Estacionamos o carro sem dificuldade. Na longa esplanada cruzam-se casais com um bebé, daqueles que estão a começar e não têm preocupações com o início das aulas. Na linha do horizonte, em vez do aglomerado berbere típico de Agosto, apenas um pequeno acampamento em redor de uma bandeira vermelha. Beau Geste não dá sinal. Iniciamos a travessia da praia acompanhados pelo vento, que ignora a morte da estação. Os salamaleques habituais com a dona da concessão, que retribui a saudação sem nos recomendar a Alá, uma mulher vermelha e sem pescoço que nos conhece desde os juniores. À vista, meia dúzia de tendas, tipis Cree às listas azuis e brancas, algumas amarelas e brancas. São chapéus tradicionais com uma saia de roda e o pacote dá direito a duas cadeiras de realizador com a madeira lapidada pela nortada. Espalhados os pertences, sento-me numa das cadeiras, ponho os óculos escuros, acendo um cigarro e imagino-me o Nicholas Ray a filmar o Bitter Victory. E sou. A praia é quase minha. É a minha vitória sobre o Verão. No bar de apoio, apenas dois grupos de espanholas. Bronzeadas e bem arranjadas, bebem cerveja com moderação como se respeitando o deserto. Mais para a frente, na outrora congestionada zona concessionada, quatro barracas com famílias de Viseu ou Tondela e sotaque a condizer. Numa das barracas, três velhas discutem uma dona Odete que não tem vergonha de ir meter no ouvido da São tudo o que dizem dela. E dizem muito. No meio das velhas, um velho de boné e cataratas nos olhos dorme sentado. Não há corpos frescos nem telemóveis. A luz sossega e a grande praia prepara-se para as gaivotas. As barracas amarradas e alinhadas parecem hussardos sem as barretinas. A mulher vermelha e o filho fecham o bar, resmungando a sorte e a crise. Já na passadeira, viro-me para trás e respiro o fim.
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