Numa conferência proferida em 2002 ( em Trent), sob o título Politische Visions und Praxis der Politik ( ed. italians e inglesas em 2004 e 2006), Ratzinger dá-nos a perceber uma das raízes do ódio que gera: os argumentos não são novos, mas são superiormente apresentados. Pensa melhor do que Himmelfarb ( a deusa de João Carlos Espada, por exemplo) e gasta metade das palavras do rabino Sacks ( um semi-deus dos ultra-conservadores britânicos e não só) . A pagina tantas, Ratzinger discorre sobre a ideia de progresso ( isto depois de ter oposto, numa dialéctica um bocado torcida, o Cristo salvator ao Cristo conservator). O problema é a ambivalência. A pergunta é sobre os mecanismos de controlo do progresso. Têm de ser morais, naturalmente, mas quais os critérios? Ratzinger recorda que o homem, enquanto homem, permanece o mesmo tanto numa sociedade primitiva como numa sociedade tecnológica. O Freud dos textos sombrios ( de O Mal estar na cultura , por exemplo) pensava o mesmo. Para Ratzinger, a humanidade começa de novo com todo o indivíduo, o que torna impossível a existência de qualquer nova, ideal e definitiva sociedade. Tal como Freud, Ratzinger defende que uma nova e perfeita sociedade pressupõe o fim da liberdade ( Freud, com ironia, dizia que seria necessária uma inimaginável dose de coerção para obrigar os homens a viver no amável e igualitário mundo socialista). A tese de Ratzinger é simples: uma sociedade ideal significa o fim da liberdade. Como o homem é livre por natureza, e recomeça em todas as gerações, temos de redefinir sistematicamente a forma social correcta. A essência da política será, portanto, o presente e não qualquer delírio futurista ou utópico.
"Ratzinger recorda que o homem, enquanto homem, permanece o mesmo tanto numa socidedade primitiva como numa sociedade tecnológica"
Isso e' uma grande falsidade, a nao ser que se interprete "enquanto homem" como "enquanto besta (animal)". E, sim, e' verdade, a esse nivel bestial e/ou animal, a biologia e' praticamente a mesma. Mas a cultura e' tambem um processo de transformacao e de hominizacao. E toda a sua cultura humana e a nossa visao do mundo--incluindo a pratica e visao politica-- se alteram 'a medida que decorrem as mutacoes tecnologicas. Nao somos os mesmos que os nossos antepassados do Imperio Romano, nem sequer que aqueles do Imperio Austro-Hungaro.
O Michel Serres descreve isto muito melhor do que eu. Demora uma hora, mas vale bem a pena.
É verdade no sentido freudiano. Mantemos intactas as capacidade transformadoras , mas também as predatórias. Hiroxima é uma versão da guerra dos clãs neolíticos.
O homem de Ratzinger faria mal se não tivesse testemunhas e precisa de cada vez que nasce de ser ensinado a ter cidadania senão mataria, roubaria. Não nasce bom, nasce "em pecado". Eu não concordo. Os valores morais, a noção de bem e de mal é intrinseca, pode ser modelada pela sociedade mas é intrinseca. Uma criança quando faz uma asneira pela primeira vez geralmente sabe que está a fazer asneira.
Por acaso, não: Dieu a permis, pour punir l'homme de son péché original, qu'il se fit um dieu de son amour-propre pour en être tourmenté dans toutes actions de sa vie. ( príncipe de Marcillac)
Pois a religião a contaminar, mesmo, o principe de mauriac. O pecado original. Acha mesmo que eu aceito uma leitura machista que diz que a mulher é uma perdida que fez com que o pecado (e o pecado é a expulsão do paraíso e o paraíso é o conhecimento) o primeiro, entrou pela mão de uma mulher.
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