Mar Salgado

quinta-feira, setembro 30:

QUASIMODO, SEMPRE:

Fez parte do grupo da Solaria, foi membro do Partido Comunista Italiano e professor universitário em Milão. Um bocado pesado de fórmulas para o meu gosto, o siciliano tem, no entanto, linhas geniais de síntese. Em Del Mio odore di uomo ( 1936):

Negli alberi uccisi
ululano gli inferni:
dorme l'estate nel vergine miel
il ramarro nell'infanzia di mostro.

Na minha louca tradução livre:

Nas árvores degoladas
o inferno explode:
dormita o Verão sobre o mel virgem,
e o lagarto verde na infância do monstro.

 

posted by FNV on 10:10 da manhã #

Comments:

Não tens que te envergonhar, a tua tradução está melhor que o original. Contrai-se no segundo verso, para se estender gloriosamente nos dois últimos. Parece-me que escrever poesia é ordenar o mundo, e traduzi-la é reordená-la. Já aqui tens trabalho suficiente nesta tarefa, não devias dispersar-te ;)

# posted by  caramelo : 12:32 da tarde

 

óptima tradução, filipe. a minha versão, quiçá mais literal, rezaria assim:

«Nas árvores abatidas
uivam os infernos:
dorme o Verão no mel virgem,
o sardão na infância de monstro».

prefiro «de monstro» a «do monstro». ou seja, o sardão [preferível a «lagarto verde»...] dorme na sua infância de monstro.

por outro lado, o filipe ao escolher «degoladas», apesar de se afastar um pouco do original, tirou-me a palavra da boca... é que está mesmo bem escolhida [é muito mais forte do que o meu «abatidas»].

abraço

# posted by  José J.C. Serra : 1:59 da tarde

 

Também pensei em sardão ( e em réptil) mas não consegui enfiá-lo. É demasiado concreto, não sei se me explico...
A tua de mosntro é bem vista e respeita mais o sentido orginal. Eu é que me deixei levar (traidor) e surrealizei.

# posted by  FNV : 2:05 da tarde

 

Acho que não vem aqui mais ninguém, mas queria dizer mais umas coisas.
José, traduzir "ramarro" por "sardão", soa-me a tradução automática. Mal comparado, seria como traduzir “Chianti” por “João Pires”. E eu gosto ali do "lagarto verde", também porque gosto daquele verso mais comprido.

Por outro lado, prefiro ali o seu “tombadas”, ainda que menos forte, do que “degoladas”. Uccisi significa assassinadas e a poda, se for bem feita, não assassina as árvores. Normalmente, de pé morrem as árvores naturalmente.

Concordo consigo quanto ao “de monstro”. Mas o “do monstro” também não me parece mal.

# posted by  caramelo : 2:42 da tarde

 

gratiblcaramelo, olá. não há tradução automática: «ramarro» ser sardão ou lagarto verde é a mesma coisa. se escolhe o primeiro por dar mais comprimento ao verso é óptima escolha. se escolhe «sardão» por ser melhor que lagarto verde - por correr o risco de ser tautologia [do género morango vermelho ou laranja cor de laranja] tb está ok. foi o que eu fiz.
agora, «chianti» não se traduz, como sabe. a comparação teria de ser entre vinho chianti ou tinto chianti, acho eu.
e não escolhi «tombadas», como diz, mas «abatidas». este último termo tem duplo sentido: árvore tombada, sim, mas também árvore «uccisa» [por exemplo, pode dizer-se «abateu um homem a tiro»].
acho interessante que tenha lido no verso a imagem de uma poda. eu não. mas a beleza da poesia reside precisamente nesta pluralidade de interpretações. seria preciso conhecer o contexto externo do poema [o livro em que foi publicado, o ano, o local a que se refere o autor, se tinha alguma imagem específica em mente...] e o contexto interno da quadra para verificar o significado das «alberi uccisi».
obrigado pelas reflexões. abraço.

# posted by  José J.C. Serra : 5:49 da tarde

 

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