Quanto ao comentário do Paulo Gorjão: não nos devemos agora preocupar com o percurso profissional de um candidato a primeiro-ministro como se o mesmo fosse indiferente?
O que se sabe até agora de Passos Coelho é que é licenciado por uma universidade medíocre e que teve uma ascensão meteórica numa empresa do seu padrinho político, empresa essa que contou no passado com administradores acusados de crimes graves e que tem negócios com a câmara da qual o sócio principal é vereador.
Se é suposto suprimir mentalmente estes factos para que os mesmos não tenham qualquer influência na posição que se tem sobre a candidatura de Passos Coelho, então, partir de agora, o cargo de primeiro-ministro está disponível para todos, mesmo o idiota da aldeia, cuja condição de idiota também tem de ser mentalmente suprimida, sob pena de incorrermos nos crimes de maledicência e bota-baixismo. Ora bolas. Porcaria é esta maneira de tratar os outros como se fossem parvos e como se constatar o óbvio - a falta da idoneidade destas pessoas para os cargos a que se candidatam ou que actualmente ocupam - constituísse crime.
Não compreendo a tua indignação, Paulo. O texto não é ofensivo, apenas resume a escassez do CV do candidato que, diga-se, com tal CV, dificilmente seria candidato a outra coisa que não gestor de loja nos EUA. JB: isso é que eu não sabia também. E isso é grave ( o 2º parágrafo).
Aproveito para corrigir o meu comentário inicial: onde se lê "administradores" deve ler-se "sócios" da empresa em que Passos Coelho é, ele sim, administrador. Quanto ao resto, está na notícia da sábado que linko, que não foi desmentida por Passos Coelho, que, instado, não se pronunciou sobre a mesma, e por Ângelo Correia que a desvaloriza, dizendo que tais sócios não lidam directamente com a empresa.
FNV, o que é que aprendeste com aquilo, afinal? É a velha queixa da falta de curriculum dos candidatos fora da politica, combinada com a nossa ainda mais velha mania dos catedráticos. Abaixo disso, é “idiota de aldeia” ;) Espero que nos EUA não tenham os mesmos critérios de recrutamento. Aliás, não têm. Nem para cargos políticos, nem noutras coisas. Por isso é que são os EUA.
JB, “idoneidade”? O que entendes por idoneidade? Esse já outro patamar, mas era o que faltava, para compor o ramalhete.
Ninguém tem direito a ser eleito ou nomeado para líder de um partido ou primeiro-ministro. Para tal, tem de convencer os eleitores e um dos argumentos que estes podem - e, quanto a mim, devem - ter em conta é o currículo, passado, história, do candidato. E quanto a isso Passos Coelho, como Sócrates, não apresentam um currículo, passado ou história que os recomende para primeiro-ministro. É a isso que me refiro exclusivamente com a ideia de idoneidade. Parece-me simples bom senso que quem não tenha um passado que mereça confiança por parte dos eleitores não deve ser eleito. Isto é política. Dizer que usar tal argumento como critério de escolha dos candidatos é uma "porcaria" ou algo do género, é que se afigura ridículo. Depois não se queixem do regime estar sempre ameaçado por "esqueletos que saem dos armários" de sucessivos titulares de cargos públicos. Tem o Caramelo e os que assim pensam o que merecem. Eu, infelizmente, é que não tenho o que mereço e tenho de viver com isso.
JB, é óbvio que interessa o passado, curriculum, trabalho, dos candidatos do PSD. Vamos discutir o curriculum, passado e trabalho do Rangel? Ou do Aguiar Branco? E o esquecido Castanheira Barros? Também tem curriculum, coitado. Pode e deve também ser discutido. E a MFL? É que podemos mesmo discutir o curriculum, passado e trabalho de cada um deles, claro. Desde que se tenha em atenção que o curriculum não é um dossier cheio de páginas e nós sabemos que a MFL, por exemplo, terá um curriculum com trezentas. Qual foi o seu contributo efectivo, positivo, para o bem comum? É o que pergunta o recrutador. E a entrevista é também um factor importante de recrutamento. Por vezes, até o mais importante, como se sabe.
O Rangel sabemos que, para além de doutorado, e professor universitário, há mais de quinze anos, foi, com sucesso, líder da bancada parlamentar do partido e vencedor de umas eleições europeias.
O Passos Coelho sabemos que se licenciou pela Lusíada como chegou a administrador de uma empresa do seu padrinho político, o qual se faz acompanhar de pessoas acusadas de burlas e branqueamento de capitais; sabemos também que, para além de líder da JSD, em mais de trinta anos de militância, nunca foi deputado, autarca, ministro, secretário de Estado, enfim não ocupou um único cargo de relevo político, pelo que o seu contributo para o partido e para o país se reduz a um nítido nulo, zero, nicles.
Donde, em comparação, Rangel goleia. Assim como Ferreira Leite, cujo contributo para o país foi ter sido a única ministra das finanças a conseguir reduzir a despesa pública nos últimos 15 anos, assim como ter sido o único político a ter avisado repetidas vezes dos problemas do endividamento do país durante dois anos seguidos, enquanto era ridicularizada todos os santos dias por ser "velha" ou "bota-baixista".
E estamos conversados, portanto, sobre currículos.
JB, não estamos nada conversados. Mas já estás no caminho certo, o que é um avanço. Quanto ao “goleia”, alto lá, o jogo ainda não terminou. Também ando a ser governado pelo gajo. E fui governado pela Manuela. Que mais valia para o país é que resultou de o tipo ter sido líder parlamentar do PSD ou de ser eleito vencedor de eleições europeias? E como é que reduziu a Manuela a despesa pública? Eu lembro-me de controvérsias sobre um seu célebre orçamento. Fez-nos mesmo bem à saúde, a Manuela? O contributo do Passos para o país foi zero? É muito discutível. Mas ainda que assim seja, ficará ainda assim à frente do Rangel e da Manuela se o contributo destes tiver sido -1 ou -2.
Ó JB, olha que eu leio mais vezes a palavra “velha” da parte de apoiantes da MFL do que da parte dos seus adversários. O “eles chama-lhe velha”, vai sendo repetido ad nauseam. Eu começo a ficar convencido que vocês gostam ;)
Se entende que os contributos de Rangel e de Ferreira Leite foram negativos (não sei sob que parâmetros, mas enfim), terá de apresentar argumentos nesse sentido. Já lhe apresentei os meus: ambos denunciaram atempadamente - isto é, muito antes das eleições - quer o endividamento, quer o condicionamento da liberdade de imprensa, sem que o povo os quisesse ouvir. O tempo deu-lhes razão em relação a ambos os pontos. Hoje é certo que o governo mentiu relativamente à situação do défice (superior em 2,4 pontos) e também ao endividamento (que considerou questão menor e não impeditiva das obras públicas, sendo que agora o mesmo exige um programa de privatizações e a suspensão das ditas). Se isto não é um contributo político válido, não sei o que é.
O que é facto é que estamos de acordo quanto à circunstância de o contributo de Passos Coelho ser zero. Quanto muito, os pontos negativos que quer aplicar, assentam-lhe bem, porque fez o jogo do governo ao desvalorizar tais situações. Ora, para bom entendedor, tal significa que o homem não tem nada que o recomende para o cargo a que se candidata.
JB, começando pelo fim, não me lembro de concordarmos que o contributo do Coelho foi zero. Eu digo que isso é discutível. Mas as minhas dúvidas não se tiram com o simples facto de o tipo ter tido ou não cargos públicos ou ter sido coveiro ou empreiteiro.
O que eu venho dizendo é, precisamente, que o curriculum formal, os cargos, eleições, etc, só por si, não servem de muito para avaliar a capacidade de quem quer que seja para a governação. Esse era o meu ponto principal, e o JB acabou por me dar razão. Estamos enfim a discutir matéria que se veja. Quanto às denúncias, a MFL e o Rangel acertaram no primeiro ponto. Não no segundo. Lembro-me vagamente de a MFL dizer qualquer coisa como “o povo sente que não tem liberdade e isto é grave”, a coisa mais demagógica do mundo. E o Rangel foi dizer para o parlamento europeu que a liberdade de expressão em Portugal estava em causa, foi isso, não foi? Não está. O Passos Coelho desvalorizou esta questão da liberdade de expressão ou de imprensa (varia), foi? Fez bem. Mais um ponto para o tipo. Meu. Teria tido imensos pontos do seu próprio quadrante se dissesse o contrário. Quanto à actuação da MFL enquanto ministra, não sei de facto muito, não sou economista. Lembro-me simplesmente de ter sido contestada. Não sei se foi boa, se foi má. Diuscuta isto quem souber. Mas, lá está: é a sua actuação que deve ser discutida, não a página co seu curriculum que diz que foi ministra de tantos a tantos. Houve um tipo que também foi ministro e que foi logo contar ao pai que era ministro, não foi? Para o pai dele, pelo menos, o tipo ficou logo com um curriculum impressionante,
E por que carga de água é que não está em causa a liberdade de expressão, caro Caramelo?
É que a liberdade de expressão não é apenas um direito individual, é uma garantia institucional. O Tribunal dos Direitos do Homem, para não falar em mais meia dúzia de instituições internacionais respeitáveis, está farto de dizer que a liberdade de expressão, não é apenas o direito de a pessoa dizer o que bem entende, mas também uma garantia de que existe um espaço público de discussão de ideias em que o acesso à informação se faz de forma livre e incondicionada. É nesse plano, por exemplo, que o TEDH tem condenado os tribunais portugueses quando condenam jornalistas por violação do segredo de justiça em caso de notícias com interesse público. Se o governo condiciona esse acesso à informação por via do condicionamento da imprensa, é a liberdade de expressão, tanto quanto a liberdade de imprensa, que está em causa, porque ninguém fala do que não sabe, mesmo que tivesse direito a saber e esse direito lhe tenha sido negado. Donde, Rangel tinha razão em colocar a questão no plano da liberdade de expressão.
Claro que a Ferreira Leite deve ser discutida enquanto ministra.
Mas isso não vem minimamente ao caso, porque não é candidata. Entre os candidatos:
- Tem o candidato A que nunca foi titular de um cargo público e que por isso é politicamente inexperiente e que, para além disso, tem um passado que não o recomenda para PM, visto que em termos académicos e profissionais é de uma pobreza confrangedora.
- Tem o candidato B, cuja vida profissional é mais meritória e que, para além disso, desempenhou alguns cargos relevantes (tem experiência política) com sucesso, tanto que ganhou eleições (o que também não é de desprezar para um eleitor do PSD desesperado por vitórias).
Em quem é que o militante do PSD deve votar? Duh...
Claro que depois há outros critérios que têm de ser ponderados e que poderão alterar o juízo. Mas com franqueza, em relação a estes, não é minimamente duvidoso que Rangel tem vantagem sobre PC.
Até a condenação em tribunal por violação do segredo de justiça é um atentado contra a liberdade de expressão? Cum raio. ok, tá dito, tá dito.
Quanto ao resto, elejam quem acharem melhor para presidente do PSD. Pensem bem. Se forem pelas páginas do curriculum e o sucesso, eu acho que podiam pedir aos doutores Fernando Nogueira e Dias Loureiro que voltem. É malta que tem curriculum até para serem lideres de uma futura Federação Mundial. Os seus anos de universidade, ministérios, secretarias de estado, assembleias da república e de accionistas, gestões, milhas de avião, bodas de casamento, etc, etc., o trapio, enfim, fazem o Rangel parecer ter a experiência de vida e o sucesso de uma ameba paralitica.
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