Se hoje vos propusessem uma lei que permitisse aos médicos prescrever opiáceos, sob supervisão da Ordem dos Médicos, e aos retalhistas importar opiáceos, pagando taxas e impostos, o que diriam? Não sei, mas já ouvi muitos alunos meu dizerem que tal coisa é impossível e que nunca se viu. Tort. O Harrison Narcotics Act, que veio na sequência do projecto do senador Foster, aprovado em 1914, propunha precisamente o que acima descrevi ( poupando detalhes). Na altura, as mentes mais liberais entenderam-no como um ataque à liberdade dos drogados e dos clínicos; as cabeças mais conservadoras acharam pouco ( não esquecer que o país já vivia, há muito, sob a pressão dos fanáticos da Temperança). Seja como for, o projecto lançou o que ficou conhecido como a Narcotic Clinic Era. Dezenas de clínicas de desabituação/manutenção abriram um pouco por todo o lado Albany, New Haven, Nova Iorque, Atlanta, Geórgia, etc. O Act de 1914 foi uma proposta razoável na altura errada. A votação final do Volstead Act, que instituiu a Lei Seca, impediu naturalmente qualquer complacência para com as drogas. As clínicas foram fechando sob pressão da Divisão de Narcóticos. E onde estava integrada esta divisão? Na Prohibition Unit. Claro. Este período é de capital importância para quem quer entender o estatuto actual das intoxicações ( já retocado, é certo). A Divisão de Narcóticos deu origem ao Federal Bureau of Narcotics, que, sob a batuta de Aslinger ( personagem incontornável que já aqui trouxe noutras séries ), encetou uma verdadeira intifada proibicionista alicerçada na força americana consolidada no período entre e pós -guerras. Lá iremos.
Bibliografia: Musto ( (1999), Vicente ( 2003), etc.
“Se hoje vos propusessem uma lei que permitisse aos médicos prescrever opiáceos sob supervisão da Ordem dos Médicos, e aos retalhistas importar opiáceos, pagando taxas e impostos, o que diriam?” Certamente uma hipótese que incomodaria todo o negócio do tráfico de droga e que contaria com a oposição de um “albergue espanhol” onde cabeariam as “espécies” mais díspares: desde traficantes até aos moralistas bem-intencionados.
Sim, em parte. A ideia de que só o actual status é que enriquece os traficantes não é totalmente válida ( do meu ponto de vista, claro). Tenciono discutir isso lá mais para a frente. Primeiro temos de desbastar outros terrenos. Obrigado pela discussão, Ze.
Vou ficar a aguardar pelo desenvolvimento do tema “proibição v. enriquecimento dos traficantes”. E no futuro haverá compilação e publicação destes excelentes textos?
entendo pouco ou nada disso, mas não existem medicamentos que contêm desses tipos de substãncias (talvez sintetizadas)? tou-me e recordar de um sprayzinho prá dor de dentes que era maravilha :)
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