Era uma mulher, de quarenta e poucos anos, com aquele ar de vida a meio e uma grande vontade de ser amada com força. Sei que não sabia estacionar e pelos vistos também não sabia cozinhar. Às vinte e duas horas foi à varanda. Estava calor e queria sentir qualquer coisa no peito. Viu o filho, na rua, abraçado à namorada. Largou duas lágrimas, pequeninas e redondas, que apanhou com mão direita. Vemos tanta da nossa miséria na felicidade dos outros.
Os outros são implacáveis espelhos - de certeza que alguém mais douto ou boémio já disse isto ou algo parecido mas não fiz pesquisa para o verificar. E tanto mais quanto mais próximos de nós - do nosso coração, da nossa (para quem, como eu, acredita) alma! Também alguém, douto e boémio, nos diz que esses são esses quem mais fundo magoam, especialmente sendo felizes sem precisar de nós.... E parece tão agudo, ou sentimos a dor tão forte especialmente nestes tempos onde não se autoriza viver em desesperança - então o progresso não trouxe drogas, tantas psicoterapias 'pop', yogas e ginásios, dietas e tantas bondades laicas derivadas de 'auto-conhecimento'....
No que julgamos por felicidade dos outros vemos a que consideramos nossa. Pode ser actual, memória ou desejo nunca cumprido. Às duas útlimas podemos chamar miséria. E não estaremos a ser pouco rigorosos.
Achei incontornável esta expressão: "Era uma mulher, de quarenta e poucos anos, com aquele ar de vida a meio e uma grande vontade de ser amada com força." É óptimo quando nos encontramos nas palavras dos outros. Sem mágoa.
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