O Miguel Serras Pereira (MSP) dá-me o prazer da discussão:
neste comentário, ele renova a crítica ateniense ao oligarquismo e interroga-me sobre o estatuto do cidadão político ( passe a tautologia) . A minha insistência numa linguagem culta e elitista não tem nada a ver com ódio às masssas e o proto-fascismo ( está noutro comentário de outro blogger). Antes pelo contrário:
1) Oferecer frigoríficos, dar beijinhos em feiras e prometer comboios , ou seja, tratar os cidadãos como estúpidos, se não significa ódio, significa pelo menos desprezo pela cidadania.
2) Fascismo é outro assunto, ainda mais alienígena nesta discussão.
3) Também não está em causa a constituição de um corpo político de sábios, ou de ricos incorruptíveis, que reduziriam os cidadãos a a proles domesticados e silenciosos.
4) "Massas"? Em Portugal? É necessário um novo Marx para que os herdeiros renovem a linguagem.
O osso é outro.
Sloterdijk (
La mobilization infinie/ Bourgois, 2000) trabalha um campo que me interessa de sobremaneira, até porque é primo de áreas da psicologia social e das teorias de atribuição ( os modelos de Kelley, Jones, etc): o da credibilidade dos políticos. Nos regimes salvíficos, esse problema não se coloca - o líder e os seus
représentants em mission são ungidos das mais variadas qualidades. Sloterdijk, na linha do argumento do MSP, diz que o sujeito político moderno está reduzido à defesa dos interesses, o que conduz à sua autosubmissão enquanto cidadão. Sloterdijk não refere Hirschmann, mas é evidente que lhe aproveita a ideia.
A tese de Sloterdijk: o vazio da credibilidade não reside na alienação pela política dos "interesses autênticos das populações" ( "politologia vulgar"), mas na alienação que afasta a população das suas paixões em favor de interesses que são
implantados nas pessoas como um coração artificial.O que acontecer hoje no PSD é muito familiar à tese do
vazio da credibilidade de Sloterdijk.
(cont.)
Adenda: Em França não param: Villepin anunciou a criação de um novo partido político.