1) Quando o professor Charrua fez um comentário jocoso sobre o PM, também não foi em privado? Só foi suspenso depois de terem sido ouvidas todas as partes, incluindo a tia Madalena? Ai estes rabos de palha.
2) Por outro lado. Quando o senhor Pinto da Costa gere o mini-bar do sr. Xistra, a gente assassina a privacidade por ouvir o arranjinho, mas quando o PM, com vol-au-vent de lagosta na boca, descarrega a bílis no sr. Crespo, aí já o caso é de relevância nacional? Muito me ensinam.
O professor Charrua, se bem me lembro, fê-lo no local de trabalho, durante o horário de trabalho, com colegas de trabalho. Mas digo isto apenas para salientar que são situações distintas: considerei o caso Charrua profundamente lamentável
Carlos, Claro que são distintas, mas comparáveis. Se fossem idênticas, que interesse havia em compará-las? E tem a certeza do que diz? Sabe se não foi junto á máquina de café na pausa para café, em amena cavaquiera?
Para o que nos interessa, qual é a relevância de o Charrua ter sido apanhado no local de trabalho, com colegas de trabalho e no horário de trabalho? Não eram conversas particular?
E como é que se pode negar o direito do ofendido em publicitar, na sequência de uma denúncia, o conteúdo de conversas que o ameaçam directamente?
Filipe, Só V. para me fazer rir a esta hora. Claro que são comparáveis. Tudo é comparável: o igual, o parecido, o diferente, etc. Certezas não tenho, mas isso nunca impediu ninguém de escrever o que quer que fosse, verdade? E mantenho: local, horário, com colegas.
Pedro, Esse «Para o que nos interessa...» deve ser dirigido ao Filipe, presumo. Eu não sei o que lhe interessa - nem me diz respeito -, mas é provável que não seja o mesmo que me interessa. A mim, interessa-me que exista liberdade de expressão. E por achar que esta é tão importante não a confundo com campanhas de marketing a livros. Estarei a ser injusto? É possível, mas as probabilidades pendem tanto para o meu lado como para o seu.
Reparo que nestas noticias sobre Crespo, há uma notinha que diz mais ou menos assim: "O artigo acabou por ver a luz no site do Instituto Sá Carneiro (órgão do PSD). "Não sei como foi lá parar", assegura Crespo,"
Ou seja, Crespo enviou um mail para o JN e ele aparece publicado num site do PSD...?
Isto não é violação de correspondência? Não se exige uma investigação para saber como é que um mail entre colegas vai parar ao site do PSD?
Estou a lembrar-me de uma situação "comparável" que deu imensa celeuma. nesta...nada.
Aprendi hoje, se bem compreendi, que não se devem ter conversas privadas nos locais de trabalho, dentro do horário de trabalho, com colegas de trabalho. E, quiça (isto já é extrapolação minha), se as houver, o empregador tem o direito de as "auditar", para usar um eufemismo. As coisas que se aprendem na blogosfera! Pergunto-me se tal teoria também se aplica a outros locais de trabalho menos convencionais, como o Parlamento, o Conselho de Ministros, os Conselhos de Administração das empresas públicas, as direcções dos institutos público e afins...
O melhor é nunca haver escutas nem filmagens. O Benfica, por exemplo, quando quer acertar o passo aos adversários, vira as câmaras de segurança para o tecto. Nem mais. Quem sabe, sabe...
o Benfica não, a Prosegur. foi com eles que o chefe de segurança do FCC se viu em apuros e teve que fazer sinal para os jogadores virem em seu auxílio. nós dominámos e ganhámos dentro de campo. mesmo com um penalty claro por assinalar e uma série de trauliteiros que ficaram tempo de mais em campo (e no túnel).
aliás, não eram vocês - os acólitos do Jorge Nuno - que vinham dizer que as questões levantadas pelo Benfica fora de campo eram uma maneira de tentar ganhar na secretaria aquilo que tinha sido perdido em campo? vá-se lá perceber isto...
Mas isto está tudo doido? Então o primeiro-ministro e mais dois ou três aulicos planejam em lugar público, em alto e bom som, o afastamento de um jornalista incómodo e acha-se normal? e invoca-se o direito à privacidade?? do primeiro-ministro??? num restaurante??? Já chegamos a Caracas?? E depois mistura-se a história com o tunel do Benfica-Porto? O Sandro pelo Sócrates??? O abismo é nosso porque o merecemos. Venha ele.
o problema, caro Gonçalo, não é a loucura. o problema é quando as pessoas rejeitam do primeiro-ministro aquilo que escondem e aplaudem ao presidente do seu clube. problema este que evolui para a situação em que se rejeita do primeiro-ministro aquilo que se defende e apoia do líder do seu partido. começa por aí, este abismo.
Ó Gonçalo: essa é de antologia." O PM planeia tramar um jornalista alto e bom som em lugar público". eheheheh...dever ser muito burro, o PM eheheheh....
Gonçalo, tem toda a razão! No artigo de A Bola o MST também se espanta com atitudes de gente aparentemente razoável e bem formada. São ódios clubísticos, que o Filipe é razoável e bem formado. Enfim, é pelo menos razoavelmente bem formado: a bola é que o forma bem irrazoável, passe o arrazoado. Mas esteve bem. Na forma. Razoável.
"Para o que nos interessa" é precisamente avaliar este caso do ponto de vista da liberdade de expressão. Tema que interessa a todos e certamente não lhe interessa mais a si do que a mim. E até porque, convirá, estou um pouco mais exposto do que o Carlos. A mim interessa-me a liberdade de expressão exercida contra o poder, contra todos os poderes, na relação necessariamente desigual que existe um jornalista e um governante.
Aquilo que é importante apurar não são as motivações comerciais do Mário Crespo - não as conheço - mas se o primeiro-ministro, os seus subordinados e um "executivo da tv" reunem planeando afastar jornalistas incómodos.
Considerando os antecedentes das personagens em causa, creio quee as probabilidades - claro: meras probabilidades - pendem mais para o meu lado,Carlos.
Quanto ao primeiro ponto que foca, fico, então, esclarecido: falamos ambos de liberdade de expressão. A mim interessa-me não só a vertente que refere, como todas as outras, inclusive a liberdade de expressão a favor do poder - não distingo. Quer dizer: de certa forma, até distingo, mas voltarei a este ponto no final (ao que falta referir).
No que concerne às motivações comerciais do Mário Crespo, para mim, são importantes, precisamente porque o que aqui está em causa é uma questão de confiança e credibilidade. Sem provas concretas, tenho de confiar na palavra de Mário Crespo, e para isso é determinante a medida da sua credibilidade. Não nego: motivações comerciais, em meu entender, e neste caso concreto, afectam a sua credibilidade, o que tem um impacto na confiança que deposito nas suas palavras - algo sempre subjectivo, evidentemente.
Quase por fim: as probabilidades. Do mesmo modo que o Pedro diz que pendem para o seu lado, eu poderia dizer que pendem para o meu. Eu disse que elas pendiam de igual modo para ambos os lados porque, até ver, é mais uma questão de fé do que outra coisa qualquer – uso o termo fé, neste contexto, como sinónimo de confiança.
E volto agora ao seu primeiro ponto, naquilo que, para mim, ele tem de mais delicado. O Pedro diz que está mais exposto do que eu. Porquê? Porque é uma figura pública, tem uma coluna de opinião? Não concebe que alguém perfeitamente anónimo - em termos sociais - possa estar mais exposto do que V.? Eu concebo. A (falta de) liberdade de expressão pode ser um problema para qualquer um de nós, seja mais ou menos conhecido. E, se quer saber - e aqui volto ao que afinal distingo -, preocupo-me muito mais com aqueles que não têm voz do que com pessoas como o Pedro, embora não deixe de reconhecer a sua importância numa sociedade que se quer livre e democrática - um Estado de Direito, afinal.
Eu distingo. A liberdade de expressão nasceu contra o poder e essa continua a ser a mais difícil de proteger, até mesmo nos tribunais. A liberdade de expressão, para mim, é inseparável da participação de cada de um nós na formação do discurso público. Sou absolutamente a favor de um entendimento democrático da liberdade de expressão. Não acho, como dizia o bastonário da ordem dos advogados contra a Manuela Moura Guedes, que a liberdade de expressão tenha como objectivo a descoberta da verdade. Acho que o seu objectivo é permitir a nossa participação livre e empenhada na defesa daquilo em que acreditamos.
Quanto à exposição, deixe-me reformular (referi o meu caso somente para refutar o seu comentário inicial à minha expressão "para o que nos interessa"). A minha maior exposição será, se quiser, uma questão de circunstância. Mais exposto no sentido de mais visível e, por isso mesmo, imediatamente passível de retaliações (embora não exageremos: não sou nenhuma figura pública). Mas há um segundo sentido em que lhe dou razão. A liberdade de expressão, quanto a mim, é tanto mais valiosa quando se tem alguma coisa a perder. E há quem fale e insista em falar tendo muita coisa a perder. Amanhã o Mário Crespo será contratado por outro jornal e a sua vida continuará na SIC. Com outros não é assim.
Creio que a liberdade de expressão é uma necessidade do Homem, e é inata. Reconheço, evidentemente, que acarreta mais riscos quando é exercida contra o poder. E subscrevo: o objectivo da liberdade de expressão é permitir a nossa participação livre e empenhada na defesa daquilo em que acreditamos. Contra ou a favor do poder, acrescento.
Quanto ao segundo ponto, a minha refutação inicial, que desaparece, em parte, com a sua explicação, parte da seguinte premissa: qualquer poder, e não apenas o político, tende a coarctar a liberdade de expressão daqueles que a ele estão sujeitos. Daí não concordar com a questão da maior ou menor exposição: esse factor só será relevante se estivermos a falar do poder político – e, mesmo assim, nem sempre.
Por fim, devo dizer que foi interessante trocar impressões na blogosfera com alguém que, estando em desacordo, argumenta de forma séria - é raro.
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