Manuela Ferreira Leite anunciou as suas intenções relativamente a um determinado assunto, o TGV. Entende que não há dinheiro, logo, não há para já TGV. Até aqui muito simples. Mas os socialistas ficaram muito incomodados com o potencial incómodo dos espanhóis, que assim podiam ver os seus interesses desprotegidos. A isto Ferreira Leite disse o óbvio, talvez com ironia: que não somos uma província espanhola, temos de pensar primeiro em nós e fazer para já apenas aquilo para que temos dinheiro.
Os espanhóis, desde ministros a Zapatero, fartaram-se de proferir declarações sobre o que nós devíamos ou não fazer. Os socialistas portugueses, todos contentes com as ingerências, chamaram logo a atenção para as declarações e os interesses dos espanhóis. Em discurso partidário, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, esquecendo-se da importância das suas funções governativas e de que representa Portugal, entendeu por bem tratar uma opção política legítima e defensável (mesmo que não concorde com ela) como uma arma de arremesso ao país vizinho e atear uma fogueira com petróleo e disparates.
O MNE não tem sentido de Estado nem do ridículo. Começou por confessar que a gestão do relacionamento entre Portugal e Espanha era difícil (mas isto diz-se?!? Cabe na boca de um MNE?!?). Evocou uma suposta luta de décadas (?!?) contra o preconceito anti-espanhol que existia no Estado Novo (alguém que lhe ensine um pouco de História, por favor). De seguida defendeu que era preciso cultivar uma boa relação com Espanha e declarou-se depois contra um suposto preconceito nacionalista serôdio, apenas porque uma líder partidária entende que não há dinheiro para o TGV e isso pode ofender os espanhóis e os seus interesses.
Eu gostava de ter um MNE que percebesse que uma coisa é ter boa relação com Espanha e outra, bem diferente, é ser subserviente e agir contra os interesses ou possibilidades nacionais para agradar ou servir os interesses espanhóis. E que para agradar a Espanha não temos de esgotar os recursos e crédito nacionais. Um MNE que visse que nunca os espanhóis tomaram alguma decisão em função dos nossos interesses (para os quais se estão positivamente nas tintas). Um MNE que se incomodasse minimamente por andarem ministros e chefes de governo estrangeiros a dizer o que é que nós devemos ou não fazer.
Eu sei que os socialistas sempre ficaram embasbacados com o exterior, a começar por Espanha, e se curvam todos julgando que assim parecem modernos e civilizados, mas isto é demais. E para além do mais é politiquice barata, chunga mesmo. Tão chunga como termos um Primeiro-Ministro que não sabe sequer apertar o casaco e leva reparos de governantes estrangeiros. Do Berlusconi!!!
E não esquecer que esta gente deslumbrada com o que vem de fora reside na capital. Sempre tive por certo que encontro mais depressa um “cosmopolita” debaixo de um sobreiro ou de um carvalho.
Fica bonito, este discurso. Mas depois a prática...
Por exemplo: há algo mais português do que um navio dos Descobrimentos, dos nossos, das mirificadas Índias? Duvido. No entanto, apesar de toda a legislação nacional que supostamente visa proteger, estudar e preservar o nosso património fora de fronteira, quanto deu o nosso País (MNE/Inst. Camões) para o esforço conjunto de preservação da nau portuguesa, de 1533, descoberta na Namíbia? Uns 14.000 euros. E, na terceira reunião de todas as partes interessada, só lá fez ir o consul da Cidade do Cabo - "não há dinheiro, e tal" e nenhum técnico.
E quanto deu a Espanha (que tem a Espanha a ver com isto, pergunta-se?) para o estudo do mesmo naufrágio que, recorde-se, é português? Deu, só numa primeira entrada, 300.000 euros...
Pois é.. como dizia a Adília Alarcão há uma diferença entre espanhóis e portugueses: uns correm os touros em pontas, outros correm-nos embolados.
O Vasco só esqueceu, na sua posta, quem é que levantou esta treta toda dos "espanhois".
Acho que clarificava um pouco o texto. Porque como está escrito, parece que foi o PS que, sequer, se referiu aos interesses espanhois.
Porque é que a Dra. Ferreira leite veio com esta estorieta? Não bastava o argumento do custo? È um argumento errado, mas pelo menos não tenta fazer de nós estupidos.
Caro, MFL é que troxe à liça o tema do tgv ligado aos interesses espanhóis que pelos vistos apadrinha. Mas repare, MFL disse que "o tgv apenas serve os interesses espanhóis" disse ela.E eu pergunto se uma linha só serve os interesses espanhóis, quatro linhas serve muito mais os interesses espanhóis, ou não? Se o que está em jogo são interesses espanhóis o "olho" político de MFL não descobriu esses interesses quando assinou as quatro linhas de ligação a Espanha? No que diz respeito a interesses a mudança de circuntâncias (endividamento)tem alguma coisa a ver? Quanto mais tentam "traduzir" o pensamento irreflectido e irresponsável de MFL mais barbaridades dizem sobre o assunto. Este seu post é um enxovalho à inteligência dos portugueses.
A MFL “entende que não há dinheiro”? Eu é que não entendo nada… Mas então o sublime, o extático, na MFL não era ela não saber a quantas anda? Está a perder um bocado o imobilismo mistico. Mexeu-se, perdeu. Não é desta que consegue ultrapassar aquela santa que esteve imobilizada durante trinta ou quarenta anos, sem comer nem beber.
Pá, e essa de levar um reparo do Berlusconi sobre os botões do casaco é gravissimo mesmo! Mais grave para a sua reputação e prestígio internacional, só quando o Alberto João lhe disser que ele não sabe tocar pandeiro.
Ó caramelo, O reparo do Berlusconi ao Sócrates por este não saber quais os botões de um casaco que devem estar apertados não é propriamente grave; é cómico, por ele se julgar um manequim, e é um enxovalho, que o nosso país dispensaria. Mas seria realmente muito pior se tivessem de lhe dizer que se não se esfregam os dentes com as unhas ou que se deve limpar a boca ao guardanapo antes de se pegar no copo. Isso, na verdade, seria muito pior.
José Neves, Percebi que não percebeu que eu entendo que há coisas que um Ministro dos Negócios Estrangeiros não deve dizer, mesmo que esteja em discurso partidário para os seus amigalhaços. Perceba então que eu não tenho tempo para lhe explicar duas vezes a mesma coisa, ao fim e ao cabo tão simples.
VLX, eu continuo com a ligeira sensação de que um “enxovalho” do Berlusconi, ainda para mais acerca de botões de casaco, não será bem um enxovalho, no sentido próprio do termo; que, pelo contrário, merece uma nota de rodapé no curriculum do visado, no capitulo da elegância no vestuário, sub-capitulo “apreciações cómicas do pândego do berlusca, aquele burgesso seboso italiano a quem nem um casaco ermenegildo zegna com os botões nas casas certas fica bem ”.
Quanto às coisas que um ME deve ou não deve dizer, lembro que ainda há pouco a MFL dizia, com um ar de torera, que não se amedronta com estrangeiros. Isto, a propósito do governo espanhol. Comparado com isso, e atendendo ao facto de ser um potencial chefe de governo que o diz, não um seu “ajudante”, como dizia o outro, o que declarou o ME é como um beijinho na testa do Zapatero.
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