O método. Sem autoridade, sem medicação, o que sobra? A linguagem, a inteligência, todas as formas de comunicação.
Antifonte ( de Ramnunte) compôs a
Arte de Não Sofrer. Personagem que se desdobrou entre o orador e o terapeuta,
ainda hoje se discute as várias capas do teórico. Já cá o trouxe há muitos anos, noutro contexto - o da justiça na cidade. A
Arte era uma espécie de
psychagogia , uma mistela de terapia budista com taoísmo, visando a a harmonia universal. Tinha, no entanto, um elemento picante. Essa harmonia, coberta de
homonoia ( concórdia) era alcançada através da argumentação (
dia logon) :
o indivíduo mudava os sentimentos através de raciocínios adequados ( cf. a tradução das primeiras e segundas sofísticas feita por Ana Sousa e Maria Vaz Pinto a partir da versão de Diels e Kranz in
Sofistas, INCM, 2005).
Mudar sentimentos é um bom programa. Não implica esquartejá-los ( como na psicanálise) nem ignorá-los ( reduzindo-os a cognições como nas terapias comportamentalistas). Um exemplo:
Já não sinto nada pelo meu marido, mas também não me sinto segura com o meu namorado. É uma mulher, professora, que tem uma tragédia na sua vida ( morreu-lhe um primo-irmão na adolescência) e que hoje vive à frente de uma manada de búfalos. Não pára quieta.
O trabalho de oleiro tem sido o de ajudá-la a colocar os sentimentos nas caixas certas ( mudá-los, portanto, literalmente). Por exemplo ( outra vez) : um marido é um marido e um namorado é um namorado.