A totalidade dos caso de pedofilia ocorridos na Igreja vindos a lume nestes dias ocorreram no pontificado de João Paulo II, um Papa inofensivo. Ratzinger, pelo contrário, é um Papa perigoso. Os casos rebentaram agora como castanhas velhas que reacendem o lume, numa vigorosa inversão do fogareiro. Não há nada de misterioso nisto, nem no facto de os valentes advogados mediáticos das vítimas ( alguns célebres pelo desconforto com o divino) terem estado calados estes anos todos. É a luta e a natureza humana. Ratzinger é perigoso porque reassumiu o discurso natural da Igreja. Radical, doutrinário, cheio de certezas sobre a vida e os homens, tudo bem embrulhado no desprezo pela liberdade como valor universal. Uma boa parte do aparelho universitário, mediático, cultural e político não estava habituado. A corrente é a da supremacia da esfera individual sobre a comunitária e da experiência sobre a tradição. Ao Islão europeu fica reservado o papel de mulher peluda: por um lado valida a variedade das formas, por outro funciona como vacina contra o regresso da obrigação religiosa ( hei-de cá trazer uma feminista muçulmana que porá as orelhas dos meninos multicuturais-gauche a arder). Ratzinger assestou o fogo nas fragilidades da cultura da experimentação. Sublinhou o carácter desagregador da equalização de todos os valores sociais e, sobretudo, fez algo de venenoso para a cultura da normalização : recordou que se pode influenciar pessoas sem passar pelo crivo do julgamento politicamente aceitável, dominadíssimo pelo tal aparelho mediático e universitário. Veja-se o responso que passou aos bispos portugueses, instando-os a dar menos corda ao folclore das romarias e a investir na discussão nas universidades, nos media, na política. Ratzinger tem , portanto, um problema esquinado para resolver. O contra-ataque dos mullah da pleonexia foi certeiro. Já não se limitam a impedir que fale em universidades ( lembram-se?): se a Igreja coloca as coisas no plano da irrepreensibilidade moral ( prescrições universais) , tem de agir em conformidade. O restolho ( as pelejas infantis sobre as orientações sexuais dos pedófilos) não interessa, o que importa é saber se a Igreja aguentará o embate. A verdade liberta? Pois que avance. E a Igreja tem de reagrupar. É vital que se mantenha na stasis europeia, pelo menos, uma voz representativa e céptica face à despersonalização implacável erigida como estandarte da liberdade.
A metralha era certa antes do post. Ela anda solta há uns tempos, patrulhando blogs, à procura de alvos, cheia de bravata. O que falta é quem use o cérebro sem medo. Por isso, parabéns!
Chamar "inofensivo" a um papa como João Paulo II, que a Igreja Católica gosta de proclamar como o grande herói do derrube do comunismo é um ponto de partida que vicia toda a análise. Se alguém constituía um perigo a combater, parece-me que era João Paulo II, um papa político que travou um combate sem tréguas contra o comunismo. Não Ratzinger, cuja mensagem é, tanto quanto eu a leio, uma mensagem de cerrar fileiras em torno da doutrina essencial em que os católicos acreditam, isto é, uma mensagem de um católico para outros católicos, uma mensagem interna, portanto, que deixa os não católicos indiferentes, como assunto que não lhes diz respeito. Não posso, por isso, subscrever a análise do post. Se os actos pedófilos no seio da Igreja servissem, no tempo de João Paulo II, como arma de arremesso contra o Papa, tal arma nunca deixaria de ser usada. Muito mais do que agora. O problema - não vale a pena escondê-lo - é que a Igreja, que se arroga o direito de julgar as abortistas, os homossexuais, os divorciados, só o podia fazer se fosse impoluta. Só podia atirar a primeira pedra, se nunca tivesse pecado. A verdade é que pecou. Não podia esperar que aqueles que são o alvo habitual das suas campanhas de moral sexual ficassem agora calados. Há uma campanha não inocente contra a Igreja? Claro que há, mas foi a Igreja que deu o flanco a essa campanha. Não se pode queixar. Por que haviam os inimigos da Igreja de se abster de explorar esta fraqueza?
Funes, O seu texto passa por um ponto de partida que vicia toda a análise.
A Igreja não se arroga direito algum de julgar nem julga as abortistas, os homossexuais, os divorciados. A Igreja anuncia quais são as suas posições sobre os assuntos, as pessoas seguem-nas ou não.
Outro ponto onde se escaqueira é quando supõe que a Igreja só poderia intervir se fosse impoluta. Não sei de onde foi retirar esse absurdo nem que ideia tem de “Igreja”, mas a Igreja é constituída por homens e mulheres. Como poderia ser impoluta? Onde ouviu algum responsável arrogar-se dessa qualidade?
A Igreja não dá flanco nenhum: os — você disse bem — “inimigos da Igreja”, que nunca gostaram da sua mensagem, limitam-se a cavalgar o seu acto de contrição.
1 -“Só podia atirar a primeira pedra, se nunca tivesse pecado” Homessa. Onde é que se foi buscar essa ideia que a igreja, uma instituição milenar, ultracomplexa, gerida por mortais não pode pecar? A igreja é composta por homens e mulheres e não por anjos e arcanjos em sinfonias celestiais. Albergou uns tantos canalhas ao logo da história? Claro que sim. Ainda alberga? È provável. Pecou? Naturalmente. Sucede que, a Igreja Católica é, hoje, um reduto inquebrantável da defesa e dignidade do homem, muitas das vezes o último sustentáculo dos desvalidos, sejam eles imigrantes, velhos, doentes, crianças ou simples infelizes. “Malhar” na Igreja é um predicado para a esquerda “Santos Silva”, é fácil e fica sempre bem. 2- A pedofilia é hedionda. Ponto. Algumas “almas sensíveis” da esquerda progressista, e às vezes de caviar, que se levantaram em histérica defesa de um artista, hoje rasgam as vestes por casos ocorridos no antanho. A questão subjectiva é decisiva: Uns são artistas, outros facínoras da nefanda Igreja Católica. A Igreja não pode deixar de expressar, como já fez, uma posição inequívoca: casos de pedofilia, independentemente da data em que ocorreram, devem ser igualmente julgados e punidos, se for o caso, pela Justiça Comum. Seja um Artista ou um Bispo.
Mas então, vamos lá a ver: Ora a Igreja está a voltar ao back to basics, segundo diz o FNV, que é a ameaça das penas do inferno e do purgatório para os pecadores, incluíndo os gentios, na boa tradição universalista e sem contemplações para o politicamente correcto, ora bem que é essa coisa de que fala o VLX, esse grupo de homens e mulheres que anunciam “posições” e que não julgam nada nem ninguém, o que encolhe a Igreja à dimensão e densidade espiritual e teológica dos funcionários a recibo verde do gabinete de imprensa do Vaticano.
Pela minha parte, não vejo as coisas assim. O mundo mudou, Caramelo.Sabias? O que um discurso natural da Igreja pode trazer de bom é um contraponto à adoração da liberdade individual como único alvo da sociedade.
"A Igreja não se arroga direito algum de julgar nem julga as abortistas, os homossexuais, os divorciados." Essa agora! Na recente polémica em torno do abortamento, a Igreja não defendia a criminalização da prática, com as correspondentes sanções penais? E não teve, até há bem pouco tempo, reflectida na nossa lei civil a indissolubilidade do casamento católico, por acordo com O Estado Português? E não defende sempre (como é aliás de esperar que o faça) a adopção da moral católica, se for possível com sanções bem terrenas? Disclaimer: Não sou católico; mas também não sou anti-católico; nem intelectualmente cego.
FNV, eu sei que o mundo mudou. Parece-me que estavas a dizer que o Papa reassumiu agora qualquer coisa que colocará o mundo, pelo menos a Igreja, outra vez em certos e determinados eixos. Deixa-me dizer-te que não percebi muito bem quais são, ou seja, o que é o tal “discurso natural”, e apenas de pus a adivinhar. Mas pelo que sei, e disto tenho a certeza, isto tem estado de tal forma que parece que só é possivel irmos para o Inferno se acreditarmos nisso. É assim, não é? Ora, não é isso o tal primado da liberdade individual que o Papa radical quer combater? Mas isto está pior e mais perigoso do que um debate entre dominicanos e franciscanos na Idade Média.
"a Igreja não defendia a criminalização da prática, com as correspondentes sanções penais?" Não. O que a Igreja defende é que o embrião é vida humana. O resto são decorrências normais da lei.
Tem piada que o JPII nunca foi considerado inofensivo. Sofreu duas tentativas de homicídio, sendo um papa politica e iedologicamente bem mais turbulento que o pobre ratzinger. E sim praticou activamente o encobrimento de casos de pedofilia que agora rebentam nas nãos do seu sucessor.
Quanto ao resto, não gosto destes discursos bem humorados que desculpam a pedofilia.
Volto a repetir que o inofensivo se refere aos aspectos discutidos neste post. Quanto às suas opiniões sobre a densidade de JPII, isso não me diz respeito.
Gonçalo Soares: Deus me livre(é o caso de dizer)de deixar-me arrastar para uma discussão sobre se o feto é ou não é uma vida humana: essa discussão vai dar ao beco de onde se partiu. Mas quanto a "O resto são decorrências normais da lei." permito-me traduzir para uma versão mais castiça, que é esta: Relaxar ao braço secular - era a que a Santa Inquisição usava.
A Igreja Católica diz que o aborto é uma coisa má. E é. Não conheço ninguém que diga que o aborto é uma coisa boa: destruir uma vida que se está a desenvolver e que se desenvolveria naturalmente se nenhum mal lhe fosse feito não é coisa boa em qualquer latitude do mundo. E há milhões de pessoas que não acreditam em religião alguma e que pensam o mesmo, não é preciso ser-se da Igreja Católica.
Virando a página: para a Igreja Católica, o casamento é indissolúvel (o que pode verificar-se é casamentos nulos). Se para o Estado Português também era, queixe-se do Estado Português, é uma questão de lei civil e completamente desinteressante no caso.
Como devo ser intelectualmente cego, não sei a que "sanções bem terrenas" se refere.
...no sábado passado fiquei atónito com o anátema lançado por um historiador da nova moda que amaldiçoou a nova "inquisição laica"(sic!!!).
...eu não quero ser metralha nem bomba de nada; a discussão sobre as religiões interessa-me só do ponto de vista das construções humanas que elas representam; o interior das mesmas é-me completamente alheio, embora considere que algumas são mais obscuras,perigosas e absurdas do que outras; mas aceito a minha "ignorância teológica (?)" e fico-me por aqui.
(A minha ânsia de conhecimento não passa, definitivamente, por estes -para mim- tristes caminhos.)
E detesto os "Santos Silvas" dos dois lados. (Ainda me lembro do "saudoso" Krus Abecassis de crucifico ao alto numa manifestação contra a projecção de um filme francês de Godard em....1984!!!)
Mas o que me traz aqui é o religiosamente correcto que tende a desculpar e a enviesar tudo o que não é agradável à vista e ao, sobretudo, pensamento livre.
A Igreja não julga e não tenta impor a todos, pela Lei, aquilo que acha que é o mais correcto? Essa é boa!
Não há (mais) mal que venha ao mundo por a Igreja Católica o pretender fazer. Está no seu direito.
A grande diferença (que para uns é enorme Avanço; para outros inconcebível Retrocesso) civilizacional é que cada vez mais é a laicidade que dita as leis e não a ameaça de purgatórios ou infernos imaginários.
E essa "ameaça" tem vindo a perder em toda a linha. Goste-se ou não.
No caso vertente dos padres pedófilos que, erradamente, alguém referiu como tendo sido praticados só durante JPII, o cerne da questão está na lei.
Na sua omissão. Na sua ocultação. Na sua cumplicidade.
Pedófilos, dentro ou fora de qualquer instituição, devem ser julgados. Lançar poeira para o ar ou desviar as atenções não é (lá muito)sério.
VLX: Já tinha dito não querer ser arrastado para a vexata questio do abortamento: para esse peditório já dei; e, a julgar pelo chorrilho de truísmos que entendeu alinhar a propósito, faço bem em abster-me. Quanto ao resto, "intelectualmente cego" terá sido uma expressão infeliz, não pretendo nem tive a intenção de ofender. Mas não parece que, tendo o Estado Português até recentemente imposto aos casados que deixaram de ser católicos que não pudessem divorciar-se; e sendo este aspecto da Lei Civil uma decorrência da Concordata: exigir que se verbere o Estado mas não a Igreja é ilógico. Diria mesmo, se não se ofendesse (o Amigo parece ser um tanto susceptível) que é intelectualmente desonesto.
...eu compreendi que o seu post não era sobre pedofilia. E existem parágrafos do mesmo que me mereceriam comentário(s).
(Contudo, os "interiores" da Icar, da Igreja Evangélica do Sétimo Dia, das Testemunhas de Jeová, da Igreja Ortodoxa Grega ou Russa, do Islamismo xiita ou sunita, da Thora ou dos seguidores de Shiva não me interessam)
Portanto, neste campo, ficar-me-ei por aqui. (...) Deixo este espaço aos especialistas.
O FNV Pretende afirmar que a questão da pedofilia clerical é apenas um pretexto, "uma arma de aremesso" numa luta mais global, uma notazita de rodapé para atacar bento XVI porque o pobre homem "faz medo" ( é perigoso) por outras questões mais capaciosas.
Ora bento XVI, embora para alguns mais incautos possa parecer a face mais intelectual de um certo "fundamentalismo católico" radtrad, não faz medo a ninguém nem constitui objectivamente risco nenhum para uam sociedade laica e democrática. B16 limitou-se a dar continuidade ao "pensamento doutrinário" do papa anterior sobre algumas questões morais um bocadinho ridículas que foram o cavalo de batalha do papa JPII ( estou a lembrar-me da luta contra o preservativo e pílula contraceptiva, a proibição de investigação com células estaminais, a diabolização das técnicas de reprodução medicamente assistida ou mesmo o aborto terapêutico...)
Nada disto é novo -- tem pelo menos a idade do pontificado anterior. A única diferença é que o papão do comunismo foi substituido pelo papão do "laicismo /ateísmo" e os eflúvios homofóbicos por parte da cúria romana se tornaram mais intensos. Basicamente o discurso ideológico é o mesmo de JPII.
Voltemos então ao cerne da questão - B16 não tem nem metade do carisma nem da coragem física e moral do seu antecessor. Tem mais brilho intelectual e académico, definitivamente, mas não é de grandes alvoroços intelectuais que as pessoas têm medo... è um pobre velhinho simpático de 86 anos que gosta de tocar piano, e usa gorros iguais aos do pai natal. De vez em quando diz umas coisas ininteligíveis para a maior parte da populaça. E é bastante feio, o que conta muito , nestes tempos de ditadura mediática.
Uma figura apagada, que não vende nem arrasta multidões. Até porque a sua tendência ultratradicional não é afinal tão óbvia. A sua última encíclica sobre questões sociais é no mínimo progressista a tender mais ali para os lados do socialismo e deixou algumas almas católicas mais fascistóides com vergões de urticária.
Então voltemos á questão central do post do FNV - a questão da pedofilia clerical como arma de arremesso contra BXVI. De facto muitos dos casos e crimes agora vindos a público passaram-se durante o papado anterior.A pedofilia clerical sempre existiu no seio da igreja católica,sempre foi alvo de silenciamente das vítimas e encobrimento tácito dos transgressores.
Porquê então tanta visibilidade, precisamente agora? Por uma razão simples - só muito recentemente houve denúncias, só muito recentemente houve condenações efectivas em tribunal e pedidos de indemnização feitos pelas vitimas, e o impacto mediático disso multiplicou-se.
Fazer deste epifenómeno uma "interpretação persecutória" é, objectivamente desculpabilizar a questão da pedofilia, vitimizando os agressores e os resposnáveis institucionais (papado incluido) que ocultaram os abusos.
Não o post não é sobre pedófilia é sobre hipócrisia. Vinda do estado, da igreja, da sociedade portuguesa de pediatria ou de psicologia, ou de um clube de futebol, deve ser combatida e mudada. Não um "bem superior" na defesa destes ou outros agrupamentos de interesses ou de pessoas que justifique atropelar os direitos das crianças violadas.
1 «Só podia atirar a primeira pedra, se nunca tivesse pecado” Homessa. Onde é que se foi buscar essa ideia que a igreja, uma instituição milenar, ultracomplexa, gerida por mortais não pode pecar?»
Eu nunca disse que a Igreja não pode pecar. Disse, sim, que só podia julgar, se não o fizesse. Esta ideia peregrina fui buscá-la ao Evangelho Segundo São João 8, 1-11.
Mas a Igreja não julga ninguém diz-me. Limita-se a apontar caminhos. Bem é duvidosa que seja essa a opinião dos condenados pela Inquisição, embora reconheça que este é um argumento fácil. Mas se não julga, por que se empenham tanto os católicos (a começar por um homem de inteligência superior como o Bispo do Porto) em exigir um referendo sobre o casamento homossexual? Quem não julga emite a sua opinião, declara o casamento homossexual um mal, um pecado hediondo, uma infâmia, o que quiser, mas não se empenha em mobilizar a sociedade civil para o impedir. Não será? Eu admito que a Igreja censura a gula, a avareza, a inveja, mas não julga nem pede ao poder temporal que julgue os gulosos, os avaros ou os invejosos. Mas não é esta a sua posição em matéria de moral sexual. A Igreja julga e exige que seja julgada a homossexualidade, por exemplo. E não se diga que a Igreja não julga a homossexualidade, mas apenas o chamar-se casamento à união homossexual. É que esta última é uma questão meramente semântica que não justificaria a batalha em que a Igreja se empenhou.
"Mas a Igreja não julga ninguém diz-me. Limita-se a apontar caminhos. Bem é duvidosa que seja essa a opinião dos condenados pela Inquisição, embora reconheça que este é um argumento fácil".
E é. Por essa lógica não haveria um único comunista ou socialista autorizado a falar sobre a liberdade.
Pessoalmente, não acho o tema muito interessante, porque é daquelas discussões talhadas para os processos de intenção: - vocês utilizam estes casos como pretexto para "atacar a Igreja" (?); - vocês são o cúmulo da hipocrisia porque pregam a virtude e "encobrem e compactuam com a pedofilia"(?). Neste tipo de conversa, as cabalas vivem felizes. É óbvio que a Igreja, enquanto instituição, não pode responder, em plano algum (moral, jurídico, ou outro), pelos crimes dos seus membros. Mais do que isso, não vejo por que razão a Igreja (ou os seus representantes) haveriam de ter um particular dever de denunciar os abusos sexuais às autoridades (dever que ninguém tem, salvo quando a lei o impõe), mais do que em relação a qualquer outro crime cometido pelos seus membros(homicídios, fraudes, etc.). O que pode legitimamente censurar-se à Igreja é uma coisa diferente: é aquilo em que (alegadamente) ela agiu *como Igreja*, criando ou coonestando, enquanto corporação, procedimentos que impediram a denúncia dos factos pelas vítimas ou seus familiares - e, sobretudo, mantendo em funções (com o inerente perigo de repetição) pessoas acerca de quem se multiplicavam as queixas. Só isso - mas tudo isso, e muito legitimamente - pode apontar-se à "Igreja". O resto são responsabilidades de cada um.
Saem debaixo das pedras. Bem tentaram a técnica da lapidação... Dados: US clerics (priests, deacons, bishops) accused of abuse from 1950-2002: 4.392. About 4% of the 109,694 serving during those 52 years. Individuals making accusations: 10,667. Victims' ages: 5.8% under 7; 16% ages 8-10; 50.9% ages 11-14; 27.3% ages 15-17. Victims' gender: 81% male, 19% female Duration of abuse: Among victims, 38.4% said all incidents occurred within one year; 21.8% said one to two years; 28%, two to four years; 11.8% longer. Victims per priest: 55.7% with one alleged victim; 26.9% with two or three; 13.9% with four to nine; 3.5% with 10 or more (these 149 priests caused 27% of allegations). Abuse locations: 40.9% at priest's residence; 16.3% in church; 42.8% elsewhere. Known cost to dioceses and religious orders: $572,507,094 (does not include the $85 million Boston settlement and other expenses after research was concluded). (Hartford Courant, 2/27/04)
A partir de 2000 a coisa explodiu. Até aí a lei da máfia do silêncio prevaleceu. Os legionários de cristo então é um case study the encobrimento papal.
E note que nem é isso o essencial ( do meu ponto de vista), porque desde que Ratzinger chegou, o cerco apertou ( o episódio do boicote ao discurso numa universidade italiana é simbólico).
Óptimo post! No decorrer da conversa que gerou -que confesso não li toda- alguém disse:"a Igreja pecou? Naturalmente!" Não! A Igreja não pecou. A Igreja não peca; pecam os seus membros. A ideia de que a Igreja peca já é velha e foi já respondida. Lutero considerava que a Igreja era Sancta ac Peccatrix, mas a Igreja ao ser Cristo não pode ser pecadora. O concilio Vaticano II responde que a Igreja é "simul Sancta et semper purificanda" (santa e ao mesmo tempo sempre necessitada de purificação). Os casos desta nova etapa da cruzada contra este Papa - ele são os mouros, ele são os preservativos, ele é o bispo lefrevbriano, ele é a canonização de Pio XII, a oração de sexta-feira santa para a conversão dos judeus, etc.– são um bom exemplo disso mesmo: a Igreja mantêm-se Santa, mas os seus membros necessitam de purificação. Isto porque entre os membros da Igreja que são Igreja e Cristo que é a Igreja há uma relação de união de tipo hipostático,mas isto levaria tempo a explicar e este não é o sítio. só mais uma coisa: atenção à questão da confusão entre pedofilia e sexo com menores; não é a mesma coisa.
“O que pode legitimamente censurar-se à Igreja é uma coisa diferente: é aquilo em que (alegadamente) ela agiu *como Igreja*, criando ou coonestando, enquanto corporação, procedimentos que impediram a denúncia dos factos pelas vítimas ou seus familiares - e, sobretudo, mantendo em funções (com o inerente perigo de repetição) pessoas acerca de quem se multiplicavam as queixas.Só isso - mas tudo isso, e muito legitimamente - pode apontar-se à "Igreja". O resto são responsabilidades de cada um.”. Aqui está, em escassas e doutas palavras, a essência e resposta da questão responsabilidade da Igreja. O resto é a turba anticlerical a salivar: “Alegações de 'pedofilia', algumas com mais de cinquenta anos, puseram muita gente em bicos de pés a gritar contra o Papa. Mesmo tendo em conta que os pedófilos são as bruxas do século XXI, há aqui algo de estranho. Bento XVI tem sido, entre os papas, dos mais intransigentes em relação ao comportamento do clero. Para a nova inquisição laica, porém, nada é suficiente: exigem histericamente que a hierarquia católica admita o que já admitiu, peça as desculpas que já pediu, castigue quem já foi castigado, e deixe de reivindicar um foro especial que há muito não reivindica. Desconfiemos de tanta indignação à mostra. Haverá por aqui algum escândalo genuíno, mas o mais é circo mediático e sobretudo a má fé sectária de quem não quer ver menos do que a "maior crise da Igreja desde a Reforma" http://aeiou.expresso.pt/rui-ramos=s25280
... o inenarrável "argumento" da nova "inquisição laica" de volta à carga, pois.
Sim, sim, a Igreja Católica actual tem toda a "moral do mundo" para falar em inquisições, como todos sabemos.
Mas o mais espantoso foi hoje dito por alguém que vive na península itálica, num alto cargo vaticanal e que raciocina como os que queimavam pobres desgraçados:
"existiria uma conjura mediática (sic)" para combater a figura do papa e o papel da sua igreja."
(E os "Legionários de Cristo" seriam as primeiras e inocentes vítimas, não?)
No hipocrisómetro do século XXI é, de facto, uma excelentíssima medida.
"Eu não vejo, eu não oiço, eu não falo"
Adenda: "...não haveria um único comunista ou socialista autorizado a falar sobre a liberdade."
...ou não haveria também um único "democrata-cristão" e o seu apoio/participação/conluio em ditaduras sanguinolentas (vidé o choro sentido de Margaret Thatcher na morte do cristão Augusto...Pinochet.)
É preciso ser-se muito imbecil para pretender ofender as pessoas escrevendo o seu nome com minúsculas. Quando um idiota escreve nomes próprios com minúsculas ou substitui a numeração romana pela árabe, não se trata apenas de um erro gramatical ou de ortografia, próprias de um ignaro — é parvoíce pura e simples. E com parvos eu não discuto.
Nestas conversas acho sempre extraordinárias as referências à Inquisição (um tribunal régio) e aos ditadores cristãos: a régua usada para os medir não pode, com certeza ser a mesma com que se medem ditadores ateus.
Os ataques de alguma esquerda á Igreja, são o que de melhor e pior lhe poderia ter acontecido.
De melhor, porque permite aos que não querem falar do assunto colocar a discussão num território em que o antagonista é um 'inimigo' ancestral, chame-se ele esquerda, comunismo, ou o que o valha - os dados deste jogo são conhecidos e viciados.
De pior, porque permite que se trate uma situação gravíssima como se fosse normal, chegando-se ao absurdo de dizer que a Igreja é constituída por homens e mulheres, e portanto não lhe peçam moralmente mais do que pedem ao comum dos mortais. Se a Igreja é para ser moralmente julgada como o comum dos mortais, então para que diabo se quer distinguir deles existindo? Não devem as referências ser de natureza mais sólida que os seus destinatários?
Realmente essa questão da Inquisição deveria calar para todo o sempre a Igreja Católica. É um argumento definitivo. E qualquer Português, com o passado esclavagista do Império Luso, está impedido de se pronunciar sobre os Direitos Humanos, onde é que já se viu antigos esclavagistas perorarem sobre Direitos Humanos… E já agora não se percebe o porquê da existência da História das Mentalidades. As boas e preclaras criaturas analisam factos com centenas de anos, à luz das suas brilhantes e puras mentes actuais. O D. Nuno Álvares Pereira, por exemplo, foi o primeiro grande latifundiário opressor do povo que trabalhava a terra. Um fascista, portanto.
Ó FNV, ainda focando o tema do post, o seu elemento literal (a sua interpretação é livre): eu não tenho medo nenhum deste Papa, nem de outro qualquer que venha, e duvido que alguém tenha razões para ter medo. Já passou à Igreja qualquer veleidade de modificar o mundo ou aumentar o tamanho do rebanho. Este não é como o outro, o montanhês, o carismático, o legionário de Cristo. Este que lá está é académico e parece que, sendo tal coisa, apenas quer acabar com folguedos que distraiam as suas ovelhas da catequese. O meu único receio é que com esta depuração se venham a acabar os feriados religiosos, sobretudo o Natal, que é a única altura do ano em que recebo camisolas e meias novas. Pronto, Paz na Terra e Aventurança. Aqueles gajos que querem prender o papa querem é publicidade. Não é por serem ateus, é por serem parvos. Cambada de paneleirões, como diz o professor Arroja. O resto… por alguma razão se diz que à mesa não se deve falar de religião, nem de doenças, e sobretudo nunca de doenças da religião.
Ouvi esta manhã na rádio um tal Stevens, advogado inglês. O palerma pretende "deter" o Papa quando ele visitar a Inglaterra, em Setembro, e levá-lo a "julgamento" (?). Como a palermice é universal, admiro-me que a palermas como ele, de cá, juntando à palermice a estupidez natural do indígena, não tivesse ocorrido a mesma coisa, de preferência a realizar no Terreiro do Paço num espécie de auto-de-fé ao contrário. Estes coirões esquecem-se que o Papa simboliza uma tradição milenar estruturante daquilo que é ou resta do Ocidente. E que não é uma meia dúzia de parvalhões espalhados pelo mundo que, com o apoio entusiasta do analfabetismo funcional dos media pagos pelo neo-fascismo jacobino em vigor, vai acabar com isso "prendendo" o mais alto representante da Igreja católica ou anunciando por aí tal ridícula pretensão." Olhe Caramelo, tem toda a razão, ainda nos quilham os feriados e olhe que até há palermas que acham que alguns são inócuos.
A dos autos-da-fé ao contrário não lembra ao diabo mas deixá-lo(s). De diabos e diabretes eles lá sabem, os que são inócuamente entendidos.
E há palermas mais palermas que a palermice ( assim a modos que "mais papista do que o Papa") que se pudessem, ai se pudessem...a 15 de Agosto...a 25 de... a 8 de... a 13 de... qualquer data era boa...
Mas esses tempos já se foram, safa! Livremo-nos é, desde já, do neo-fascismo jacobino, o Terror!
O mal é muito antigo. Ao longo da História o homem religioso não esteve tão distraído que não fosse capaz de reparar que os seus grandes problemas tinham sempre ligações a "instintos" e "naturezas". Naturalmente, soube sempre o que devia fazer. Sentia que devia carregar a cruz do "silêncio" e "obscuridade" às costas. Os seus ombros não eram menos capazes que os do Salvador. Mas no momento em que a carga se foi tornando cada vez mais pesada, um tal arrepio de solidão o atravessou mas, agora, todo o calor do Salvador não chega para o aquecer. Não, até lhe faz mais frio. Daí não ser aconselhável congelar os problemas.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.