-gravíssimo), mas como político.
Todos sabemos que não há almoços de graça, e que o almoço tido com os procuradores, acaso eles tivessem comido o que lhes era proposto, seria seguramente pago por alguém, mais tarde, à custa do contribuinte. E que seja. Se ele está farto de ser magistrado do MP, em paga do tal almoço ofereçam-lhe os socialistas um tacho qualquer, aqui ou numa qualquer instituição bancária escondida em Trás-os-Montes (diz-se que possibilita altos voos), mas não o mantenham no Eurojust, situação que seria das maiores poucas-vergonhas nacionais a que se tem assistido. Já que os socialistas gostam tanto do segredo (ver inacreditáveis declarações de Arnaut), ao menos escondam da Europa e do Mundo a pouca-vergonha do país que governam e o modo como o governam.
E se os socialistas não o fazem, se permitem esta promiscuidade indecente aos olhos de todos, e se a oposição não exige a demissão (coisa que todos os portugueses estranham que não faça), terá de ser o Presidente da República a intervir, ainda que discretamente. A bem da separação de poderes e do Estado de Direito.
Já agora, sobre certas coisas sérias que passam despercebidas quanto à seriedade do que está em causa...
do Público de hoje:
"Cerca de quatro dezenas de elementos da claque do Benfica No Name Boys foram acusados de vários crimes e o presidente do clube, Luís Filipe Vieira, foi alvo de uma participação à Comissão Disciplinar da Liga de clubes por apoiar aquele grupo de adeptos. A certidão foi também remetida para o Conselho Nacional Contra a Violência no Desporto, entidade junto de quem a claque se deveria ter legalizado, identificando todos os seus membros.
O mais conhecido grupo de apoiantes do Benfica foi alvo de uma aparatosa acção policial há cerca de meio ano, através da operação Fair Play, desencadeada pela Unidade Especial de Combate ao Crime Especialmente Violento (UECCEV) do DIAP de Lisboa com a colaboração da Polícia de Segurança Pública. Das mais de três dezenas de detidos, três ficaram presos preventivamente, quatro em prisão domiciliária e pelo menos dois proibidos de frequentar recintos desportivos.
A acção policial saldou-se ainda na apreensão de armas proibidas, material pirotécnico e mais de dez quilos de haxixe e 115 gramas de cocaína. O libelo sustenta que a claque era financiada através da venda de ingressos para os desafios e de substâncias estupefacientes, nomeadamente haxixe e cocaína. Foram ainda recolhidos indícios da venda e revenda de armas de fogo, nomeadamente de TASER (armas que atingem as vítimas com choques eléctricos), que teriam uma potência superior às usadas pelas forças de segurança.
A investigação abrangeu várias situações relacionadas com actos de violência de que foram vítimas adeptos do FC Porto e do Sporting. E ainda confrontos com forças de segurança e apreensões de droga. O inquérito acabou por agrupar factos ilícitos que estavam dispersos por outros processos. Nos casos da suspeita de tráfico de droga e de armas, as autoridades realizaram escutas telefónicas.
Através das escutas, recorde-se, a PSP pôde reunir elementos que a ajudaram a identificar a autoria moral e material do incêndio ateado ao autocarro que transportou a claque dos Superdragões, que se deslocou a Lisboa, em 21 de Julho de 2008, para apoiar a equipa de hóquei em patins do FC Porto que jogava contra o Benfica. Na origem deste acto esteve, segundo a acusação, o ódio contra o FC Porto, realçando a premeditação do acto, uma vez que o autocarro tinha sido antes seguido por uma viatura ligada aos No Name Boys.
Cerca de cinco meses antes, elementos daquela claque benfiquista terão provocado danos no complexo desportivo do Sporting, Alvaláxia XXI. Destruíram cancelas, derrubaram um sinal de trânsito e pintaram as paredes da sede da Juve Leo com os seus símbolos. A acusação relata também a agressão de que foi alvo um jornalista de um diário desportivo, quando se encontrava em serviço junto ao complexo desportivo do Benfica, no Seixal. Depois de apedrejarem a viatura do jornalista, os elementos da No Name Boys retiraram do seu interior um taco de bilhar com o qual destruíram o vidros e provocaram diversas amolgadelas, lançando depois uma tocha incendiária que, frisa a acusação, só não consumiu a viatura porque caiu fora. Além dos danos materiais, o jornalista acabou por ficar ferido na sequência do incidente.
O facto de agirem sempre em superioridade numérica, munidos de tacos, facas e outros utensílios, é também assinalado noutras situações. Numa delas, a vítima foi um elemento da claque Juve Leo, do qual conheciam a sua morada, ligações familiares e outros elementos da sua vida pessoal, a partir de um ficheiro criado no seio da claque.
Uma das situações relatadas ocorreu na madrugada de 25 de Fevereiro do ano passado, na Amadora, onde esperaram um jovem junto à sua residência. Este, apercebendo-se da cilada, tentou fugir em direcção à esquadra da PSP, mas não o conseguiu. Acabou por ser alvo de várias agressões, que culminaram com diversas queimaduras no corpo provocadas pela utilização de tochas incendiárias. A vítima teve que ficar cerca de um mês em recuperação. Apesar de as agressões serem imputadas a um grupo numeroso, apenas três dos seu elementos acabaram por ser identificados pelas autoridades".
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.