1) Depois de ser irrelevante foi feia. Agora é um "Salazar de saias". É este o programa que a esquerda que o PS alugou ( barato) para a campanha eleitoral apresenta contra MFL. Algumas franjas, não oficiais, do PCP e do Bloco, metem também a colher. Tudo normal. Gerações inteiras educadas na obediência à verdade dos resumos perderam a capacidade criativa, o que explica que o imaginário salazarista seja a única coisa aproveitável. Na ex-URSS passava-se o mesmo. Orwell contava as fadigas de Zhdanov, o censor-mor da literatura soviética nos anos 40. Zhdanov não comprendia por que razão os escritores teimavam em alfinetar o paraíso que os alimentava. Tentou criar uma literatura compatível . Azar. Com censura e directivas não se escrevem livros bons - nem sequer razoáveis. Por cá, um homem que morreu há quase quarenta anos continua a ser a inspiração retórica para ex-comunistas. É assim, a imaginação tem razões que a doutrinação desconhece. Claro que também há muita preguiça. A esquerda que o PS alugou ( barato) para esta campanha tem-se entretido com muitas coisas e não tem tido tempo para estudar e pensar. Enredou-se nas causas dos costumes, na produção industrial- mediática e no glamour da auto-contemplação. O PCP não lhe cede a coutada dos operários e dos sindicatos, as fabriquetas são na "província" onde o pessoal ainda chama maricas aos maricas, a pequena burguesia do funcionalismo é "atrasada". E assim vamos parar a Salazar, o amigo que está sempre presente.
2) Querem Salazar? Então tomem: "Publicamente só existe o que o público sabe que existe (...). Na rapidez com que a vida voa e para não exigir vagares ao tempo já tomado pelas preocupações de todos é preciso fazer de modo que mesmo o olhar distraído possa apreender os factos e os ouvidos desatentos ouçam a verdade que se lhes pretende transmitir". Esta passagem do discurso do homem, na inauguração do Secretariado de Propaganda Nacional, em 1933, é bastante actual? E quem acham que a vai repetir?
Caro Mar Salgado, Tenho lido alguns post bem escritos e que revelam nível cultural literário bem acima da média. Não posso, contudo, deixar de assinalar o meu desacordo com esta coxa tentativa de, com esta citação de Salazar, querer que ela se aplique a Sócrates, porque ela cai que nem uma luva em MFL. Quem propagandeia inncansavelmente uma "verdade" para os portugueses? Sendo uma pessoa inteligente, penso eu pelos escritos, acha que proclamar ao vento "uma verdade" e fazer dessa "sua verdade" uma bandeira política tem muito de seriedade? E o perigoso é que o faz convencida do que proclama: tal como Salazar o fazia provavelmente.
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