Estava a escrever a minha crónica da
Ler ( a que saiu este mês) com o livro do
Eduardo a um canto de uma das mesas, já lido e relido. O título pareceu-me estranho, mas depois aceitei-o como uma inevitabilidade: é preciso pensar, reunir e publicar. Breve: ensinar. Seja.
Um arte inútil, próxima da taxidermia, ou da
arte de embalsamar ( como Nina e Filipe Guerra traduzem a opção de Mandelstam) bem definida por Herberto Hélder:
Um homem escreve um poema para se opor à vida e ao mundo. E mais nada.
Cada vez procuro mais a síntese alucinada e perfeita, e por isso muitos dos poetas do
divan do Eduardo dizem-me pouco. Gostava de lá ter visto Bettencourt e Mesquita, por exemplo, mas pouco mais. Somos portugueses e palavrosos.
O que não é nada palavroso é o ritmo do Eduardo Pitta. Textos curtos com notas biográficas sucintas e crítica metálica. Belíssima homenagem a António Botto (
atropelado por um carro do governo), contida e simpática referência a Assis Pacheco ( coimbrão que viveu em casa da minha sogra), curta exploração do meu opiómano luso preferido ( Pessanha).
O livro não pretende ser um estudo literário exaustivo - é um conjunto avulso e distendido de crónicas e opiniões -, antes um arquivo pessoal do tempo da poesia portuguesa moderna. E neste anaeróbico clima de imbecilidade, um arquivo assim elegante é oxigénio.