Leio no Público que uns quantos socialistas vão propor na AR que se aprove um projecto de lei que proíba que se baptizem espaços públicos com nomes de pessoas vivas. A princípio, até porque a coisa é apoiada por esse exemplo vivo de um oco inchado, que dá pelo nome de Sérgio S. Pinto, pensei que se tratasse de um incentivo à eutanásia ("mate-se já e ganhe uma rua!"). Depois, pensei apenas que os deputados socialistas não têm nada de mais sério para fazer. Lendo a notícia, vi que estava enganado.
Um inteligente deputado socialista que dá pelo nome de Neto Brandão explicou-me, e ao jornal, que o PS está incomodado com uma prática das autarquias e que «há quem tenha sido glorificado, sem nada ter contribuído para o interesse da República».
Fiquei a perceber que, em primeiro lugar, o que verdadeiramente se passa é que o homem está descontente com o facto de pessoas de que certamente não gosta e com as quais se cruza terem os seus nomes nas ruas e cruzamentos. Que ao menos morram primeiro, os canalhas! Em segundo lugar, o despotazinho eleito não reconhece às autarquias, sejam municípios ou juntas de freguesia, a legitimidade e o poder de darem os nomes que entenderem às suas ruas sem a aprovação da capital, centrada na AR. A D. Mariquinhas, desconhecida dos deputados mas tão amada no seu beco, só lhe pode dar o nome depois de acolhida em fanfarra pelo Odorico Paraguaçú. Em terceiro lugar, essa limitada inteligência considera que os espaços públicos não podem ter nomes de locais, benfeitores ou beneméritos, artistas ou médicos, cientistas ou quaisquer outros eméritos, se não tiverem contribuído para o interesse da República. Que o Marquês de Pombal não mais possa ser nome de praça, de pouco me importa, mas que mal fez Vasco da Gama? Em quarto lugar, este candidato ao nobel do disparate acha que, depois de mortas, por qualquer motivo não há o risco das pessoas falecidas virem a ser «indevidamente glorificadas» com o nome da rua, praça, fontanário ou mesmo de cemitério. Pois, depois de mortas todas as pessoas são boas.
E o homem, completamente destravado, não se fica pelo cemitério: também não podem ser dados nomes de pessoas vivas a bens ou actividades privadas que, a qualquer título, hajam recebido apoio financeiro de entidade pública (a Fundação do Mário Soares vai logo de vela...).
Eu percebo o que esta sumidade e os que o acompanham querem: estes mortos vivos querem em vida um monumento a si próprios – um monumento à imbecilidade!
Não esquecer que após o episódio "chifres" do Dr. Manuel Pinho, foi arranjada uma fantochada em que o Sr. Dr. Manuel Pinho tivesse o seu nome numa Avenida na Cidade de Paços de Ferreira! Qual o bem para a Republica?
A lei podia excepcionar as pessoas com colesterol elevado. Ou com diabetes. Sempre estão mais perto de bater a bota, não é? A esses, autorizar-se-ia que tivessem uma placa num beco com o máximo de um metro de largura, por cinco metros de comprimento. E as pessoas ligadas à máquina, já poderiam ter o nome numa rua de sentido único com macadame. Eu vou dar o nome desse deputado ao corredor da minha casa. Uma singela homenagem ao deputado com a proposta mais estapafúrdia. Estão todos convidados para o descerrar da placa.
Esta lei parece-me razoável apenas por uma razão: não sabemos o que a pessoa vai fazer no que lhe resta de vida e se, de alguma forma, poderá “envergonhar” o seu anterior legado e criar uma situação embaraçosa. Lembro-me que Agostinho da Silva era totalmente contra a que se desse nome de rua a uma pessoa viva pois estávasse a criar-lhe uma grande responsabilidade ao homenageado que teria de se comportar condignamente.
Lembro por exemplo o caso do filósofo Louis Althusser que teria todas as condições para ser “nome de rua” como intelectual imérito chegando a ser considerado o novo Sartre. Se bem se lembram Althusser, a páginas tantas, estrangulou a mulher. Que fazer? Retirar o nome à rua? Manter o nome da rua pois o acto tresloucado não invalida o mérito intelectual? Tough decision.
Em relação aos seus comentários em relação ao centralismo e jacobinismo imanente no raciocínio dos proponentes da lei, aí estou 100% de acordo consigo.
O Miguel levanta uma questão interessante. Mas esse argumento também serve para os mortos. Em relação a muitos homenageados mortos, só mais tarde se vem a descobrir a sua falta de idoneidade nisto e naquilo. Muitos, mortos ou vivos, são homenageados por razões puramente politicas, pouco ou nada consensuais. Mas tudo passa, e a coisa acaba por reduzir-se a uma utilidade postal ou cenográfica. Acredito que muitos católicos se benzessem quando passavam pela recém inaugurada estátua do mata frades, na Portagem, em Coimbra (nos tempos da primeira república (?)). Agora, é praticamente só uma poiso para pombas.
Seguindo o raciocínio, talvez fosse melhor esperar dez anos após a morte? Para ver se não aparecia podre algum no entretanto? E fazem-se as regras a partir dos casos excepcionais? E um milionário benemérito que crie uma fundação com o seu nome para apoio social fica impedido de receber 1 € do estado ou das autarquias? (podia ficar aqui eternamente...)
A solução é colocar matriculas nas ruas, em vez de placas com nomes de pessoas. Ou placas com nomes de animais com contributos importantes para a nação, como cães policia, ou ratos de laboratório. Rua Farrusco, Rua XP534.
VLX, Valadares?? Isso é louça portista. A placa vai ser em porcelana de Coimbra, pintada a ouro.
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