Se alguém me pedir ajuda para assumir a sua homossexualidade, eu ajudo; se alguém me pedir ajuda para esquecer a Rosa, ou o João, eu ajudo; se alguém me pedir ajuda para deixar de ser homossexual, eu ajudo. Na psiquiatria não sei, mas ainda está para nascer a pré-Ordem de psicólogos, ou o jornalista, ou o blogger, que me impeça de ajudar quem me procura.
Filipe: Ajudar quem nos procura não é o que está em causa. O que está em causa é saber como ajudar que nos pede ajuda, pendindo-nos algo que consideramos que não o ajuda. Nesse caso, ajudamo-lo como pensamos, ou damos-lhe a "ajuda" que quer e que o desajuda?
subscrevo na íntegra, filipe. aliás, é esse o princípio fundamental de qualquer acompanhamento psicoterapêutico: uma pessoa com uma dificuldade/problema que quer transformar, e alguém, encartado, que se dispõe a prestar-lhe esse serviço.
claro que se poderá dizer: ser homossexual não é um problema/dificuldade em si para que alguém o queira transformar em algo diferente (tipo heterossexualidade).
e é aqui que começam a surgir as dúvidas. a psicoterapia tem limites ou não? pode mudar tudo o que lhe é pedido por um determinado cliente? e a homossexualidade: é problema/doença para ser tratada/curada/mudada? ou é normal e adaptativa e, portanto, deve ser aceitada? ou seja, se me aparecer um homossexual no consultório a dizer que quer deixar de o ser, o que faço? ajudo-o a tomar consciência de que terá que aceitar a sua condição e que, portanto, a única coisa a fazer é, por exemplo, viver em abstinência? ou deverei encetar um «tratamento» titânico para debelarmos a «doença»? e como se faz isso de «tratar» um homossexual: através da oração? através da exposição com prevenção da resposta (no caso de ser do domínio do obsessivo-compulsivo? através da interpretação das dinâmicas edípicas (lol)? através mais uma vez, da abstinência e do controlo dos estímulos? ora, tudo isto implica as pré-compreensões do técnico que presta o serviço psicoterapêutico, o que ele pense sobre a questão.
dito isto, sou do parecer que dificilmente uma pessoa homossexual pode deixar de o ser (e como profissional jamais me verei a ir por esse caminho!). no limite terá que aceitar a sua condição e fará uso de abstinência se, por qualquer razão (casamento heterossexual em acto com filhos, desidentificação com a cultura gay, receio do impacto social de eventual revelação), não conseguir viver em liberdade e assumidamente a sua homosexualidade. ou seja não sou adepto do «outing» a todo o custo, como também não confundo hmossexualidade com acting out sexual (isto sim a merecer intervenção clínica: tanto em heteros como em homos). acho que por agora pode bastar como achega para a reflexão. grande abraço [e é sempre um grande prazer lê-lo, apesar de ser lampião ;-)]
Como aprendiz de Psiquiatra digo-lhe que faz muito bem ajudar essa gente toda. Aliás, não é mais do que a sua missão.
A questão está em saber se convencer as pessoas a esquecerem que alguma vez conheceram a Rosa ou o João é a melhor ajuda. Sinceramente parece-me que não. E toda a evidência clínica e científica demonstra que não.
Ajudar os doentes não é fazer o que eles nos pedem, mas aquilo que está demonstrado ser melhor para eles.
Caro PM, A sua conclusão contraria a sua premissa inicial. Para mais, não convenço ninguém nem a isso aludo. Assim sendo, calculo que tenha vindo patrulhar. Apenas.
José, O ponto, como V. percebeu, é o da relação. E ela começa na pessoa que nos entra porta adentro.Ou estamos dispostos a aceder ao pedido da pessoa ou não estamos.
Eu acho muito bem que ajude quem o procure, designadamente nos exemplos que apresenta. Fico com uma duvida. O que faria perante alguém que pedisse ajuda para deixar de ser heterosexual ?
Caro Pedro, Presumo que está falar de pessoas que só tiveram experiencias hetero, envergonhadas, mas que querem assumir a atracção que sentem por pessoas do mesmo sexo. Já está incluído no post.
a questão é como ajudar alguém a deixar de ser alguma coisa que faz parte da sua condição identitária. suponho que a lobotmia e os electro-choques já estejam fora de causa. é que uma coisa é eu ajudar alguém a tentar resolver um conflito identitário, outra, como é dito no post, é ajudá-la a deixar de ser quem é. e quanto às ordens, aos jornalistas e aos blogs, o ponto é que a ética vem sempre em primeiro lugar.
Não. Um post não é um artigo científico. Percebe-se perfeitamente que digo que ajudarei alguém que sendo homossexual entende que deveria ser heterossexual mas não consegue ou tem medo. Exactamente o mesmo se a situação for a inversa, só que nesse caso não recebo comentários como o seu. A ética não obedece a agendas.
Não está em causa se devemos ajudar ou não alguém que não se sente bem com a sua orientação sexual. O que está em causa é saber se ajudar a "mudar" de orientação sexual é benéfico para alguém.
A evidência científica demonstra que não. A APA (Associação Americana de Psiquiatria), muito coerentemente com o compromisso que tem com o benefício dos doentes, diz que não.
É uma questão de (cons)ciência. A má prática reside precisamente em colocarmos a nossa agenda pessoal e política à frente do interesse dos doentes e daquilo que está demonstrado como mais eficaz para os ajudar.
Estou estupefacto. Pode, por favor, elucidar-me acerca da metodologia/tratamento que propõe para a reconversão sexual? E já agora, dos critérios diagnósticos, meios complementares e isso? Eu não sei que doença é esta que se propõe "ajudar" quem a tem, nem sei como se diagnostica e muito menos como se trata. É que eu pensava que isto já não se fazia há décadas...enganei-me certamente...Como é que se trata uma caracteristica intrínseca da personalidade das pessoas, da sua sexualidade e da forma como escolhem viver a sua sexualidade? Espero que, além de ter consciencia dos disparates médicos que aqui são ditos, que tenha também, para o bem da saúde de todos nós, a humildade de admitir intrinsecamente que a medicina e a psicologia mostraram que as terapias de reconversão sexual não são éticas, nem eficazes, nem melhoram a vida das pessoas. Aliás, são de uma brutalidade enorme para a sua saúde mental. Sugiro que trate das verdadeiras doenças, em vez de andar a brincar às doenças que só existem na cabeça de alguns ("profissionais de saúde"). As palavras do Pedro Morgado, nos dois ultimos parágrafos, resumem tb a minha posição. E não respondeu a uma pergunta concreta que lhe foi feita num comment. Se uma pessoa heterossexual, que só teve relações heterossexuais e que quer ser homossexual o procurar, também faz essa "reconversão"?
Reproduzo aqui o que afixei no Jugular ( post da Ana Matos Pires) mas que, não sei porque motivo, não entrou:
Fulana só teve relações hetero, mas sente-se atraida por mulheres. Tem medo ( social, ancestral, etc). Sofre. Eu ajudo-a a poder ir para a cama com mulheres.
Beltrano só teve relações homo, mas sente-se atraído por mulheres. Está confuso, tem receio. Sofre. Eu ajudo-o a ir para a cama com mulheres.
Quem falou em doença? Ninguém. Guarde as suas "sugestões" para si.
Realmente não falou em doença. Porque razão, admitindo que não considera a homossexualidade nem doença, nem perversão, nem anomalia, porque razão se propõe a mudar a orientação sexual de quem o procura a pedir ajuda? Se o colega não considera isto como uma doença, porque razão acha que a pode alterar a quem lhe fizer tal pedido? É que se me disser que trata a ansiedade, que trata a angústia, que trata o sofrimento...estou do seu lado a 100%. Agora não é isso que diz na ultima frase...diz que ajuda os outros a deixarem de ser homossexuais, ou seja, admite que tal é um problema, quando o real problema de quem o procura angustiado é toda a sua circunstância, e não a homossexualidade. Concluindo, o colega (não sei que profissão tem, mas penso que seja profissional de saúde mental, por isso lhe chamo colega) propõe-se reconverter orientações sexuais, muda a orientação sexual das pessoas. E isto, caro colega, não é nem ético, nem muito menos científico, nem saudável. É psicologia de vão de escada, é ciência de supermercado...as sugestões não sao minhas, caro colega, são da associação americana de psiquiatria,da associação americana de psicologia, da OMS, colega, da OMS!! e não são simples sugestões, são guidelines, são principios orientadores da ciencia médica. Está nos livros de psiquiatria, de psicologia, de sexologia, de pediatria... não são coisas ditas da boca para fora. A homossexualidade não é para ser reconvertida à heterossexualidade, nem o contrário. A sexualidade é das pessoas, faz parte das pessoas, não se muda colega...
Não me respondeu em relação aos metodos de... (como lhe chamo? tratamento? re-ajuste?) que usa. COmo se propõe mudar a orientação sexual? E mais, como comprova que os métodos funcionam, isto é, que os metodos tem custo benefício favorável? Estou extremamente curioso para saber.
Pois, no Jugular não respondi pela simples razão que não publicaram mais nenhum comentário meu. Meta na sua cabeça que se alguém entrar no meu gabinete e disse que deixar de ser homossexual, por estranho que pareça, eu tento ajudar. É tão estranho como um pai entrar-me porta adentro e dizer que quer esquecer a morte do filho.
"Reproduzo aqui o que afixei no Jugular ( post da Ana Matos Pires) mas que, não sei porque motivo, não entrou" e "Pois, no Jugular não respondi pela simples razão que não publicaram mais nenhum comentário meu."
Mas porque diabo hveria de ter sido censurado, Filipe? Já percebeu que estava enganado, espero.
Oh não colega, responda para aqui e não para o jugular...Diga lá, os métodos que usa? O que diz aos supostos "angustiados"? Como é que muda a orientação sexual das pessoas? Olhe ainda bem que não somos colegas. Se fosse médico como eu já tinha um processo meu em cima de si, na ordem dos médicos!! Em vez de ajudar quem o procura, o não colega desajuda!! Chiça, não há paciencia pra psicologia de vão de escada.
Pobre Nuno: o Eduardo Pitta, escritor, que vive com um homem há 30 anos,publicou o meu post. Também meterias processos ao Eduardo se pudesses; não duvido, meu desgraçado petulante.
Caro Filipe, se o Eduardo Pitta publica post seus, a mim, não me diz nada e não muda uma linha ao que disse. Dúvido, se quer que lhe diga, que a intenção do Eduardo seja que o Luis lhe altere a orientação sexual, é que duvido mesmo. De qualquer forma, pela enésima vez, vai-me dizer, ou não, que metodos de reconversão sexual o "não colega" usa? Por favor, diga lá, que eu morro de curiosidade.
FNV, Ainda bem q escreve assim. Preto no branco. Quer ajuda a mudar? Pim-pam-pum: está mudado. Filhos, netos, sobrinhos, amigos e filhos de amigos, todos estão avisadíssimos para, nem por engano, "cairem" nas suas mãos.
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