Tínhamos ficado na Narcotic Clinic Era (1919-1920) e na falência do Harrison Act. Os EUA ficavam dry e passavam do álcool às drogas. Em força. O período seguinte é marcado pelas conferências de Genebra: duas convenções consecutivas, em 1924 e 1925, assinalaram a criação do PCOB - Permanent Opium Control Board. Este organismo não funcionou muito bem ( os ingleses, por exemplo, só aceitaram dimnuir à produção indiana de ópio quinze anos depois dos chineses esgotarem o stock), mas acrescentou mais uns tijolos ao edifício: as primeiras restrições ao comércio de marijuana e folha de coca, um primeiro esboço de uma lista de substâncias proibidas, etc. O problema é que continuava a não existir qualquer controlo da produção de raw materials, sobretudo de pasta de ópio ( a partir da qual se fabrica a morfina). A questão colonial dominava o cenário. Na Índia, como na Indochina francesa, a produção de ópio era um elemento essencial da economia local. Detenhamo-nos um pedacito nessa bandas. Os estados shan desempenhavam, juntamente com a Pérsia e com a Turquia, o papel que é hoje exclusivo do Afeganistão. Durante o primeiro quartel do século XX, a migração chinesa, sobretudo de Yunnnan e de Bangkok , estabeleceu as bases . Melinda Lui resume: as tribos das montanhas birmanesas cultivavam o ópio, os insurgentes shan transportavam-na, e os chineses de Chiu Chao compravam-no e exportavam-no. Depois da vitória comunista na China, as coisas mudaram. Enquanto os americanos avançavam para o Opium Protocol de 1953, e preparavam a Single Convention de 1961, não desperdiçavam nada. As bases para a duplicidade estavam estabelecidas. Muito mais tarde, as relações conflituosas do famoso Khun Sa com o Kuomitang, e o facto de a Tailândia estar roedada de estados comunistas, fez avançar a doutrina realista. Por outro lado, o Partido Comunista Birmanês, em guerra com o governo de Rangoon, estimulou os americanos a ajudar logo após a batalha de Kunlong, em 1973. Provas absolutamente conclusivas nunca foram obtidas, mas não é preciso ser particularmente inteligente para compreender como os insurgentes pagavam as M-1, as M-79 e os lança-rockets. A brincadeira seria repetida no Afeganistão, logo após a invasão soviética. Não se aprende, não se aprende... Se nos anos 50 os EUA fechavam os olhos às actividades anti-comunistas no Laos, Tailândia e Burma - enquanto propagandeavam ( H. Aslinger) o perigo da heroína chinesa destinada a subverter a juventude ocidental -, nos anos 70 desempenharam um papel activo no escoamento da heroína fabricada na Tailânda a partir da matéria prima birmanesa. E tudo isto enquanto nos salões dourados a rede ficava cada vez mais fina e os mesmíssimos ocidentais - destinatários finais da produção do Triângulo Dourado - tinham cada vez mais dificuldade em fumar, sossegada e legalmente, a sua dose de China White.
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