A morte é eticamente ( no sentido kantiano das prescrições de ordem particular) irrepreensível. Nunca volta atrás, nunca hesita, nunca compromete a sua
teleotes. Quando andei de
roda dela não mastiguei esta aresta.
Esta dimensão ética perturba uma cultura que acredita que pode negociar tudo. Talvez por isso nos temos empenhado em tentar adiar a morte ( o espectáculo do rejuvenescimento), em controlá-la socialmente ( a eutanásia) e mesmo em negá-la ( o sonho demente da clonagem).
Nada disto é especialmente novo ( excepto a clonagem): Tertuliano já vociferava contra a adulteração do corpo das matronas e Séneca simplesmente cortou os pulsos. O que é novidade é a transposição para o campo social : adiar, controlar e negar a morte tornaram-se tarefas colectivas da cultura.