Não é só nas falésias que ignoramos as letras. Os casais também desaguam nos consultórios porque deixaram de comunicar. O sr. Freitas, ao volante, lê
stop e acelera. As livrarias estão cheias de lixo ( lá mais para trás encontram-se coisas boas). Uma cultura hiper-comunicacional, inchada de SMS, telemóveis, correios electrónicos e
twitters, não parece atribuir grande valor à palavra.
Pode-se apontar algumas causas. Prefiro outro caminho. Quando a política substituiu a religião, a palavra deixou de servir para orientar. Desde então que comunicamos muito mal, o que não acontece, por exemplo, no Islão musculado. O problema não está, portanto, nas técnicas que desenvolvemos, está no fracasso delas. Elas não resolveram nada, coitadas.
Se enviamos dezenas de SMS por dia, provavelmente elas significam pouco. Se ignoramos repetidamente um aviso - que está lá para nos salvar e para salvar terceiros - e não nos acontece nada, é certo que tenderemos a ignorar outros avisos semelhantes. Se passamos um filme inteiro agarrados ao
twitter, também podemos estar numa sala de aula agarrados ao telemóvel. A este propósito - a disciplina na sala de aula - os nostálgicos de um qualquer tempo que não conheço fariam bem em atentar em Tácito*:
Agora (...) os professores atraiem os discípulos, não pela severidade da disciplina, não pela experiência do talento, mas pela solicitude nos cumprimentos e pelas atracções da lisonja.Como bem sabem os fanáticos e os educadores de cães, a palavra tem de ser associada a um acto. A nossa cultura, mais do que fracassadamente hiper-comunicacional, está
des-actualizada.
* Diálogo dos Oradores, 30