O difícil é ser justo e tolerante com um miúdo quando estamos cansados e aborrecidos e não o mimarmos qundo estamos eufóricos. Quando eles crescem ( a partir dos 8-9 anos) já é outro campeonato, mas até lá, do ponto de vista da disciplina, é como com os cachorros: carinho e regras independentes dos nosso humores.
Também devia ser assim que eu devia tratar os homens, mas... (deixo ao seu critério se isto quer dizer - como aos cachorros - ou - carinho e regras independentes dos nossos humores).
Agora a sério, com as crianças claro que é difícil e apartir dos 5-6 anos eles percebem que há alturas do dia mais fáceis. Antes, é preciso ser coerente mas se por vezes o tratamento não é o mais adequado aprenderam que somos humanos não lhes faz muita diferença, o que é preciso é sempre mostrando carinho mostrar tb firmeza em regras simples.
para mim a verdadeira pedagogia consiste em nos mostrarmos pais imperfeitos [que se alegram, se aborrecem, se cansam, que são enérgicos, às vezes insuportáveis, mas sempre presentes]com um q.b de disciplina, «nãos» e palmada no rabo e um q.b de afecto genuíno e mostrado directa e concretamente. no resto, deixar os filhos em paz: a vida que trazem neles também os ajuda a medrar.
Há aquela coisa chamada educação que nos diz que não nos devemos portar (para com os outros ou para nós) tal como nos sai das ganas.
Essa de nos mostrarmos pais imperfeitos... Isso já o vamos ser, quer queiramos quer não. Esse desconto devemos usá-lo depois de falhar a paciência, não para justificar a falha que quero cometer.
essa do «não nos devemos portar» é engraçada, mas está escrita nalgum lado?
quanto ao desconto foi a rr que falou nele, não eu. a pedagogia actual sofre de ideais de perfeição assustadores: pais perfeitos a criarem meninos perfeitos, puercentrismo (tudo gira à volta do catraio), nenhuma tolerância à frustração (quem disse que ser impaciente com um filho é necessariamente mau?!!), só diálogo e nada disciplina... enfim, uma pedagogia algo desequilibrada. mas uma coisa é certa, não chega recorrer ao dever para se ser bom pai. repito, para mim três ingredientes são fundamentais: 1) afecto genuíno q.b. com supervisão muito próxima; 2)disciplina q.b que educa para a aceitação da frustração; 3)liberdade amorosa para deixar os miúdos crescerem em paz. ser pai imperfeito é ter claro estes critérios e, ainda assim, não ter medo de mostrar uma ampla gama de experiênciais emocionais adequadas: às vezes cansado, outras vezes triste, outras alegre e satisfeito, outras zangado, outras carinhoso, outras brincalhão, etc. quem se norteia pela educação do dever não atinge isto, pelo contrário, espartilha o crescimento dos filhos e não dá margem nenhuma a coisas tão básicas como a espontaneidade falível, a liberdade que corre alguns riscos, a presença constante que assume a responsabilidade pessoal de educar quem se pôs no mundo. cumprimentos
Ao contrário do que dizem alguns desmiolados fanáticos, aqui há debate e do bom. rr tem razão, já somos imperfeitos.Tens razão no resto Não percebi bem o teu ponto 3. Uma vez, tinha o meu filho mais velho uns 6 ou 7 anos, chamei-o e pedi-lhe desculpa apesar de minutos antes ter berrado com ele e exercido a minha autoridade apenas porque quis descaregar . Ainda me lembro da cara dele.
Bons tempos, aqueles em que não havia tanto pedagogo amador, tanta filantropia pedagógica, tantos juízos sobre os outros pais e seus filhos, cada um com as suas receitas de carinho e disciplina, medidos com um doseador de cozinha. Os pais sempre viveram no arame, mas agora, com tanta gente a soprar de um lado e do outro, o equilíbrio torna-se mais dificil. Eu também tenho a percepção de que as crianças se tornaram mais agitadas e ruidosas. Se são mal educadas ou não, depende do juízo de cada um. Também olho e faço os meus juízos sobre as relações entre os outros pais e filhos e comportamentos de uns e outros. Mas ter um filho dá um certo pudor nessa avaliação. Por certo tenho que não é excessiva educação censurar a educação que os outros dão aos filhos. Tenho em casa um relato de uma inglesa sobre Portugal, publicado no início dos anos sessenta, em que a mesma, francamente impressionada, dizia que as crianças portuguesas eram demasiado melancólicas e obedientes (os termos em inglês dão mais ou menos isto). Isto dito por uma inglesa, certamente upper class, diz muito. Muitas dessas crianças transformaram-se naqueles que agora lançam olhares assassinos aos pais das crianças que arrastam um bocadinho a cadeira nos restaurantes ou dizem um bocadinho mais alto que não querem o esparregado. Quer-se estar em espaço público como se estivesse num concerto de música de câmara numa igreja barroca. Nunca sendo grátis os conselhos, o que seria pateta, só posso concluir que as pessoas sentem de facto o seu sossego ameaçado pelas crianças dos outros, ou então vêm o futuro deste país ameaçado por causa disso. Esta última é tragicomicamente irónica, claro.
É sobre o post e os comentários: pais incompetentes e filhos mal criados e o que deve ou não deve ser e como e quando, com que doses, como e em que momento se deve ser perfeito e imperfeito, etc. coisa que atingiu o zénite no comentário do rr, mais do que no post. Não sendo o post e alguns comentários puramente confessionais, entrando na esfera das relações dos outros pais com seus filhos, suponho que os autores queiram dai retirar algum proveito e era com isso que eu concluía. É a nossa comunidade que está em risco, ou é mesmo o futuro da sociedade? Pronto, com esta síntese já encontraste alguma coisa de útil com que comentar o meu comentário?
Não há pais broncos e filhos grunhos? E há avião para lá? Em qualquer crítica de costumes ( bem me lembro de uma acerca da classe de muitas das actuais estudantes de Coimbra) fazes o mesmo número: generalizamos, somos todos uns reaccionários que só dizemos bem do antigamente. Não tenhas medo. Pode-se criticar parcelas do presente sem que isso signifique o endeusamento do passado.
já tinha tido oportunidade de expressar o meu acordo no post original e de acrescentar que mutatis mutandis o mesmo se aplica à relação professor-aluno. Um professor que chama besta ou cavalgadura a um aluno está à espera de quê?
debate muito bom, sim, filipe. rr tem razão e o filipe tb: já somos pais imperfeitos. mas o meu ponto é o de que é importante mostrar que o somos e, como no exemplo que deu do pedido de desculpas, mostrá-lo, independentemente do catraio de 6/7 anos ficar de olhos arregalados quase sem perceber: o progenitor que se mostra imperfeito é tb mais humano e confere mais dignidade ao seu filho. pois apesar da assimetria na relação há uma simetria na dignidade que é fundamental cultivar. o meu ponto 3, filipe, parece-me que é o cerne da pedagogia actual: aqui em lisboa não se vê uma criança sozinha pela rua [e ainda bem], nenhuma delas vai sozinha para a escola [e ainda bem: vivemos num mundo progressivamente perigoso]; no meu tempo, ia do bairro de s. sebastião para a escola primária dos olivais [cerca de 1,5 km a pé e sozinho ou com colegas, dependendo das circunstâncias]. este facto, hoje, seria considerada negligência parental. naquele tempo era uma liberdade que em certa medida usufruíamos. o meu ponto 3 quer dizer que nas circunstâncias actuais é importante que criemos experi~encias de liberdade para os nossos filhos, mas uma liberdade amorosa, atenta, não negligente, que contemple alguma autonomia, mas que não roce a indiferença ou pior ainda, o desapego. por exemplo, se o meu filho adolescente quiser ir à discoteca e regressar a casa a meio da noite o que faço? deixo-o ir, permito-lhe autonomia, liberdade, mas não vou deixar que chegue às horas que quer nem que chegue nas condições que quer, nem que consuma o que quiser [tudo isto seria negligência parental] nem que vá com todas as companhias. pelo contrário, marcarei [negociarei, até] uma hora para chegar a casa, eventualmente irei buscá-lo à hora e ao local marcados, verificarei com quem foi e o que fez [não como quem controla, mas como quem se responsabiliza e partilha da vida do filho]. ou seja, supervisiono a experiência: daí a expressão «liberdade amorosa», ou seja, dar autonomia, mas estar presente com desvelo e responsabilidade.
caramelo, peço imensa desculpa mas ou você tresleu ou eu não me expliquei bem. de todos os modos, parta do princípio que sou uma pessoa inteligente, tolerante, que tenho dois filhos, que tenho estudos na área e, sobretudo, que tenho cabeça para reflectir sobre o que vivo e sobre o que me rodeia. saudações.
Então, mas eu não disse que tu nesta matéria és saudosista, FNV. E ser saudosista não tem mal, eu sou saudosista de gelados de pau e filmes da shirley temple domingos à tarde. Tu comigo estás à vontade para ser saudosista, descontrai ;). Saudosista nisto é o autor do post. Já reparaste que no post se diz que os pais mudaram? Para melhor claro. Se bem que não percebo como se podem tornar pais diferentes os filhos que seguem o exemplo dos pais, como aí se diz no fim, mas como isto não é ciência exacta, fica tudo bem na mesma. Pais e filhos grunhos, é claro que há. A questão é que sempre houve. São é diferentes tipos de grunhice. Outro assunto, de que aqui falamos, são as receitas para a educação e a forma como percepcionamos os comportamentos dos outros.
José Serra, o meu comentário não era dirigido a si, desculp+e se dei essa impressão; quando o escrevi nem sequer ainda tinha lido o seu último. E, já agora, acho a sua opinião muito sensata, nos dois comentários.
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