Num país em que qualquer par de jarras numa cerimónia qualquer inventada consegue reunir televisões, rádios e jornais de todo o tipo, surpreende que a procissão das velas realizada por 40 a 50.000 crentes na baixa do Porto, a 31 de Maio, não tenha sido noticiada no Público.
É público que sou defensor, adepto, leitor diário do Público, mas fiquei, durante toda a semana, estupefacto com a omissão noticiosa: 50.000 pessoas realizam uma procissão no centro da segunda cidade do país, e isso não merece uma nota de rodapé no jornal que leio?
Um leitor, Miguel Alvim, foi mais expedito do que eu e queixou-se ao Provedor do Leitor do Público, José Queirós, que achou naturais as explicações do jornal, uma coisa mais ou menos assim à Sócrates: não tinham sido informados nem oficial nem particularmente. Não teria sido uma omissão deliberada mas pura "ignorância", que se manteve a semana toda. O Público diz ainda que não noticia procissões (não vão confundi-lo com um jornal de bairro...), mas... 50.000 pessoas no centro do Porto?!? Não é notícia?!?...
Confesso, a favor do Público, que preferia que o jornal tivesse admitido não achar importante que cinquenta mil pessoas católicas tivessem ‘desfilado’ no centro do Porto a admitir a ignorância e desconhecimento. Era até mais credível o registo tendencioso, pelo menos para quem acompanhou as reportagens da vinda de Bento XVI a Portugal.
Mas o Público preferiu dizer que não sabia, que não o avisaram. Mas só publica as notícias que lhe mandam previamente? As que recolhe na Lusa? Isto é explicação que se dê? Fulano despista-se na A1 mas não avisa antecipadamente o jornal, Beltrano faz-se explodir em escola secundária e não avisa previamente o jornal – isto não é noticiado? E quando o Publico leu a notícia nos jornais, nos outros jornais, nos que estiveram atentos, também não achou relevante contar a coisa aos seus leitores? E nem repreendeu os seus repórteres pela omissão? Juntam-se 50.000 pessoas no Porto e nenhum soube? Estava tudo a dormir? Que raio de gente trabalha ali?
O Provedor do Leitor (do Público, Domingo, 6 de Junho), supostamente condescendente, acha que houve “apenas ignorância”. “Não se sabia, não se podia adivinhar” (critério que deita por terra toda a informação noticiosa sobre o 11 de Setembro, só para evidenciar o ridículo...). Considera também que a Igreja Católica não divulgou bem a procissão e acha que deve rever os seus “métodos de divulgação noticiosa”.
O Provedor do Leitor do Público não está a ver bem a coisa: a Igreja Católica reuniu, sem divulgação, 50.000 pessoas no centro do Porto, segunda cidade do país. O Público, cuja tirada média diária de Abril é de 50.456 exemplares, não disse nada sobre o assunto aos seus leitores.
Dever-se-á concluir que se todos os leitores do Público saíssem à rua, sem avisar, isso não seria notícia?
O Público é muito mais do que isto e o público do Público merecia e está habituado a muito mais. Jornal e Provedor deveriam estar mais atentos.
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