Apanhei um susto. Apanhamos como quem apanha uma constipação ou moléstia vénerea. Ninguém diz apanhei um cancro. Quer isto dizer que os sustos transmitem-se; e está muito certo. No dobrar de uma esquina ou nas costas da cadeira da esplanada. São sustos e não são iguais. Em comum um factor: estávamos entretidos com as nossas manigâncias e apanhámos um susto. O susto é, portanto, um amigo e um agente duplo: não estamos sós. Um diagnóstico malvado às três tabelas e um alien na conduta do ar condicionado não provocam sustos. Metem medo, que, por sua vez, mete medo ao susto. O melhor susto é dado por quem não nos devia assustar. Está a mulher à janela da cozinha, num entardecer de cerejas, e o homem aproxima-se, por trás, sorrateiro. Ela apanha um susto. Que coisas malvadas estaria a senhora a pensar? Ou então tinha-se esquecido dele.
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