Pilar del Río, uma extraordinária escritora transgressora e rebelde, que afinal abdicou da carreira para se dedicar ao esposo, pergunta hoje, na Pública, como é possível haver mulheres que continuam a sentir fascinação pela figura do pai. É a figura do impostor, o depositário da autoridade divina e social. A resposta é simples. Há mulheres que tiveram um pai bom, carinhoso e protector, pelo que é natural que sintam fascínio por tal figura. Por que motivo alguém faz regra da sua má experiência individual e a partir daí pinta o mundo com cores de raiva e azedume? Porque ter-se sido mal amada torna insuportável a boa experiência dos outros. Daí a exaurir teses psicossociais de pacotilha é um passo. Pequeno e mais frequente do que se julga.
Pois a mim sempre me fez espécie como é possível - e é, pelos vistos, muitas vezes - que uma paixão com uma diferença de idades tamanha não tenha algo de patológico por detrás. Claro, tentações de intérprete psicossocial de pacotilha:) enfio o barrete bem enfiado. Mas eu cá na minha: - Procurará Pilar um pai atencioso e libertador? - Procuraria Edith Piaf um filho para proteger em Theo Sarapo? Pois eu - à parte não achar lá muito saudável sentir algo parecido com fascínio pelos progenitores, como ela sugere - não sei como pode alguma vez identificar-se o homem que nos gerou e o companheiro de vida das nossas mães com um impostor, o depositário da autoridade divina e social. Irrrra! Que má experiência! Só que daí a eleger esse perfil como prototipo paterno... é preciso mesmo não 'se enxergar'!
Assim como a Teresa não concebe que esse tipo de pais possa existir, a Pilar, não concebe um pai que não seja assim, e isso tem a ver com as experiências de cada um. Isto é como algumas mulheres por vezes dizerem que “os homens são todos uns trastes” ;) Mas a posição da Teresa é sem dúvida mais simpática. Quanto à Pilar andar à procura de um pai, não me parece que tenha sido esse o caso. Quando se juntaram, ainda o Saramago estava fisicamente vigoroso e já era tão intelectualmente estimulante como é hoje, independentemente do que se pense das suas opiniões. Compreendo por isso que uma mulher como a Pilar, que também já não era propriamente uma crança e que tem posições ideológicas e uma visão da vida muito semelhante à do Saramago, se tenha sentido atraída por este. Isto nada tem a ver com uma relação pai filha. Acho eu. Vou já mandar a conta da sessão para Lanzarote.
Pronto, caramelo, concedo. Pensando melhor no assunto - ainda que implausível - sou capaz de parar e descobrir espantada aí uns 2 ou 3 casos em que um maior derrotaria em toda a linha a garotada da minha geração :):) Questão de usos e costumes ou de preconceito: como queira.
Fernando, poucos têm estimulado tanto o debate intelectual como ele, sobretudo nos últimos anos (para não falar nos últimos meses…) e não só ao nível aqui da nossa pequena paróquia. Não é uma opinião, é um facto. Temos raiva que tenha sido ele? Paciência. O homem até colocou uma geração inteira a fazer um curso intensivo de estudos bíblicos.
FNV, ela fala do seu e dos outros. Acho que não prestaste atenção ao que eu disse
Teresa, acho que não percebi bem. “derrotaria”, em quê?
Essa de pôr uma geração inteira a atirar-se aos estudos bíblicos é demais :-) Mas isso é porque a polémica é, digamos, superficial ou genérica. A ver se com o 'Evangelho' também houve corrida ao verbo divino...
O cota derrotava em quê? (ai ai, nem acredito que estou a dizer isto:) Pois naqueles atributos de caça e - digamos - acasalamento: -Charme, saber fazer, verdade, valorização, simplicidade, noção do essencial, calma e ritual. E um treino imbatível em savoir vivre. Mas são só mesmo 2 ou 3 que estou daqui a imaginar:) hehe:)
Não conheço, que pena... Chauffeur é assim parecido com allumeur, não é? Escalfeta?:):) Quanto ao resto, caramelo, espere... tenha calma. Dê tempo ao tempo, não desespere. Vai ver que com alguns dons da natureza e uma boa vida, a idade pode fazer o resto (não é que me pareça ser o caso do Saramago:).
Ena, ainda vou a tempo de atingir o Nirvana nas técnicas de caça? Mas eu acho que vou estar mais preocupado com as dores de costas. A sério, eu espero antes envelhecer como o Saramago, alive and kicking. O verdadeiro charme não é exactamente cheirar a lavanda, usar papilllon ou saber dançar tango. Tudo coisas que o Saramago, aliás, provavelmente fará melhor que ninguém...
PS. O John, Chaufeur Russo, era um romance muito em voga nos tempos em que as mulheres dos cotas suspiravam desejando em segredo que aparecesse esse ser mítico de que fala ;)
Ó caramelo, você tá doido, só pode. - Tango, papillon, lavanda?! O que é isso, abriu a arca das zarabatanas do seu avô (estimável, com certeza)? Shi... Deixe-a estar fechadinha, faxavor! Frio, muito frio... O charme - ou o carisma, ou lá o que seja - não é nada disso, surge exactamente quando não se ensaia, até costuma parecer o seu oposto, percebe? E convive com a dor de costas e o still kicking (sobretudo este). E mais ainda, dispensa sorrisos (muitos sublinhados meus)e demais coisas óbvias. Mas deixe lá, "oriente-se" agora com as suas coevas e já não precisará de aprender a lição:) A vantagem da não haver grande diferença de idades é precisamente a de não se ser nunca somente avaliado pelo que se é (ou como se está) mas também pelo que se foi...
Ó Teresa, mas onde é que vai buscar essas coisas? Esse gajo é o cúmulo do cool! Nem o João Gilberto a tocar o seu violão ;) Eu acho que esse tipo de que fala nem se mexe, nem pestaneja e já tá a enfeitiçar as senhoras. Não tenho hipótese de ser assim, pois não? Paciência, pobre de mim. Ó Teresa, a sério, as pessoas normalmente são normais, não são assim, sejam ou não cotas. Normalmente, velhos ou novos, são desajeitados e querem é tratar da vidinha e serem boas pessoas. Gajos com esse "carisma" há-os em todas as gerações, não mitifique uma delas. Ah, e as senhoras ficam mesmo doidas por um homem que dance bem o tango;). Não deve é perfumar-se demasiado.
Baaasta! ;) Isto é aquela coisa do diálogo impossível entre linguagem de Vénus e linguagem de Marte. Não há remédio, é secular! E pensar que nunca ninguém conseguiu fazer um dicionário para os dois planetas estrangeiros se entenderem nas coisas mais básicas como "passa-me o pão sff". Aí o FNV é que devia dedicar-se a fazer um, a tarefa é mais para psis, hehe... Ficaria multimilionário e venderia uns biliões mais do que as memórias da Sarah Palin :) Depois passava o resto da vida em safaris...
Olha, isso é a conversa mais velha do mundo! Eu acho que já percebi o que tu queres dizer, ó venusiana. A gente quando chega a velhos ficamos mais charmosos, não é? Toda a gente chega a cota a queixar-se da garotada, pá.
Deves ter razão, ó caramelo:) Chega-se àquela em que, calhando, só eles é que as compreendem. Oh, se compreendem... já devem ter no cv as mesmas malandragens de que elas agora se queixam:)Terreno conhecido, portanto. É canja administrar o antídoto... Quanto à Pilar, eu no lugar dela teria 'optado' pelo Lobo Antunes, hehe (gaaaanda pinta). Pronto, vemo-nos por aí noutra desavença inter planetária:):)
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