As críticas vão-se acumulando ( só posso agradecer, e muito, o interesse em discutir estes textos). O Miguel Madeira ( do novíssimo
Vias de Facto) , nos comentários ao número anterior, vê num novo partido uma organização semelhante à da extrema -esquerda portuguesa pré-BE; o
João Gonçalves bispa uma espécie de SEDES. Espero poder contrapor argumentos, mas, para já, mencionarei alguns aspectos laterais.
Sofremos, em Portugal, de uma sitiofobia inscrita no evitamento de novas organizações partidárias. Por um lado, isto deve-se à intoxicação pós 25 Abril ( até havia um jogo de sala com uma espécie de bolsa dos partidos políticos). Depois, no remanso dos anos 80, a infeccção do PRD deixou marcas na pele. Pelo meio, a ASDI e a UEDS representaram apenas a
fleur au fusil ou meros protestos contra a táctica.
Em França é diferente : a UMP ( 2002), sucessora do RPR; o MoDem ( 2007), ex-UDF; o Pôle Republicain ( 2002) , do J.P. Chevenement ; o MPF ( 1994); o NPA ( 2009) ex-LCR; o Noveau Centre ( 2007), com gente da UDF. É certo que são aproveitamentos de sistemas anteriores, mas não é menos verdade que significam uma mobilidade inexistente entre nós. O que quero dizer é que em França não existe a sitiofobia: um medo, uma angústia anómica face à alteração da ecologia partidária.
Repescando Luhmann e
a teoria como escândalo.Um novo partido, necessariamente saído do útero do PSD, terá de ser pensado teórica e comunicacionalmente, porque não existe hoje outra forma de renovar a actividade partidária. Gramsci percebeu isto há quase 100 anos, não nos deve custar muito fazer o mesmo.
O velho PSD ficaria com a armadura caracterial: o "país profundo" ( o das distritais, e concelhias, porque pelo verdadeiro, o das serranias e dos velhos que não votam há décadas, ninguém se interessa) , a banda filarmónica, o clube de futebol, o porco assado, os autarcas. O novo partido, desprezando os i
nstintos mecânicos ( os preconceitos em Lichtenberg), operaria a mudança através da destruição daquilo que se julgaria ser a sua salvação. Uma óptima forma de começar.
(cont.)