O
Valupi diz-me que a democracia foi feita contra a oligarquia e não contra a monarquia. A versão do Valupi é a mais simples, mas não é bem assim. Aristóteles ( Política 3. 15 11-12, 1286b8-22) narra a evolução dos regimes. A cidade organizou-se primeiro em monarquia, sendo o rei o chefe da tribo mais forte. Depois vieram a oligarquia e a tirania, e só depois a democracia. A monarquia, com o braço armado da aristocracia, assentava na
aretê, o exacto oposto de outro gene da democracia: a liberdade.
A monarquia transita para o regime dos
eupátridas, a aristocracia oligárquica. Drácon, primeiro, e só depois Sólon, reformam a cidade e iniciam a caminhada, que será lenta e complexa, como bem diz o Valupi. Ribeiro Ferreira ( o
sucessor de Maria Helena Rocha Pereira) sublinha que Sólon nunca imaginou uma forma de constituição democrática. Fundou o estado na justiça, mas a
Boulê de Sólon, caro Valupi, tirava à sorte entre as três classes mais elevadas. Continuava a aristocracia, portanto, um resquício da monarquia. É Clístenes, depois das experiências de tirania, que funda realmente a democracia: Clístenes constatou que o poder das famílias nobres resultava de o chefe do grupo de estirpes - que constituía cada uma das quatro tribos iónicas - ter a sua eleição garantida para o arcontado. O fim deste privilégio reorganizou o estado ateniense. Começava o reino da vulgaridade, o reino do homem comum.
O resto - MFL, PSD, etc - já é discutível.