Na Apúlia faz-se um curso de português planeado. À entrada, antigos moinhos recuperados para residência de veraneantes com bom gosto e dinheiro grosso. Depois uma recta manchega com botecos nas laterais. Mais à frente, restos de projectos turísticos, entre o amarelo-mar e o branco-alga ( podia ser uma terra do 2666). Ao fundo, um semi-parque verde Programa Pólis-requalificação: um pedaço de relva sintética, uns balouços ( onde brincavam três crianças ameaçadoramente iguais) e uma esplanadinha com amurada em madeira. Tudo à volta de sete ou oito barcos de pesca, a seco depois da faina cujo produto é vendido em dez barracas alinhadas. No limite, uma belíssima pensão do início do século XX, mais escaqueirada do que o défice, habitada apenas no rés-do-chão onde bispamos galinhas e rafeiros. Indo para dentro, a vida normal: uma igreja, uma escola, as casas dos pescadores e comerciantes, limpas e funcionais, uma agência bancária, uma ervanária e uma esteticista.
A Apulia é como descreve! Mas mergulhar nas suas águas, perdendo o tempo de salto e levando com toda a fúria do seu rebentar,empurrando-nos em cambalhotas submersas, largos metros para os baixios. Enchendo-nos de areia que incomodam dois tomates gémeos e com aroma de iodo que nos limpa o catarro citadino. Matamos a fome depois dos moinhos antigos no restaurante A Cabana, onde uma mão cheia deles, num ombro a ombro sem amizades pelo meio. Chamam os clientes num Domingo a abarrotar de comilões. Pedi robalo garantidamente saído do mar ainda o Domingo não tinha aberto os olhos. Já é um costume este cantinho para almoçar ou jantar. E enquanto o peixe não chega, petiscamos uma chouriça assada partida em bocados e umas azeitonas pretinhas como a noite, com um branquinho bem fresco para empurrar este veneno que não mata, mas pode deixar marcas. As pessoas acotovelam-se neste cantinho cheio de história com as paredes decoradas com os artefactos da pesca e garrafas mais velhas do que eu. Uns enchem a sala, outros esperam cá fora pela sua vez. É, um toca a sair e outros a entrar. Muita fama dá para isto!
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.