O
Pedro Lomba coloca, em comentário no número anterior, a objecção natural: ao fim de algum tempo o novo partido estará igual ao velho. Não concordo porque:
1) Em primeiro lugar, depois do 25 de Abril,
* só assistimos ao surgimento de dois novos partidos com
habitat parlamentar: o PRD e o BE. O primeiro foi de iniciativa presidencial-regeneradora, o segundo resultou da maquilhagem dos ex-revolucionários. Nenhum ficou igual aos velhos: o PRD implodiu e o BE continua com características únicas. A UEDS e a ASDI , embora com linhagens de ruptura diferentes, acabaram por concorrer coligadas com o PS ( na FRS) e não interpretaram o
carácter destrutivo de que falei no primeiro post da série.
Não existe, portanto, ciência empírica que comprove a tese do Pedro. Pode é existir outro factor: a crença na impossibilidade prática e teórica do novo projecto.
2) Essa crença é razoável se pensarmos um novo partido na mesma configuração dos clássicos ( PSD actual e PS). Não tem de ser assim.
Um partido tradicional alimenta-se de critérios de representação que pertencem à velha ordem. Um grupo de iletrados, com baixa formação profissional, sobreviventes do sector primário e ancorados na memória afectiva da política portuguesa saída do PREC, já é raro. Um conjunto de quadros suburbanos sub-politizados, batidos nas alianças de freguesia, de espírito associativo ( da filarmónica ao clube local passando pelo porco assado), vai ser cada vez mais raro.
O que temos é um eleitorado jovem e urbano, tecnicamente complacente com a velha ordem , mas raivoso. Observamos com rigorosa frequência um voto de sobrevivência, ou de despeito, raramente de confiança.
Um novo partido teria de apresentar uma cinética harmonizada com os mecanismos de
stasis actuais. Por exemplo, em vez de concelhias ou de distritais: núcleos em univesidades, em grandes empresas, em redes de organizações não-governamentais, em organizações celulares ( forças de segurança, Igreja, etc), em suportes virtuais ( blogues, facebook, etc).
Se as coisas são o que são, como diz o Pedro, também é verdade que o que tem de ser tem muita força.
( cont.)
* Como refiro mais adiante, falo do pós PREC e pós-Constituinte, pelo que a Ana Matos Pires ( na caixa de comentários) tem toda a razão em chamar-me a atenção.