E regresso as vezes que forem precisas. Nesse
meu livrinho ( literalmente) muita coisa ficou inacabada. A pergunta-bigorna: quanto tempo vai durar? É uma espécie de teoria geral do esquecimento; ou da resistência.
No outro dia, uma mulher, quarentona e rosada, dizia-me que a coisa não andava. O pai morreu há dez meses. A meio caminho entre 80 e os 90, ainda a ajudava na loja. Carregava-lhe sacos. Aos domingos, quando ela entrava para o religioso, burguês, pacato e saudoso almoço de aldeia, atirava-lhe:
"A minha menina. Anda cá, quero dar-te um beijo". Assim mesmo. Ela lembra-se.
O tempo não cura, isso é óbvio. Mas como vivemos então? Porque nos habituamos. Porque nos habituamos à ferida. É um conceito estranho, passear um abcesso incurável ou um cancro que não mata? É.