Olhando bem as coisas como elas são, poderíamos até concluir que existe mais medo hoje do que no antigo regime. Repare-se: dantes, as pessoas escreviam nos jornais o que pretendiam, e tinha de lá ir a meio da noite um mangas-de-alpaca apagar o que na sua cabecinha tonta considerava que não devia ser escrito e publicado.
Hoje, não. Perdeu-se um funcionário público para o desemprego mas ganhou-se em eficiência e medo. O medo é tanto que os próprios jornais e demais meios de comunicação assumem as funções do censor. De resto, como Saramago nos tempos áureos da liberdade dele.
Amanhã, o medo será ainda mais eficiente: espera-se que o exemplo torne censores todos e cada um dos próprios comentadores. Quando chegarmos a esse estádio de civilização, os directores dos meios de comunicação deixarão de ser necessários.
"Squeeze us, for we are olives" disse uma vez um escritor acerca dos benefícios da censura. Neste país, para complicar as coisas, são muitas vezes Oliveiras os que censuram e as azeitonas são rotuladas de laranjas antes de serem prensadas. A censura, agora, só é mãe do slogan.
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