Não sabem o que é (só) ambicionar coisas que não dependem de humanos? E tão simples. Ainda ontem um conhecido historiador terminava a sua crónica ( textos de despedida?) explicando que somos todos produtos do acaso. É apenas um começo. Ao longo de anos a ouvir histórias de pessoas, e a cuidar da minha, constatei que ambicionar ferozmente o que depende dos outros, e de nós, é um javali mágico.Como os velhos vikings, comemos e nunca nos saciamos. Pode ser um deus, podem ser mil, pode ser uma força distante que nos vigia através das borboletas. O importante é que não a controlemos e nos sintamos pequenos e irrelevantes - só assim a ambição perde o seu efeito tóxico.
FNV, quase tudo o que ambiciono depende de humanos, e digo quase porque me pode dar na veneta um dia de desejar um passeio às florestas virgens do Bornéu. Como não me foi dada a graça de ser religioso, e não consigo por isso ambicionar o céu, tudo o resto depende de humanos: o sorriso do meu filho, bem como a sua saúde e a saúde dos que ele ama e de quem precisa, necessitam de um comité que inclui o próprio e mais quem estiver de plantão; um livro, que não seja gerado por escrita automática; um sofá bem construído para ler sem dores nas costas, etc. etc, Até a imobilidade depende de humanos, se virmos mais de perto. Portanto, alguns desses desejos arriscam-se a tornar-se mais dispendiosos em energia humana e dinheiro do que a ambição de arroz de lampreia e um chateau laffite, seguido de um malte de trinta anos à lareira, no Inverno, coisa que eu ambiciona e ambiciono e continuarei a ambicionar. Continuo com dificuldade para entender esse teu desapego de coisas que dependem de humanos. Com mais propriedade se chamaria essa tua série “diário de Diógenes”. Quem é o tal Bazaine, já agora? Aquela tua tirada da “esquerda materialista” está bem esgalhada, a sério que olhando agora me deu vontade de rir ;) também ambiciono rir-me, e isso, não sendo eu maluco, depende muito dos humanos.
O que depende de humanos pode ser definido pelo que diz que "não depende de humanos" o que é uma incoerência. "O importante é que não a controlemos e nos sintamos pequenos e irrelevantes". Se depende de humanos não a controlamos e porque não a controlamos sentimo-nos pequenos e irrelevantes, pior somos pequenos e irrelevantes. Ora, explique lá outra vez como se eu fosse muito, muito burra. (por acaso já percebi mas é tão utópico, que não existe). Eu neste momento decidi não ambicionar nada que dependa de humanos e é só vantagem mas se gostar de alguem perco este estado não de felicidade mas de não infelicidade. Segundo a Ana deve-se ser infeliz ou feliz mas não "não infeliz", que é o estado em que não se depende de humanos. E agora se perceber é tão inteligente como ...uma mulher.
Se bem entendi, refere-se à consciência da precariedade humana. A sabermos que não existe "um sentido" que tudo justifique, ou pelo menos explique. Nesse caso, este é um texto "religioso" - existem sentidos para «um deus, mil deuses, uma força distante que nos vigia através das borboletas», mesmo que os mesmos façam parte de um "desígnio insondável". É isso?
"Quando somos convidados para um jantar, não exigimos ao nosso anfitrião este ou aquele prato; mas na vida pedimos aos deuses o que eles não dão, apesar de eles já darem muito".
Então a frase que resume o seu pensamento é de um estóico que não escreveu nada? Quem diria. "na vida pedimos aos deuses o que eles não dão". O problema é que as vezes deus/deuses dão aquilo que pedimos e afinal não era mesmo isso que queriamos. Vou ser Epicteto.
Eu sei que Sócrates não escreveu nada mas para que precisava de escrever se continua a ser uma verdade incontestável que o mais difícil é "conhecer-te a ti mesmo"? E se não resume o seu pensamento, é pena. E se nos estava a dar a conhecer só Epicteto, resumindo ou não o seu pensamento, eu gostei. Gosto de aprender, nisso sou, tem razão, liceal. Se quer mesmo saber eu tenho uma frase que resume mesmo o meu pensamento (fora a impossibilidade sócratica, claro): o "meu afrodisíaco (eu sei que não há afrodisiacos) é mexerem-me com os neurónios". Aprender, ter outras versões da realidade, descobrir outros filósofos ou "moralistas", discutir, "open mind", "brainstorming", janela para o mundo, com sentido de humor, estava a ver se o seu blog era um pouco disto tudo. Se a atitude for de homem rezinga, que interpreta mal as coisas e se zanga olhe que destes eu já tenho a minha dose em Coimbra e não quero repetir. Sabe que isso é sinal de envelhecimento? Mantenha-se liceal.
Mas somos espirituosos e citamos Epicteto. Temos o maior indice de citações de Epicteto per capita. É o resultado de termos também, de longe, o maior índice per capita de Maria Helena Rocha Pereira. As moças, em casando aqui, não vão mal servidas do Epicteto. O Socrates não escrevia porque pura e simplesmente era contra a escrita. O Epicteto, não sei. Fico então sem saber o que será (só) ambicionar coisas que não dependem de humanos. Oh, well…
"Temos o maior indice de citações de Epicteto per capita." Eu tb "ambiciono rir" e esta fez-me rir. 2 citações de "caramelo" por comentário. Não está mal.
FNV, para perito em armamento, atiras tanto ao lado que qualquer dia a malta coimbrinha tem de fugir em revoada para os arredores. Ora é o esquerdista materialista, ora é o-tipo-que-acha-o-epitecto-elitista. Tu imaginas-me de camisa de flanela aos quadradinhos e a tomar banho com sabão macaco, é o que é. Não vias que estava a brincar? Coisa de que eu nunca me farto é do Epicteto. Como uma vez disse o Teodolito de Samotrácia, hehehehe digo eu. E quero lembrar-te que ficaste de debater comigo essa cena do post, depois de vires do trabalho ontem. Deixa lá. Obrigado, henedina, é assim mesmo.
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